Será realizada na Igreja Matriz de Arroio do Meio, às 18h deste sábado, a missa de sétimo dia em memória ao padre Silvério Schneiders, falecido no dia 9, no hospital de Nova Bréscia, em decorrência de leucemia. Desde 2006, padre Silvério estava na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Capitão, onde era muito querido pela comunidade.
Na sua despedida, realizada em duas etapas na quinta-feira da semana passada – pela manhã em Capitão e, à tarde, em Arroio do Meio, sua terra natal e onde foi sepultado – o sentimento era de comoção e, ao mesmo tempo, de gratidão pelas boas lembranças deixadas. Em Capitão, a comunidade lotou a igreja para dar adeus ao padre. A missa foi presidida pelo bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul, Dom Aloisio Dilli e contou com a presença de, ao menos, 15 padres. Já em Arroio do Meio, mais de 20 padres participaram da missa de corpo presente presidida por Dom Paulo de Conto, bispo emérito da Diocese de Montenegro, além de familiares e muitos amigos feitos ao longo dos seus 79 anos de vida.
Em nome da família, o irmão Luciano, que também é padre, agradeceu a todos e, de forma especial à comunidade de Capitão, que tão bem acolheu ao Pe. Silvério nos mais de 15 anos em que foi pároco. Lembrou da trajetória do irmão, do seu espírito missionário e do seu legado, tendo sido pioneiro em diversas paróquias do Mato Grosso e Pará.
Dom Paulo, que é natural de Encantado, lembrou da amizade dos dois, iniciada ainda no Seminário Sagrado Coração de Jesus, em Arroio do Meio, das brincadeiras e da dedicação ao sacerdócio. Ressaltou que o espírito de grupo sempre foi animador e que ambos tiveram muitos momentos de alegrias e de compaixão ao abraçarem o sacerdócio. “Seu testemunho permanece conosco e nós queremos sempre seguir Jesus”, declarou.
O amigo ainda fez um pedido especial, para que padre Silvério interceda junto ao Pai por vocações. Da mesma forma salientou que vocação não só se pede, mas se oferece. Frisou que pais, avós, irmãos e padrinhos podem colocar um familiar nas mãos do Bom Pastor. “Todas as famílias ofereceriam alguém para Jesus abraçar e ter mais um sacerdote”, questionou e, em seguida, pediu que Deus abençoe as Dioceses proporcionando vocações e bons sacerdotes.
O corpo de padre Silvério foi sepultado no Cemitério Católico de Bela Vista.
Deixa um grande legado
Pe. Luciano lembra com carinho a dedicação ao sacerdócio e o legado deixado pelo irmão. Como missionário, enfrentou inúmeros desafios no Mato Grosso e Pará. Contudo, sempre dizia que aqueles anos foram os mais marcantes e bonitos. Apesar da pouca estrutura, precariedade e a distância entre as comunidades e paróquias – às vezes centenas de quilômetros de estrada de chão, com atoleiros ou inundações na época de chuvas – se encantava com a vibração dos fiéis e seu espírito comunitário.
Padre Luciano, que também atuou no Mato Grosso, ressalta que, embora houvesse muitas dificuldades, a animação das comunidades quando recebiam a visita do padre fazia esquecer qualquer momento ruim. Ambos viram a população crescer de forma muito rápida, assim como a transformação das comunidades. Um dos pontos que mais chamava atenção de ambos era a mobilização das pessoas e o espírito comunitário. Como exemplo, o padre Luciano cita a construção de uma igreja para mil pessoas, que ficou pronta em três meses e foi erguida quase que na sua totalidade a partir de doações dos moradores.
Padre Silvério foi pioneiro, isto é, rezou a primeira missa em sete paróquias do Mato Grosso: Marcelândia, Itaúba, Terra Nova do Norte, Nova Guarita, Peixoto de Azevedo, Matupá e Guarantã do Norte, além de três no Pará: Castelo de Sonhos, Novo Progresso e Morais de Almeida. Em todas essas paróquias ele conseguiu as doações dos terrenos onde hoje estão construídas as Igrejas Católicas.
Além do trabalho pastoral, Pe. Silvério foi o administrador da construção de centenas de capelas, foi esportista, pescador, animador e evangelizador.
Desde que havia descoberto a doença, há quatro anos, nunca se deixou abater, e se manteve ativo até os últimos dias. Foram mais de 160 sessões de quimioterapia, realizadas em Estrela. Há cerca de um mês as transfusões de sangue e plaquetas passaram a ser mais frequentes, sendo necessário um grande número de doadores, muitos oriundos das paróquias em que o padre atuou.
Um grande ser humano
A cabelereira Vali Rockenbach se emociona ao falar do Pe. Silvério. Ela, que mora em frente à igreja, convivia diariamente com o padre. Há dois anos, depois do falecimento de Noêmia, que trabalhava há anos com Pe. Silvério, era Vali que preparava seu almoço diariamente. “Subia de manhã e pedia o que ele queria comer. Queria almoçar sempre às 11h. Agora é muito difícil falar dele. Faz muita falta. Ele era uma pessoa diferenciada, de uma humildade muito grande. Digo que a fôrma que Deus usou para fazer ele, foi jogada fora, porque ele é incomparável. Era um grande ser humano”.
