Valorizar a história local e preservá-la é um dos objetivos do AT, atuante e sempre comprometido com sua comunidade. A partir desta edição, os leitores poderão saber um pouco mais sobre importantes ruas e bairros de Arroio do Meio, como formaram-se, suas características e também suas carências.
Com uma extensão de 1,6 quilômetros, a rua Campos Sales é uma das principais vias do bairro Navegantes. Concentra em seu trajeto desde o início, próximo ao quartel da Brigada Militar, até o fim de seu percurso, junto ao rio Taquari, casas de moradia, pontos de comércio, de prestação de serviços, a Escola de Educação Infantil Atalaia, a sede da comunidade Nossa Senhora dos Navegantes e a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Planejamento, a Campos Sales concentra aproximadamente 98 edificações, sendo 38 empresas com cadastro Issqn. Entre estas, encontra-se a Disim Soluções e Energia Solar, a Metalpedra Indústria de Pedras e Metais Ltda e a Bebidas Kunzler.
Quanto à segurança, segundo o capitão Jorge Luís Engster, da Brigada Militar, a Campos Sales pode ser considerada uma via tranquila. Não há incidência de crimes graves, e os roubos e furtos são praticamente nulos. Os registros mais comuns, geralmente aos fins de semana, são ocorrências enquadradas na Lei Maria da Penha ou as consideradas de menor potencial ofensivo, como perturbação da tranquilidade, por exemplo.
Localizada em sua margem direita, o rio Taquari está presente na Campos Sales mostrando-se ao fundo como uma plácida vista no verão, fonte de sustento com a pesca, e de lazer, com o balneário municipal, cuja rampa náutica, foi pavimentada em 2020. No inverno, ele se revela também como um adversário imprevisível na época das cheias. Quem tem morada ao longo desta rua, conhece os sinais do tempo e todas as precauções que deve tomar para evitar os prejuízos com a enchente. Porém, na cheia que ocorreu em julho do ano passado, as águas subiram depressa, tomando grandes proporções, sendo que para muitas pessoas ali, o mais valioso a salvar foi a vida.
A varredora aposentada Nair da Silva é moradora da Campos Sales há 70 anos e conta que já vivenciou muita coisa neste endereço. “Moro aqui desde que nasci”, completa. Para ela, um dos aspectos positivos recentes foi a construção da calçada em toda a margem da área de terras que fica do outro lado da rua, em frente à sua casa. Além do bom aspecto e de facilitar o passeio público, a calçada é uma opção para sentar-se com a vizinha e conversar, ao fim do dia. Mas Nair afirma que a rua ainda precisa de mais atenção por parte do poder público. “A a rua teve poucas evoluções de anos para cá”.
Sobre a última enchente, relata que a água invadiu sua casa, chegando a uma altura de um metro e meio. As coisas menores como utensílios foram levadas pela correnteza, e teve avarias em móveis como os da cozinha, do quarto e também em eletrodomésticos. Ela permaneceu na casa durante a cheia e conta que optou por não buscar ajuda junto à prefeitura após o ocorrido. Diz que foi recuperando suas coisas, adquirindo aos poucos e que agora está tudo bem.
Depois da enchente, muitas famílias precisaram se reerguer praticamente do zero. Marcada por uma comunidade unida, de fé na santa protetora de seu bairro, Nossa Senhora dos Navegantes, a Campos Sales é caracterizada também por suas famílias trabalhadoras. Conforme a assistente social do Cras, Natalia Capitanio, hoje são 57 famílias inscritas no CAD Único no município que moram na Campos Sales. Destas, nem todas são atendidas pelo Cras. “Hoje temos em torno de 20 famílias com atendimentos frequentes e de 10 a 15 que vêm esporadicamente buscar ajuda”, explica.
A pandemia e a suas consequências também fizeram sua marca nesta rua. O período de escolas fechadas influenciou na decisão de muitas mães de família em deixarem o emprego, para ficar cuidando das crianças em casa.
