Cem anos… Quantas lembranças a mente humana pode carregar de uma caminhada tão longa? Seu Willibaldo Guilherme Prediguer, aos 100 anos, que o diga. Tem a maior parte delas bem guardada na memória. Foram quase 70 anos vivendo somente em Arroio do Meio, 50 dos quais no bairro Aimoré. Ao longo de toda esta trajetória apenas uma vez foi a Porto Alegre e, noutra oportunidade, há muitos anos, foi até Santa Catarina, onde visitou os irmãos. Todos já faleceram, sendo Willibaldo o único dos oito irmãos que ainda vive.
Willibaldo nasceu em 14 de novembro de 1919 na Linha Barra da Seca, em Fazenda Lohmann, localidade que na época, pertencia ao município de Estrela. Os pais Valentin Henrique e Toni Gattermann Prediguer, eram agricultores.
Numa época de poucas e bem distantes escolas, durante um ano seguiu todas as manhãs na garupa de um cavalo, até a localidade de Colinas. Ali fez o primeiro ano, depois continuou em Fazenda Lohmann. Desse período não guarda registro escolar, porém lembra que foi assim, o primeiro ano em Colinas e, posteriormente, em Fazenda Lohmann e que os pais tinham alguns cavalos na área de terras que era razoavelmente grande.
Desde criança trabalhou na roça e, chegada a idade de prestar o serviço militar, deslocou-se até Estrela para fazer a inscrição para o quartel. Como naquele ano o contingente era grande, foi dispensado. Lembra que alguns conhecidos precisaram ir e um deles permaneceu por quatro anos sem conseguir visitar os pais, sequer uma vez. Tal rapaz era o encarregado de colocar a lenha na fornalha do trem.
Willibaldo casou-se com Lúcia Jung em 7 de fevereiro de 1948, tendo sido Bruno Carlos Bathke o Escrivão Distrital, em Corvo, Estrela, quem lavrou o registro de casamento. Por curiosidade, Bathke foi vereador em Arroio do Meio entre os anos de 1953-1955, na gestão do então prefeito Theobaldo Käfer.
Após o casamento passou a residir ao lado da casa dos pais, permanecendo ali por sete ou oito anos, e continuou trabalhando na agricultura. Durante este período nasceram as filhas, Gládis e Claci.
No ano de 1955 mudou-se para Arroio do Meio, atraído por uma oportunidade de trabalho na empresa Kirst e Cia. Foi seu primeiro emprego com carteira assinada, onde consta inclusive que ao ser contratado, em fevereiro de 1955, “percebia 7,50 – sete cruzeiros e cinquenta centavos por hora”. Comprou uma casa e tempos depois trocou-a por outra, também na Bela Vista. Permaneceu ali até 3 de abril de 1969. A indústria crescia e havia rumores de que seria transferida para o município de Lajeado, o que de fato aconteceu em 1971, quando a empresa inaugurou suas novas instalações às margens da BR 386, e lançou os refrigerantes com a marca Fruki.
Ao sair da empresa Kirst e Cia. conseguiu trabalho junto a outra grande empresa em ascensão, o Curtume Aimoré (hoje, Aimoré Couros), sendo admitido em 12 de novembro de 1969. Para facilitar a locomoção, já que não possuía um meio de transporte – nunca fez carteira de habilitação ou comprou qualquer veículo, pois não via a necessidade – vendeu a casa que tinha em Bela Vista. Comprou outra, entre a sede do município e o bairro Aimoré, mais próxima ao curtume. A casa era de Ivo Fucks que, ao vendê-la, transferiu-se para Novo Hamburgo. Willibaldo trabalhou no curtume por 15 anos, aposentando-se em 14 de dezembro de 1984.
As filhas casaram e a esposa Lúcia foi sempre a companhia mais presente em sua vida. Não participavam de bailes e festas, principalmente pelo fato de ela não gostar, preferiam ficar em casa. A esposa conviveu com alguns problemas de saúde (ao contrário de Willibaldo que ainda hoje, aos 100 anos, não faz uso de qualquer medicamento) e faleceu em 21 de março de 2003.
No mesmo ano, seu Willibaldo, então com 86 anos, arrumou uma nova companheira, Erna Weizenmann, moradora do Passo do Corvo. Viveu com ela no Passo até uns dois anos, quando então passou a residir definitivamente na casa da filha Gládis e do genro Nelson Lindemann, na rua Presidente Vargas, bairro Aimoré. Na mesma residência desfruta da companhia da bisneta Betina, de 6 anos, filha de Jaqueline e Maurício. Prediguer tem ainda um bisneto, Eugênio, filho do neto Luciano, que reside no mesmo bairro.
Willibaldo leva uma vida simples. Segundo a filha, ele gosta muito de dormir e levantar tarde, depois, toma umas duas ou três cuias de chimarrão. Adora conversar, recordar o passado, falar de fatos e situações ou mesmo de histórias que marcaram sua vida. Sua memória é invejável. Todos os dias come uma banana, quando não duas. Faz isso há décadas. Adora uma boa galinhada, sopa, pastel, ovo frito e linguiça. Não come carne de rês, mas peixe até duas vezes durante a semana. Adora massa com molho e não se intimida ao pedir que a filha faça algum destes pratos, às vezes até fora de hora. Apetite não lhe falta. Aprecia a cerveja sem álcool, a qual toma com frequência, mas prefere o vinho suave. Reconhece que o melhor de tudo é uma água bem fresquinha. Quanto ao cigarro, já havia passado dos 80 anos, quando resolveu começar a fumar. Foi só por um curto período, um ano talvez. “A carteira está dentro de um móvel, aguardando ser colocada no lixo”.
Eventualmente participa do grupo de Idosos Alegria e Esperança, do bairro Novo Horizonte, mas não vai a bailes. É um tanto quanto vaidoso, vai no Köhler fazer barba e cabelo e aprecia algumas peças de roupa bem mais do que outras, especialmente as camisas.
A maior parte do dia gosta mesmo é de ficar sentado na área defronte à casa, apreciando a paisagem e o intenso movimento. Percebe que o bairro cresceu muito e da paisagem antiga não resta quase mais nada. Por vezes recebe visitas, mas a maior parte dos amigos já faleceu. Willibaldo gosta de caminhar e, conforme a filha, toma bastante cuidado para não cair, utiliza o andador e quando o tempo permite, ela o acompanha numa lenta caminhada pela calçada.