O Dia dos Homens é comemorado anualmente em 15 de julho no Brasil. Esta data foi inspirada no Dia Internacional do Homem, criada em 19 de novembro de 1999 para celebrar as contribuições dos homens para seus países, para a sociedade, a comunidade, a vizinhança, a família, o casamento e o cuidado com os filhos. No Brasil, tem o objetivo de conscientizar a população masculina sobre os cuidados que devem tomar com a sua saúde.
Se analisarmos o comportamento dos homens nas últimas décadas, é notável uma maior preocupação com a saúde física, mental, espiritual e, também, o aumento na divisão de tarefas domésticas e, principalmente, os bons exemplos em várias frentes, seja na disciplina, solidariedade, amor e empatia.
Um dos hábitos mais frequentes do século passado, o de frequentar bares, continua presente, mas de maneira menos intensiva e, na maioria dos casos, meramente eventual.
Em Arroio do Meio, de acordo com o setor de tributação da prefeitura, há registrados 58 bares, sem listar clubes e anexos de outros estabelecimentos, como mercados. A maioria está situada no Centro (18), sendo seguida por Bela Vista (8), São Caetano (6), bairro Aimoré (5), Rui Barbosa, Barra do Forqueta e São José (4), Palmas, Navegantes e Novo Horizonte (2), Arroio Grande, Dom Pedro II e Forqueta (1), além de outros sem localização específica na documentação.
A reportagem do AT esteve presente em alguns dos principais bares de cada bairro e localidade, conversando com os proprietários dos estabelecimentos para levantar informações sobre o comportamento, consumo e assuntos discutidos socialmente. A maioria dos comerciantes foi enfática ao dizer que a venda de destilados tem reduzindo drasticamente, e que são pouco consumidas entre homens com idades entre 20 e 50 anos. O tempo de check in e check out, é mais rápido, com exceção aos locais onde o foco é o entretenimento de fim de semana. As brigas diminuíram, embora a competitividade em opiniões pessoais continue forte. A preocupação de estarem menos no bar e mais próximos das famílias tem sido maior.
“Me esqueci o que são brigas de bar”
Proprietária do Bar do Juruna, situado no bairro Navegantes, Maria Inês Telöcken atua há mais de 22 anos no segmento. Revela que, atualmente, a maioria dos clientes apenas compra e leva sua cerveja. A preferência é pelo latão de 473 ml. Os dias de maior movimento e período dos clientes no estabelecimento é nas manhãs de sábado e domingo. “Já não há mais carteado. A mesa de bilhar foi vendida. Me esqueci o que são brigas”, revela.
“Disciplina melhor é impossível”
O proprietário do Bar do Xenho, Eugênio Dick, que atua no bairro Navegantes há 12 anos, revela que, no inverno, a preferência tem sido os drinks de refrigerante com destilados e vinho. O público permanece no bar até as 19h, não mais até as 22h ou meia-noite, como já era em outras épocas. A maioria dos clientes são homens com idade entre 35 e 60 anos. “Tomam uma coisinha, jogam uma partida de bilhar e vão para casa”. Às tardes de sextas-feiras são as mais movimentadas. As brigas de bar não existem mais, como antigamente. “Às vezes alguém passa do ponto na bebida e se exalta. Mas, o proprietário precisa saber administrar a situação, alertando os clientes sobre as normas de conduta. Em termos de disciplina, melhor do que está, impossível”.
“O bar sempre vai existir”
O proprietário do Bar do Caverna, situado na Barra do Forqueta, Ermilo Berté atua no segmento há 29 anos, sendo 17 deles em Capitão, e dez anos de fronte à rodoviária. Ele revela que, em decorrência do frio, a preferência de consumo tem sido drinks ou até mesmo um cafezinho. “A dose pura da bebida quente não é mais uma tradição”.
Os clientes, em sua maioria, são trabalhadores de 20 a 55 anos. “Por causa da pandemia, os idosos têm evitado o bar. O horário preferido é o período da tarde. As partidas de bocha diminuíram em decorrência de uma conscientização em torno de se evitar aglomerações”.
