Está programado para este sábado, dia 19, a realização do 9º Seminário Regional de Meliponicultura. O evento ocorre no Parque do Imigrante, em Lajeado e é uma realização da Associação dos Meliponicultores do Vale do Taquari (Amevat), em parceria com a Emater/RS-Ascar e prefeitura de Lajeado.
A iniciativa deve reunir mais de 500 pessoas de todo o Rio Grande do Sul, ligadas à produção e preservação das abelhas nativas sem ferrão. Nesta edição, o evento abordará uma série de conteúdos específicos e direcionados, como a confecção de caixas, que são bem aceitas pelas abelhas e têm bastante praticidade no manejo.
Em visita ao AT, o presidente da Amevat, Nelson Angnes, e o agrônomo especializado em apicultura e meliponicultura, Paulo Conrad, destacaram algumas das bandeiras e conquistas da entidade fundada em abril de 2014, que surgiu em decorrência dos encontros.
No momento uma das lutas é em torno de uma flexibilização da legislação na Sema. Atualmente o conservadorismo dos órgãos ambientais, impede a multiplicação de enxames de abelhas mirins oriundas de outros estados do Brasil no RS. No entanto, algumas destas espécies, como a Bugia de SC, além de se destacarem na produção de mel, são importantes para polinização de plantas exóticas presentes na agricultura e extrativismo locais. “São espécies que vivem no RS há muitos e muitos anos. Uma das justificativas é preservar nosso ecossistema de doenças como a varoa, o que não faz sentido. Não há o mesmo rigor com a ápis e outros segmentos na agricultura”, compara Angnes.
Outra preocupação dos meliponicultores é com o impacto dos agrotóxicos no futuro da produção de alimentos, que será pautada na Câmara Setorial do Ministério da Agricultura Pesca e Abastecimento (Mapa). Segundo eles, o governo e o agronegócio só estão preocupados com o lucro da produção de grãos e esquecendo de outros alimentos e plantas, que dependem das abelhas sem ferrão para polinização. “As abelhas são indicadores de exageros em agrotóxicos e da produção de alimentos no futuro. Hoje se paga caro pelo mel das abelhas sem ferrão, se não cuidarmos delas, futuramente os alimentos é que serão caros ou escassos. Será ainda mais desafiador multiplicar enxames”, dimensionam.
Mundialmente existem 20 mil espécies de abelhas com ferrão e 420 mil nativas. No Brasil existem 3 mil com ferrão e 300 sem ferrão e, no RS, 24. Entre as espécies em extinção no RS estão o Guaraipo, Manduri, Mandai e Jataizão (Borá). O desaparecimento delas poderá provocar também a extinção de milhões de árvores e plantas que só existem por causa da polinização das abelhas nativas. A monocultura em algumas regiões do RS e país é vista como principal fator para dificultar a sobrevivência das abelhas sem ferrão que não conseguem sobrevoar um raio superior a três quilômetros, e o uso de agrotóxicos é interpretado como predatório.
Conrad ressalva que a maioria dos meliponiculures não tem interesse econômico na atividade. Os interesses são variados, vão desde a produção de mel, multiplicação de enxames e polinização, à interação com a natureza e defesa do meio ambiente.
SAIBA MAIS SOBRE O EVENTO
A programação inicia às 8h com inscrição dos participantes e recepção. A abertura oficial com a fala das autoridades está programada para as 9h. Na sequência ocorrem palestras com o biólogo Ricardo Camargo, que abordará a nutrição das abelhas e com o criador de abelhas mais conhecido do Brasil, Ailton Fontana, que apresentará a caixa modelo AF, e diversas técnicas de manejo ao vivo, além das perspectivas econômicas e situação regulatória. O professor Sílvio Lengler, que falará do controle de qualidade do mel.
À tarde, ocorrem oficinas técnicas que abordam a produção de hidromel (Gustavo Eidt), receitas à base de produtos das abelhas sem ferrão (Larissa Raizer), multiplicação de enxames (Ailton Fontana/Márcio Moro), confecção de iscas para captura de enxames (Graziela e Gerson Krieger), características de uma boa colmeia (Rodrigo Boiarski), plantas melíferas (Sérgio Krein e Hugo Schmidt), alimentação de abelhas (Eduardo Gauer e Adreia Bins),colheita de mel (Ailton Fontana e Márcio Moro) e aquecimento elétrico para colmeias (Valmir Pedro Zuge).
Paralelamente, estará à disposição dos participantes a venda de caixas e enxames, exposição de colmeias de criadores, chimarrão, venda de mudas de plantas melíferas, distribuição de mudas de plantas e estacas, diversos expositores de material relacionado à atividade, e escolha do mel mais saborosos de cada espécie.
O ingresso para o seminário custa R$ 10 e pode ser adquirido no Escritório da Emater em Lajeado ou pelo telefone 99727-8633. Estima-se que haja, pelo menos, dois mil criadores de abelhas sem ferrão no Vale do Taquari. A Amevat está empenhada em difundir a criação racional de abelhas sem ferrão por meio de seminários e encontros.