Em 2011, Daniel Goldmeyer, então com 27 anos decidiu abrir mão do curso de Análise de Sistemas na Univates e da rotina arroio-meense, para desbravar o mundo. Revela que, após adaptações em outras culturas, clima, transtornos, fluência e especialização na língua inglesa, e diversas vivências positivas, assim que possível, pretende voltar a colecionar experiências ao redor do mundo.
Desta vez por meio do workaway, uma forma de trabalho voluntário, em torno da troca de conhecimentos culturais. “A maioria das pessoas nunca vai conhecer o Brasil e somos muito lembrados”. Goldmeyer estuda convites para projetos na África ou para retornar à Ásia – continente que considera diferenciado pela alegria das pessoas – para lecionar a língua inglesa a crianças de comunidades. Também não descarta uma viagem prolongada, sem compromisso, só de carro para conhecer a América Latina. “A maioria das pessoas não tem coragem de viver um dia de cada vez, aproveitar locais e culturas, despreocupada com a necessidade de trabalho e dinheiro”.
Daniel revela que já foi convidado por representantes políticos locais a palestrar um pouco sobre a vida de viajante nas escolas, mas não teve a oportunidade de compartilhar sua trajetória em 32 países diferentes, devido à pandemia.
O COMEÇO E A DEDICAÇÃO AO TRABALHO E FLUÊNCIA NA LÍNGUA INGLESA – Até 2021 as experiências internacionais de Goldmeyer estavam restritas a passeios na América Latina. O convite para largar tudo e ir à Nova Zelândia, na Oceania, partiu de um amigo que acabou desistindo da trip devido a um vulcão no Chile, que resultou no cancelamento de voos. “Já estava estudando a possibilidade de fazer um intercâmbio na Alemanha ou Canadá. Acabei indo sozinho. Comprei um curso de inglês de um mês para facilitar a entrada na Nova Zelândia”.
Apesar do clima ser semelhante ao brasileiro (hemisfério sul), o país, situado no sudoeste do Oceano Pacífico, formado por duas ilhas principais, ambas marcadas por vulcões e glaciações, e a 3h de voo da Austrália, tinha características muito peculiares, até uma neve leve no inverno. O povo neozelandês foi considerado muito trabalhador e receptivo, com muito interesse nos estrangeiros. “Todos são bem de vida, a prioridade nas oportunidades é dos nativos, mas todos são valorizados”.
Além de melhorar a língua inglesa, a busca por um trabalho era fundamental para avançar no visto. Os empregos de entrada eram na faxina, limpeza e na hotelaria. Entretanto, como haviam muitos brasileiros e latinos nas principais cidades, percebeu que seria difícil apreender o inglês e acabou indo para uma cidade menor, de sete mil habitantes, ocupando a vaga de um lajeadense. Em meio ano apreendeu a se comunicar em inglês e poupou renda para conhecer os países asiáticos Tailândia, Malásia e Laos, o que melhorou sua autoestima e afinidade com a vida solitária, longe da família e amigos.
Em pouco tempo Goldmeyer teve a oportunidade de atuar na construção civil e migrar de uma cidade de 350 mil habitantes que foi alvo de terremoto. Após dois anos e meio, acabou não conquistando a certificação de especialização em obras, que era critério para o visto definitivo e precisou voltar para o Brasil.
BREVE PASSAGEM NOS EUA E RETORNO FRUSTRANTE À OCEANIA – Meses depois, novamente a convite do mesmo amigo, que estava no EUA, acabou indo para Massachusetts e Dakota do Sul, onde trabalhou numa churrascaria. Mas a experiência não foi considerada tão interessante devido ao frio intenso. “Era trabalho e casa”. Daniel acabou tentando ir dos EUA diretamente para a Nova Zelândia, mas em decorrência de problemas no visto (que ele só soube depois) só conseguiu passagem até a Fiji e foi barrado no aeroporto. “Diferentemente do Brasil, na Nova Zelândia são muito rigorosos com documentação. Até tive o apoio de uma família durante duas semanas, que me cedeu espaço para regularizar minha situação, mas acabei retornando ao Brasil”.
ATROPELAMENTO E ESPECIALIZAÇÃO NO INGLÊS – Na sequência, Daniel foi a Dublin, na Irlanda, onde frequentou três diferentes cursos de Língua Inglesa, obtendo graduação escrita em T1 e fluência na fala.
Mas, logo na chegada, acabou sendo atropelado por uma mulher que dirigia sem carteira e sem seguro, e fraturou a perna esquerda. A recuperação levou em torno de um ano. “Conseguia frequentar apenas as aulas e desempenhar trabalhos eventuais. A ajuda do também arroio-meense, Anderson Cíceri Grün, que mora na Irlanda, foi fundamental, para eu não pagar aluguel no processo do acidente”.
Recuperado, Goldmeyer se credenciou a uma agência de empregos, voltada a eventos de entretenimento e competições, entre outros serviços. “O nível de salário é interessante para quem sabe lidar com dinheiro”. Revela que o excesso de brasileiros na Irlanda, inclusive nas salas de aula, também dificultava o aprendizado em inglês. “Sempre que possível buscava conviver com pessoas de outras nacionalidades”. Apesar do clima chuvoso da Irlanda, destaca o funcionamento de tudo 24 horas e a possibilidade de conhecer boa parte da Europa nas folgas.
CORAGEM E FASCINAÇÃO – Segundo ele, nos países mais turísticos como Alemanha, Áustria, República Checa, Noruega, Suíça, Londres, Irlanda do Norte, Eslovênia e Turquia, que também funcionam 24 horas com tudo aberto, a receptividade com estrangeiros e convivência com outros turistas é interessantíssima. “Sempre procurava ficar hospedado em locais baratos e próximos aos principais pontos turísticos. A arquitetura histórica e cultura são fascinantes. Como sou simples, andava por aí de chinelo, às vezes com meia, camisa do Grêmio e as pessoas vinham de tudo que é lado para fazer fotos”.
Numa folga prolongada, ele foi em direção à Grécia, Turquia, Egito, Chipre e Israel. Nos últimos três países, confessa que viveu momentos mais tensos. “Para viajar sozinho, é preciso, antes da fluência do inglês e vontade de trabalhar ter muita coragem. As pessoas me questionavam o que estava fazendo em determinados locais. Mostrava para eles a quantidade de países visitados em minha mochila e o visto de estudante, que ajudava a quebrar a desconfiança. Em Jerusalém, a energia da religião é muito forte […] É impossível não ficar deslumbrado com a imponência das pirâmides do Egito”.
UM ESTILO DE VIDA – A vida aparentemente solitária em diferentes países, rendeu a Goldmeyer muitas amizades e vínculos que mantém até hoje, com a possibilidade de novos passeios ou estadias mais duradoras. Nos últimos meses de sua estada na Irlanda, conheceu a modalidade de trabalho Workaway, que é um trabalho com jornada um pouco mais reduzida que permite conhecer bem a realidade de cada região.
“Sempre soube lidar muito bem com dinheiro, por isso hoje posso levar uma vida tranquila. Não pretendo realizar investimentos que me prendam muito num lugar. O Brasil tem as pessoas mais descontraídas e talvez mais bonitas. Mas os excessos não são interessantes. Já conheço Arroio do Meio e o Vale do Taquari. Como estou solteiro, prefiro colecionar experiências em locais diferentes e levar a vida de uma forma natural”.