Berté releva que o horário dos consumidores no bar diminuiu e há rodízio maior de pessoas por períodos mais curtos. Entretanto, a briga de bar ainda existe. “O homem é territorialista e competitivo. Gosta de defender suas opiniões e se revolta quando é contrariado”, detalha. Os principais assuntos discutidos são política, futebol, acidentes, roubos e a superação da pandemia.
O tabagismo continua bastante presente. “Quem frequenta bar, normalmente fuma”. Mas o consumo de refeições entre uma bebida e outra também é um hábito frequente. “Gostam de torrada, pastel, frango assado e filé de peixe”. Para Berté, apesar de mudanças no comportamento e consumo, o bar sempre vai existir, pois é um ambiente que pertence ao habitat masculino.
‘Bares têm menos aglomerações que empresas”
O proprietário do Bar do Rafael, Rafael Luiz Tomazini, 31 anos, do Bairro Novo Horizonte, revela que a preferência dos consumidores é a cerveja, mas ainda há saída considerável de destilados. De cada fardo de 12 garrafas, nove são consumidas purinhas, sem preparo de drinks.
Os clientes, em sua maioria, são moradores do bairro e, eventualmente, casais. No meio da semana é mais frequentado por autônomos. O horário de melhor movimento é entre 17h e 19h. Eventualmente são realizadas jantas com cardápios variados.
Nos fins de semana é frequentado por trabalhadores em geral, com idades entre 30 e 60 anos, que circulam pelo local desde a manhã até o início da noite. O cardápio fixo é o pastel frito. “Como a maioria é do bairro, todos se respeitam e não ocorrem brigas. A disciplina também vai muito do atendimento. Não se pode deixar a situação fugir do controle”, reforça.
Tomazini revela que o movimento ainda não é o mesmo desde o início da pandemia. “Antes era frequentado por pessoas de outros bairros, até de outros municípios que vinham jogar bocha, carta ou bilhar. Mas vejo que no bar há menos aglomeração do que nas empresas. Os clientes vêm para espairecer da rotina, conversar e compartilhar ideias com seus amigos de forma descontraída. Isso torna o sabor da cerveja, ou outra bebida, mais interessante do que ficar trancado em casa”.
O bate papo entre amigos é necessário
O proprietário do Avenida Lanches do bairro Aimoré, Carlos Silva, 47 anos, diz que o bar tem boa presença de público feminino, que chega a 30%, que acompanha os homens em happy hours e lanches. O horário de pico é das 16h30min às 19h. O período médio no bar é de, no máximo, 2h. A preferência de consumo é a cerveja, mas no inverno aumenta a procura por vinhos. O destilado em drinks representa 30% das vendas.
O público, em sua maioria, é de pessoas conhecidas. Amigos que se conhecem há mais tempo e gostam de botar o papo em dia, se soltar e se divertir. “Isso só faz bem”, comenta.
“Preferência por vinho e corte do tabaco evidenciam cuidados com saúde”
O proprietário do Bar dos Amigos, Clênio José Bonacina, 55 anos, atua no segmento há 22 anos, sendo seis em Bela Vista. Ele revela que apenas um público restrito, acima de 50 anos, ainda consome destilados como aperitivos. Abaixo dos 50, cada vez menos homens consomem destilados, apenas em drinks. A preferência é cerveja. E, até os 25 anos, o consumo é exclusivo de cerveja. Outro ponto que Bonacina destaca é a redução do consumo de tabaco, em decorrência de recomendações médicas, e a substituição do destilado por vinhos, o que segundo ele, evidencia o cuidado com a saúde.
Desde a pandemia, o bar parou de servir jantares e almoços. Entretanto, Clênio destaca que o jogo de cartas e a bocha, e o consumo de bebida com moderação, são lazeres saudáveis para homens de faixa etária mais elevada. Os principais assuntos debatidos são futebol e política.
Homens estão ficando mais com suas famílias
Luís Henrique Neumann, 61 anos, o Mão, que atualmente dirige o bar da família com 50 anos de tradição no bairro Bela Vista, revela que a mudança de comportamento nos últimos anos é visível, e que hoje a maioria dos consumidores prioriza a saúde e o bem-estar de sua família.
