No fim da década de 1980, quando as famílias eram mais numerosas e grande parte da população estava concentrada na área rural de Arroio do Meio, muitos jovens deixaram de completar o Ensino Fundamental e ingressar no Ensino Médio, devido à distância dos educandários. Alguns inclusive chegaram a desistir do primário, porque as escolas eram distantes. Caminhar já era demorado e se tornava muito mais cansativo do que trabalhar na roça com os pais, o que se agravava nos dias de frio, chuva ou de calor excessivo. Apenas as famílias mais estruturadas conseguiam proporcionar a continuidade dos estudos aos filhos.
Eis que em 1989 o então prefeito Paulo Steiner, em seu primeiro mandato, cercado por professores coordenados pela então secretária de Educação Rosali Mantelli, que já vinha atuando como supervisora, tomaram uma decisão que foi um marco a favor da inclusão educacional e democratização do acesso à escola. Junto com a municipalização da educação básica, o transporte escolar colocou Arroio do Meio em outro patamar.
Por isso, até hoje a educação do município é vista como vanguarda na Região. A medida reduziu a evasão escolar, aumentou a frequência às aulas e melhorou o desempenho dos estudantes. Todos os alunos que residiam a uma distância superior a 2km dos educandários eram atendidos por uma linha de ônibus ou kombis. Era 100% gratuito para Ensino Fundamental e subsidiado em 50% para o Ensino Médio. Lembrando que até então, apenas as escolas São Caetano e Arlindo Back tinham todas as séries do Ensino Fundamental, além do Guararapes, CNEC e Colégio São Miguel, que possuíam também Ensino Médio. O mesmo ocorria nos então distritos de Capitão e Travesseiro emancipados em 1992. “Com isso, logo superamos os 25% do orçamento do município obrigatórios para a educação. O transporte nunca foi barato. Em municípios maiores a estrutura ficaria pesada demais e em menores não havia recursos. Inicialmente procuramos as empresas de ônibus que já prestavam o serviço no município, estabelecemos roteiros e horários. As kombis escolares atendiam rotas que ficavam inviáveis para os ônibus, geralmente as estradas secundárias. O ticket com cores diferentes a cada mês era uma forma de diminuir fraudes. A colaboração dos pais foi importante para ajustes em tempos em que o acesso às telecomunicações era muito restrito. Nessa época o Guararapes teve o maior pico de estudantes, com 800 alunos matriculados no turno da noite”, detalha a ex-secretária Rosali, hoje com 67 anos, que encerrou a carreira em 2010 enquanto diretora do Colégio Bom Jesus/São Miguel.
Em 2018 o município de Arroio do Meio investiu R$ 1,36 milhão em transporte escolar, recebendo R$ 52 mil do Programa Nacional do Transporte Escolar (Pnate) e R$ 145,5 mil do Programa Estadual de Transporte Escolar (Peate), e arcando o restante – R$ 1,163 milhão – com recursos próprios.
Atualmente são transportados diariamente 1175 alunos, sendo que destes, 360 matriculados no Ensino Médio, da rede privada e pública, beneficiados com 60% de desconto no valor das passagens escolares.
Das Escolas Municipais de Ensino Fundamental 815 alunos utilizam gratuitamente o transporte coletivo escolar, por se enquadrarem na legislação municipal que prevê o benefício.
Atualmente nove empresas realizam o transporte escolar: Empresa Arroio do Meio de Transportes, Transportes Oásis, Mais Comércio e Transportes, Transportes Irmãos Cé, AF Viagens, Lanzini e Bueno, Carlos Schneider, Otelmo Jungken e Ivanir Rogério Auler. O município conta também com um ônibus escolar adquirido do Programa Caminho da Escola, que realiza roteiros do transporte escolar.
São disponibilizados 23 itinerários na sistemática por viagem (km rodado), quatro roteiros realizados por ônibus de linha e um roteiro pelo ônibus do município, abrangendo diariamente nos turnos manhã, tarde e noite, em todos os bairros do município.
As rotas são definidas considerando os alunos que residem a mais de 2 km de distância da escola mais próxima de sua casa, atendendo a legislação municipal que prevê o benefício para estes alunos. A remuneração às empresas é realizada de duas formas: por viagem, calculando quilometragem diária percorrida. As empresas prestadoras deste serviço são habilitadas através de processo licitatório, via pregão presencial. E, nos casos de ônibus de linha, o pagamento é realizado pela quantidade de alunos transportados.
Ônibus era o único meio de continuar estudando
Para a contadora Sandra Maria Warken Marques, 43 anos, que atua na gerência administrativa financeira da Bremil, o transporte escolar foi essencial para continuar os estudos que possibilitaram muitas realizações na carreira e na vida pessoal. Natural da localidade de Canudos, em Linha 32, estudou até a 5ª série na escola da comunidade. “Meu pais não tinham condições financeiras de levar a mim e meus irmãos até o Centro todos os dias. Eram 11 quilômetros. Lembro que enquanto cursava o ensino básico, afirmava a eles que queria muito continuar estudando. Não vislumbrava outra saída para o meu futuro sem estudar. Minha família não tinha terra suficiente para todos os filhos continuarem no setor primário. Depois da 6ª série estudei no Colégio São Miguel, Guararapes e CNEC. Apesar do ônibus, tínhamos que nos deslocar a pé diariamente por um quilômetro. Inicialmente de dia, depois à noite. Sabia que o esforço valeria a pena. Durante a graduação em Ciências Contábeis, optei por morar mais próxima dos locais onde trabalhava. Mas nos finais de semana, o ônibus continuava sendo essencial. Cursei pós-graduação e MBA em Gestão Empresarial, e continuo estudando. Tenho orgulho de tudo o que passei, querendo ou não, faz parte da nossa história”, compartilha a contadora.