Mais de um terço dos participantes da pesquisa Um Novo Olhar Sobre a Saúde do Homem, realizada em 2019, relatou não ir ao médico, pelo menos uma vez ao ano. Nesse cenário, 37% dos entrevistados com até 39 anos e 20% daqueles com 40 ou mais, admitem só procurar o profissional quando se sentem mal — esses índices sobem, respectivamente, para 47% e 28% quando considerados os que dependem do SUS, sendo mais críticos nas regiões Norte e Nordeste. A questão financeira e a falta de disponibilidade nos postos de saúde são os principais obstáculos apontados, seguidos de perto pela impressão de que, ao se sentir bem, não há necessidade de ir ao médico. Essa ilusão ou negligência preocupa ainda mais se levado em conta que 23% dos respondentes dizem substituir uma consulta por uma pesquisa na internet com certa frequência.
O levantamento, feito pela revista Saúde e pela área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril, em parceria com o Instituto Lado a Lado pela Vida e o apoio da farmacêutica Astellas, também aponta que apesar de o urologista ser visto por 37% dos entrevistados como o médico do homem, 59% não costumam manter consultas periódicas.
O urologista Cláudio Luís Loureiro, que atende no posto de saúde de Arroio do Meio e em consultório próprio, confirma que deixar os cuidados com a saúde em segundo plano é algo comum no público masculino. “Infelizmente os homens costumam priorizar o trabalho e as atividades laborais em relação à sua saúde e, comparativamente com as mulheres, procuram menos os serviços de saúde. Os homens costumam procurar o atendimento médico quando têm doença, ou quando têm manifestação de doença, e menos vezes em situações preventivas”, aponta.
Por outro lado, o médico destaca a importância das feiras municipais de saúde, consideradas uma boa estratégia para aumentar a campanha preventiva e a participação dos homens. “Temos uma participação muito importante da comunidade masculina nessas campanhas, muitas vezes estimuladas pelas mulheres. Às vezes, até são as mulheres que fazem a inscrição dos homens para comparecerem nas feiras de saúde, nas campanhas preventivas. Acredito que os homens mais jovens, os de meia idade 40/50 anos, já têm um hábito maior em relação a fazer consultas preventivas. Essa situação é mais rara nos homens de mais idade, acima de 65/70 anos. Infelizmente, comparativamente com as mulheres, os homens costumam procurar o atendimento raramente nessa situação preventiva”.
Loureiro percebe que em Arroio do Meio, onde participa de feiras há alguns anos, a presença dos homens é cada vez maior. “Cada vez que se faz esse rastreamento, se encontra pacientes com câncer e se encaminha para tratamento oncológico. Está se tornando mais raro encontrar casos já avançados em relação ao câncer de próstata e isso se deve às campanhas preventivas. Imagino que em alguns locais do Brasil isto não seja feito e que, nestes locais, as realidades sejam diferentes. Mas temos, felizmente, uma participação cada vez maior nas campanhas preventivas que o município proporciona. Acho que isso é uma maneira de melhorar esse rastreamento ao câncer de próstata e detectar doenças com mais chances de cura. É uma doença com alta chance de cura. Até 90% dos casos são curativos, desde que seja feito um diagnóstico precoce”.
Em relação ao câncer de próstata, a recomendação é de que os homens façam a primeira consulta preventiva a partir dos 40 anos, quando existe um histórico familiar da doença ou, a partir dos 45 anos, se não houver registros na família. “A incidência desta doença começa a ser significativa a partir desta idade”.
Embora o urologista não atenda somente homens, visto que é o especialista em doenças das vias urinárias, que afetam ambos os sexos, o profissional é referência na prevenção ao câncer de próstata e também é procurado pelo público masculino nos casos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), pois se manifestam nos tratos urinário e genital.
A geração mais jovem, de 20 a 30 anos, costuma ter um cuidado maior no tocante às ISTs. “Desde a sua educação, e provavelmente também teve participação das escolas nisso, foram orientados a fazer prevenção, ao uso da camisinha”, informa Loureiro. Por outro lado, o médico percebe que tais infecções voltaram a ter um espaço maior na população masculina de mais idade. “Acredito que essa população não se cuide tanto em relação às infecções sexualmente transmissíveis. Acho que cada vez menos tem sido um tabu. Os homens que procuram atendimento conversam abertamente sobre as situações das infecções sexualmente transmissíveis e ainda têm um receio muito grande em relação à contaminação e à própria disseminação do HIV”, destaca, observando que as ISTs são uma parte importante do trabalho do urologista, inclusive na questão preventiva.
Justamente pensando na orientação e prevenção, o médico defende que a primeira consulta do homem com o urologista seja ainda na adolescência. “O adolescente em fase da puberdade, início da vida adulta, quando vai iniciar a vida sexual, já poderia ter uma consulta informativa e preventiva em relação às ISTs”.
Outro aspecto que diz respeito à saúde do homem e que cabe ao urologista, é a avaliação em casos de infertilidade. A maioria dos casais que tenta a gravidez pelo período de um ano, sem sucesso, é considerada um casal que está tendo o problema em relação à fertilidade, sendo indicada uma investigação laboratorial. “Os homens, na maioria das vezes, necessitam fazer um exame chamado de espermograma, que avalia a fertilidade masculina. Em relação à fertilidade feminina, a masculina é até mais fácil. Ao contrário da mulher, que faz uma consulta antes de engravidar e pode usar o ácido fólico ou faz algum tipo de preparo para receber a concepção, o homem não tem essa necessidade. O homem simplesmente avalia fertilidade através de um espermograma. Caso esse exame esteja alterado, abre-se um leque de novos exames que são solicitados para avaliar caso a caso”.