O Dia do Colono remete à chegada dos imigrantes alemães em solo brasileiro, para desbravar e cultivar a terra. A data de 25 de julho lembra a chegada da primeira leva de imigrantes, em São Leopoldo. Trouxeram da Europa mais do que a vontade de ter um novo lar. Trouxeram o conhecimento, ferramentas, mudas, sementes, técnicas de plantio e a esperança de que aqui poderiam prosperar.
Muito tempo depois, seus descendentes ainda fazem da terra o seu sustento e impulsionam o desenvolvimento das suas comunidades, regiões, estado e país. São os agricultores que produzem os alimentos que vão à mesa. Ao longo do tempo, precisaram buscar seu espaço e valorização na sociedade, tarefa para qual a organização sindical foi imprescindível. Em entrevista, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Arroio do Meio (STR), Astor Klaus e o vice, Paulo Grassi falam dos desafios atuais e das perspectivas para o futuro.
AT – Como está a atual estrutura do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Arroio do Meio? Quantos associados ativos, inativos e colaboradores?
Astor e Paulo – Atualmente o STR conta com 551 sócios não contribuintes, que são as pessoas que já completaram 65 anos e, aproximadamente 140 contribuintes. A contribuição anual é de R$ 205 para o casal e R$ 125 solteiros ou viúvos. O Sindicato conta com duas colaboradoras, muito capacitadas e experientes, que conhecem todo o quadro e a realidade, as quais a diretoria é muito grata pela função que exercem. A maior receita vem do aluguel de salas para a Languiru – onde está instalado o Agrocenter e junto ao escritório do STR, onde ficam o refeitório e banheiros.
AT – Em 2020 o STR completa 57 anos de fundação. Ao longo de quase seis décadas, mobilizou centenas de agricultores, esteve à frente de várias lutas com objetivos que foram alcançados. Estamos em outra realidade, e nesta fase quais são as projeções do STR para esta década? Como pode contribuir para a agricultura familiar?
Astor e Paulo – Um dos principais desafios é manter as conquistas que já tivemos, a partir de muita mobilização e luta. Assim como lutamos para manter a condição do agricultor como segurado especial na reforma da previdência, é preciso manter o Pronaf como ferramenta que facilita o financiamento para a produção e investimento na agricultura familiar. Programas de comercialização precisam se tornar uma luta cotidiana, em âmbito de estado e município também, pois há a preocupação de que possam ser cortados.
Conseguir organização e mobilização dentro da nova conjuntura, com os sindicatos enfraquecidos nos municípios da região pela diminuição no número de agricultores familiares efetivamente produzindo, seja pelo envelhecimento ou abandono da atividade, também é um dos nossos grandes desafios.
Outra questão que nos desafia é tornar o modo de produção atual sustentável, no qual um produtor possa elevar a capacidade de produção sem diminuir a sustentabilidade da propriedade. No sistema de integração se tem investimentos a longo prazo e a produção precisa ser viável pelo custo que ela tem. Hoje os produtores que utilizam de mais tecnologia ou produzem grandes volumes recebem mais pela sua produção, pois são, de certa forma, subsidiados por quem produz e recebe menos.
Também é preciso estar atento para uma nova realidade, que não permite planejamento a longo prazo. É preciso pensar formas para que o agricultor construa sua autonomia, seja junto com outros, em cooperativas ou associações, para que a dependência de fatores externos vá diminuindo, tornando a sua atividade mais sustentável. Ao mesmo tempo é preciso pensar como construir políticas de estado para nos ajudar a viabilizar a produção. A agricultura é uma produção a céu aberto, de risco, e é essencial para a soberania de qualquer país. Um país que não produz sua própria comida depende dos outros. Nossa responsabilidade, como o Brasil é um grande produtor de alimentos, é ainda maior. Por isso é um desafio organizar a classe para ter força como categoria, na luta pela sustentabilidade da atividade, na construção da autonomia e de uma política pública, já que a agricultura é uma atividade de risco, pois sofre com as intempéries do tempo, mas gera renda, empregos e produz alimentos, que é um produto de alta demanda, de necessidade básica. Produzir alimentos é caro e há dificuldades. Quanto mais viável for a produção, e nisso entram as políticas públicas, mais em conta para o consumidor os alimentos estarão.
AT – Atualmente em quais projetos e propostas o STR está atuando?
Astor e Paulo – Além da mobilização sindical, STR tem prestado diversos serviços, praticamente todos necessários aos agricultores. Fazemos o encaminhamento de aposentadorias, cadastros florestal, ambiental e da Conab, declaração de imposto de renda, o cadastro do Incra, do ITR, prestamos assistência jurídica, terapia holística, assistência para equipamentos de surdez e convênio com a Unimed para associados.
Na questão de mobilização, sempre se participa da luta para manter o que se conquistou e também em desafios pontuais, mais localizados, como no caso da estiagem que se conseguiu o parcelamento do custeio e também a devolução do valor pago pelo milho Troca-Troca pelo município de Arroio do Meio. Estamos sempre atentos às demandas da categoria. Um dos grandes desafios do momento é fazer com que o Governo Federal tenha outra postura frente à agricultura familiar. O Pronaf está sendo desmontado e é preciso fazer o enfrentamento para que se tenha uma mudança de rumo. Este mecanismo foi criado para a agricultura familiar se desenvolver e está sendo atacado. Agora, num momento em que a economia precisa reagir, a agricultura familiar precisa ser fortalecida, porque consegue dar uma resposta rápida, emprega muita gente, produz comida, gera riqueza no comércio, faz a economia girar. A agricultura familiar precisa retomar o que foi construído ao longo do tempo, precisa ter diferenciação, ser considerada a forma de produzir, com os empregos gerados e a alimentação de toda uma cadeia produtiva ao seu redor. Muito diferente do que acontece com os grandes produtores, que concentram renda e geram poucos empregos.
AT – Como avaliam os impactos da estiagem e da enchente para os produtores rurais de Arroio do Meio, Capitão e Travesseiro, associados e não associados?
Astor e Paulo – Houve muitas perdas e não há perspectivas de apoio por parte do governo. Com a seca, o agricultor foi somando prejuízos. Primeiro com os investimentos do plantio. O milho que era, na maioria para silagem, não rendeu o esperado, isso quando não houve total frustração de safra. A silagem feita não tem a mesma qualidade nutricional, o que por si só impacta na produção, e aí veio a enchente e estragou muitos silos. Assim, logo ali na frente, vamos ter o custo de produção elevado, porque vai faltar alimento para os animais e o produtor terá de dar um jeito, mas dificilmente terá uma compensação no valor do seu produto.
AT – A data de 25 de julho é lembrada como o Dia do Colono, numa referência aos imigrantes que vieram com o propósito de cultivar a terra e impulsionaram o desenvolvimento do Brasil. Acreditam que a sociedade tem dimensão da importância da classe representada pelo STR?
Astor e Paulo – Neste ano faríamos uma programação especial, pela manhã, mas em função da pandemia não será possível. A sociedade percebe a importância do agricultor, especialmente na região, onde 85% da economia depende do setor primário e sua cadeia produtiva. A comunidade tem a percepção, mas é importante relembrar que a agricultura familiar gera renda e emprego, é um setor que produz comida, uma necessidade básica, de grande demanda e que ao redor agrega supérfluos. A sociedade ter consciência da importância da atividade ajuda no fomento de políticas públicas que mantêm, ampliam e melhoram a produção.

