Alexandre Marcelo Schneider
Mestre em Administração, com atuação em áreas de gestão em cooperativas e magistério em cooperativismo
No primeiro sábado de julho de cada ano comemora-se o Dia Internacional do Cooperativismo. Dia para lembrar a pujança de um modelo de organização empresarial que congrega mais de três milhões de cooperativas e um bilhão de membros cooperados no mundo.
O aspecto sutil nessa introdução, está em enfatizar que são, antes de mais nada, organizações empresariais. Por mais estranho que pareça, passados mais de 250 anos desde o primeiro modelo cooperativo que logrou êxito em Rochdale (Inglaterra) atuando com destaque no Brasil há quase 120 anos; ainda há quem demonstre desconhecimento desse fato.
Comum se ouvir ainda, quando alguém tenta destacar o trabalho das cooperativas, que elas “apresentam atuação social mais efetiva do que uma empresa privada”. Ora, independente de ser verdade a sua atuação social; o fato é de que essa concepção sobre a configuração societária da cooperativa, está errada.
As cooperativas também são organizações empresariais privadas. O fato de, expressamente, divulgarem que não visam lucro como objetivo principal, de alguma maneira pode ter contribuído para essa visão distorcida.
Uma cooperativa disputa seu espaço no mercado, de igual para igual com outras empresas. Para as cooperativas inclusive, esse é um ponto que merece ainda mais atenção no momento atual. A pandemia acelerou a digitalização de processos e diminuiu ainda mais fronteiras físicas existentes, fazendo com que os produtos possam ser acessados de qualquer lugar – as cooperativas precisam participar dessa estratégia para não sucumbirem. Independente do tamanho, precisam inovar.
Essa evolução começa pela profissionalização da gestão e do corpo técnico-operacional. Um processo importante, e que precisa ser estruturado com o objetivo, entre outros, de enfatizar aquelas diferenças que fazem as cooperativas tão únicas, como modelo eficaz alternativo a outras organizações empresariais capitalistas. Num momento em que as pessoas buscam marcas com propósito, as cooperativas podem oferecer mais do que isso: um sistema com propósito!
Um propósito que engloba o ato de aglutinar, lembrando que as cooperativas surgem para que diferentes pessoas, mesmo que com perfis e convicções diversas, possam encontrar um objetivo em comum que as façam trabalhar em conjunto como associados – sócios num mesmo empreendimento.
A cada ano, a ACI – Associação Cooperativa Internacional elege um tema para o Dia Internacional do Cooperativismo (Dia C). Para este ano pós-pandemia (ou quase pós), o tema global é: “Reconstruir melhor juntos!”.
Uma escolha perfeita, não somente pela imediata e correta sugestão de que a cooperação auxiliará na retomada. Mas sim, pela orientação clara às próprias cooperativas: de que o mundo que renasce é outro, mais diverso, e que as cooperativas terão de se reinventar (reconstruir) olhando para todos os públicos.
Num mundo tão polarizado como o de hoje, mas que, ao mesmo tempo, clama por diversidade e proteção às minorias, a cooperativa precisa dar exemplo aglutinador, encontrando objetivos comuns em meio a discordâncias. E principalmente, baseada na premissa do “um homem, um voto”, não esquecer de ouvir, já que cada opinião conta.
Tudo isso para realmente ser uma empresa plural, com engajamento e sinergia. Não apenas uma cooperativa-empresa; mas verdadeiramente, uma empresa cooperativa.