De volta para a antiga vizinhança
Após ter ido morar com a família na região das Missões, onde cresceu, o aposentado Mário Lopes voltou a morar em Arroio do Meio há aproximadamente oito meses. Junto da esposa Adriana e o filho Hudson, ele reside na primeira casa da rua Campos Sales, na esquina logo após a placa que a denomina. Próximo também do trecho onde houve o desbarrancamento da encosta do rio, e onde estão sendo construídos os gabiões, Mário tem acompanhado o processo de perto. Ressalta que conversou com o engenheiro responsável no dia em que os trabalhos pararam e que compreendeu os motivos, assim como sabe que logo que tudo for adequado, a obra retomará.
Para o aposentado, a cidade de Arroio do Meio é muito acolhedora e boa de morar, por isso optou por retornar. “Nossos amigos estão todos aqui”, salienta. Diz que não vê pontos negativos a serem melhorados na rua, além da obra dos gabiões. “Sobre segurança, não tenho do que me queixar. Se em breve tivermos asfalto aqui, melhorará ainda mais”.
Para o filho Hudson, de 18 anos, a questão do desbarrancamento é uma preocupação também e conta que a casa de sua vó foi uma das que precisaram ser desabitadas pelo alto risco. Acredita também que o asfaltamento é uma boa solução para as irregularidades da pista feita de paralelepípedo e para amenizar a poeira.
Obra de contenção paralisada
No fim de abril, a empresa que executava a obra de contenção na encosta do rio Taquari com gabiões, retirou as máquinas. O motivo são atrasos na análise de progressão da obra e empenho de parcela dos recursos por parte da Defesa Civil Nacional. Entretanto, a estimativa é de que a obra seja retomada em breve, sem maiores riscos em termos de perdas da estrutura de muros já instalada. O muro está sendo feito em decorrência do desbarrancamento que ocorreu durante a enchente de julho do ano passado, que intensificou danos já existentes. A obra iniciou no dia 29 de janeiro com a análise de solo. Recentemente a Câmara de Vereadores aprovou desapropriações em áreas de risco em troca de permutas com terrenos no loteamento residencial popular Dona Rita. Enquanto a obra não recomeça e nem é concluída, a rua Campos Sales segue interditada das imediações do ponto de captação de água da Corsan aos fundos da Brigada Militar.
A história da rua
A rua Campos Sales foi criada há quase 50 anos, na época em que a prefeitura implantou rede de água potável e energia elétrica. Antes disso, no local havia apenas trilhos de carroças.
Seu espaço já foi de muito movimento naquela época, onde o pasto era procurado para o descanso e alimento dos cavalos dos viajantes. Naquela época o rio desempenhava importante papel, já que a logística dependia da balsa do Passo, que fazia a viagem entre Arroio do Meio e Estrela e da Companhia de Navegação Arnt. As casas comerciais do interior negociavam com os armazéns que ali estocavam mantimentos, fator determinante para a atração das primeiras empresas que se instalaram no município no local – Frigorífico Ardomé e uma fábrica de manteiga. Por muito tempo o local foi referência para a instalação de empreendimentos, porém, com o passar dos anos, a navegação foi perdendo mercado e as rodovias tornaram-se o novo referencial para a logística, o que resultou em seu enfraquecimento. Algumas fábricas fecharam, outras se transferiram.
Quem foi Campos Sales
Manuel Ferraz de Campos Sales foi um advogado e político brasileiro. Começou na carreira como deputado provincial de 1867 a 1871, vereador em 1872, senador em 1891, no entanto renunciou ao cargo para se tornar governador do estado de São Paulo. Em 1898 foi eleito presidente da República.
Além da renegociação da dívida externa, Campo Sales combateu a inflação e a desvalorização da moeda, não emitindo mais e retirando grande parte de circulação. Após seu mandato presidencial, Campos Sales ainda foi senador por São Paulo e diplomata na Argentina.
Fonte: Brasil Escola