A cerveja lidera as vendas com 80% da preferência e o consumo de cigarros caiu mais que pela metade. Os destilados são consumidos apenas em forma de drinks. “Ninguém mais toma alambique. O aperitivo antes do meio-dia não é mais uma tradição há, pelo menos, seis anos. A pandemia reduziu a presença de aposentados. O carteado ocorre com menos frequência e a bocha, só nos fins de semana. Os homens têm preferido ficar mais com sua família. O medo do contágio fez com que muitos reduzissem o período no bar, levando bebida para casa, para preparo de drinks com as esposas, que acabaram vendo que beber não é algo tão negativo. Pelo contrário, muitos médicos recomendam beber de forma moderada. Aumentou a parceria e a união familiar”, explica.
Segundo Mão, o público do bar não é mais viciado em bebida como antigamente. A maioria são trabalhadores que leem jornais, buscam se inteirar de informações da comunidade e conversar com os amigos, o que é importante para a saúde mental. “Eles vêm para brincar, vêm para sorrir […] Ao longo dos anos, sempre buscamos alertar os clientes sobre os males dos excessos e restringir a presença de arruaceiros. A maioria acaba pedindo desculpas depois”.
‘Os homens não podem perder seu espaço’
A proprietária do Bar São José, Sabrina Viana Atkinson Marques revela que teve de superar muitos desafios para se firmar enquanto bodegueira, num ambiente basicamente masculino, ao longo de oito anos de atuação. “Todos sabem como devem se comportar aqui e são muito educados”.
Apesar do bar abrir pela manhã e à tarde, o horário de melhor movimento no meio da semana é o happy hour, que inicia às 17h30min. A maioria dos consumidores são pessoas de outros bairros e até de outros municípios, com idade entre 40 a 60 anos.
Ela confirma que o vinho tem tido boa saída frente ao destilado no inverno, e que a cerveja tem a preferência em dias mais quentes. O cigarro é consumido por um pouco menos da metade dos clientes. As sextas-feiras são marcadas por jantares. O cardápio geralmente é sugerido pelos clientes no decorrer da semana. “Os homens não podem perder seu espaço. A bodega é um local que precisam para botar conversa fora, degustar uma bebida e voltar disposto para a família, para a rotina de trabalho. Aqui falam sobre política, negócios, serviços e, principalmente, valorizam a amizade. Todos se preocupam uns com os outros”.
‘Desigualdade social afeta bares e outros segmentos’
O proprietário do Esquinão, Rodrigo Compagnoni, 40 anos, atua no segmento de bares há 20 anos, sendo nove enquanto dono. No seu estabelecimento, situado no Centro, os homens são 60% do público.
O perfil é variado. Desde aposentados e agricultores que circulam pela cidade, a empresários e prestadores de serviços, que frequentam o espaço em diferentes horários do dia, seja para um cafezinho, uma taça de vinho, ou uma cerveja acompanhada de um lanche ou pastel, ou para assistir a transmissão de jogos esportivos.
Nos fins de semana ocorrem vários momentos de happy hours com diferentes públicos, incluindo times de futebol e grupos de amigos, além dos clientes que apenas compram bebida para levar para casa. “Não discriminamos ninguém, mas somos muito rigorosos quanto a algumas condutas, o que afastou pessoas que não são muito bem quistas, aproximando um público ordeiro. Infelizmente, a diferença social muito grande afasta o trabalhador comum, pois a renda limita gastos em bares ou outros locais do comércio. Se percebe nitidamente quando é antecipado o 13º salário ou quando o governo libera outros benefícios. Sempre acaba respingando no bar ou outros estabelecimentos”.
Um bar para amigos antigos
A administradora do Romanos Bar, situado no Centro, Rosecler Führ, a Nuga, revela que o estabelecimento é voltado para atender clientes antigos e manter o convívio entre amigos, da faixa de 60 a 90 anos. “Eventualmente atendemos clientes que estão de passagem”. O atendimento ocorre apenas no período da manhã. O horário de pico é depois das 10h. A proibição do estacionamento na saída da rua Gustavo Wienandts prejudicou o acesso de clientes que vinham com veículo próprio ou taxi, e é mais restrito a quem pode vir a pé.