Nos últimos dois meses, os cuidados para com o vizinho e amigo se intensificaram em função do avanço da doença. Em muitas noites, recorda Vali, ela chorava porque não conseguia baixar a febre dele. Sempre sereno, ele lhe dizia que iria baixar. “Ele queria viver, tinha esperança que ficaria bem. Nunca se queixou de nada. Era preocupado com as pessoas, queria saber delas. Às vezes estava de cama, mas levantava para fazer um enterro. Era muito prestativo com todos”.
Durante todo o tratamento manteve o bom astral. Sempre ativo, gostava de mexer na horta e nunca deixou de rezar missas no período. Sua última missa foi celebrada dias antes à sua internação, quando já estava mais debilitado e teve de ficar sentado a maior parte do tempo.
Secretária da Paróquia há seis meses, Grasiela Salton Ames, lembra da energia positiva que o padre transmitia e sua maneira simples de cativar as pessoas. Na terça-feira a ausência dele se tornou mais forte, pois era o dia em que retornava do Recanto Schneiders – espaço da família em Arroio do Meio. “Agora nos deparamos com o quarto vazio e vem o sentimento de perda, de que ele não vai mais voltar”, lamenta.
Grasiela conta que ele foi um batalhador, que lutou muito pela vida, até o final, quando ficou 10 dias no hospital. Apesar do que estava vivendo, sempre tinha uma palavra amiga e de conforto, especialmente para as famílias que o procuravam para sepultamentos. “Onde passou deixou um grande legado. Ele ficava sentido quando as restrições em função da pandemia não permitiam as missas. Março foi um mês difícil para ele porque não teve missa o mês todo”, conta.
A secretária diz que a presença massiva da comunidade capitanense no seu velório demonstra sua importância no município. “Ele era uma pessoa única. Um grande ser humano. Vai fazer muita falta para todos nós”.
O Pe. Silvério
Filho do professor Alvino José Schneiders e Otília Eidt Schneiders, Pe. Silvério nasceu no dia 21 de agosto de 1941 em Arroio do Meio. Foi batizado no dia 25 de agosto de 1941 e crismado no dia 15 de novembro de 1941. Fez seus estudos primários na Escola de São Caetano e o preparatório no Seminário Sagrado Coração de Jesus de Arroio do Meio. Em Gravataí fez o curso seminarístico, que correspondia ao ginásio e científico. Cursou Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Viamão.
Foi ordenado subdiácono no dia 11 de novembro de 1967 no Seminário Sagrado Coração de Jesus e diácono no dia 9 de dezembro de 1967, no Colégio São Miguel de Arroio do Meio. No dia 6 de julho de 1968, na Igreja Matriz de Arroio do Meio, foi ordenado presbítero por Dom Alberto Etges.
Como padre foi vigário cooperador em Encruzilhada do Sul e na Catedral São João Batista. Na Diocese de Santa Cruz do Sul foi pároco nas paróquias de Ilópolis, Pantano Grande, Arroio do Meio, Nova Bréscia, Santo Inácio de Lajeado, Muçum, Nossa Senhora do Rosário de Rio Pardo, Travesseiro e, por último, Capitão onde chegou em janeiro de 2006.
Com alma missionária e espírito aventureiro, foi missionário no Mato Grosso em quatro oportunidades: de janeiro de 1979 a dezembro de 1984; de janeiro de 1990 a dezembro de 1995; de julho de 1998 a dezembro de 2000; de janeiro de 2002 a dezembro de 2005. Foram, no total, 17 anos dedicados às igrejas irmãs de Diamatino e Sinop, tendo sido um dos pioneiros na construção de igrejas, edificação de comunidades e organização de paróquias no norte do Mato Grosso e sul do Pará.
Irrequieto, por natureza, Pe. Silvério teve uma vida de peregrino, até se fixar em Capitão no ano de 2006. Até os 65 aos de idade, por opção pessoal, não ficou em nenhuma paróquia por mais de quatro anos. Extremamente dedicado, nunca deixou de participar dos encontros promovidos pela Diocese, independentemente de serem encontros de formação, de oração ou de confraternização. Suas homilias eram curtas e diretas. Por onde passou, cativou amigos e deixou marcas. Seu esporte preferido eram as pescarias. Torcia pelo Grêmio e gostava de confraternizar com os amigos. Foi solidário na enfermidade e na morte de sua funcionária Noêmia, e não se deixou abalar pelo câncer que lhe exigiu mais de uma centena de sessões de quimioterapia. Acostumado a reger a si mesmo, resistiu até seus últimos dias de vida a pedir ajuda de outras pessoas. Faleceu no início da noite de 9 de junho de 2021, no Hospital de Nova Bréscia.