Em 25 de julho, se celebra o dia do Colono. Há mais de um século os nossos antepassados que chegaram aqui, vindos da Europa fugiram da miséria, fome, falta de terra, perseguições. Vieram colonizar as terras brasileiras. Trouxeram a esperança de uma vida melhor e construíram a nossa agricultura familiar. Hoje 80% da economia do Vale do Taquari gira em torno da agricultura familiar. É dela que sai a maioria dos produtos beneficiados pela indústria regional e brasileira.
A diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Arroio do Meio ressalta que é preciso continuar lutando para que a esperança novamente floresça. Especialmente neste momento de grandes desafios, com insumos caros, falta de estoques reguladores, salário mínimo desvalorizado, alterações no Plano Safra que inviabilizam o acesso ao crédito rural, entre outros.
Os agricultores Edelfo Lagemann, Blásio Gräf e Eronita Hammes deixam seus depoimentos sobre o Dia do Colono e os desafios da profissão.
Edelfo Lagemann morador de Passo do Corvo
Produzimos o nosso alimento e o de milhares de pessoas. As mudanças no Plano Safra, com os juros do Pronaf acima de 2,5% ao ano, prejudicam a tomada de crédito. Hoje está muito mais alto e, sem financiamento, os pequenos investimentos praticamente são feitos com recursos próprios. Hoje o juro é muito alto e é só vantagem para o banco.
Nossa propriedade é diversificada, temos suínos integrados, gado de leite e produção de grãos. A falta de estoque reguladores de grãos prejudica a agricultura como um todo, porque encarece os insumos e a alimentação dos rebanhos.
Em 1997 perdemos nosso plantel de vacas e, em 2000, começamos a produção de suínos – ciclo completo. Se fosse preciso, começaria tudo de novo. A sucessão está encaminhada, com a designação de tarefas feita sempre baseada no diálogo.
Além de trabalhar na agricultura também sempre colaboramos com as entidades da localidade, o clube Passo do Corvo, a comunidade evangélica, a associação dos produtores, Sicredi e Cosuel.
Eronita Hammes – moradora de Dona Rita
O salário mínimo vem desvalorizando. Em 2016 valia 271 dólares, hoje não chega aos 200. Nós, agricultores familiares, temos que produzir alimento, mas o salário devia ser melhor. Quanto melhor o salário, maior o giro de dinheiro na economia e aumenta a venda no comércio como um todo, não só dos nossos produtos.
A aposentadoria de um salário para os trabalhadores da agricultura foi uma conquista que veio com muita luta. Hoje, como muitos medicamentos já não estão disponíveis no SUS, precisamos comprar. Se não tivéssemos conquistado o direto a aposentadoria, muitos idosos estariam na miséria.
Blásio Gräf -morador de Forqueta Baixa
O salário mínimo está muito baixo. Consumidor não dá conta do giro do dinheiro. Nós produzimos e alguém precisa consumir. Com o salário, precisa fazer as compras no mercado, cuidar da saúde, medicamentos. Sobra menos para o consumo.
Tivemos períodos bons na agricultura familiar, quando conseguimos fazer investimentos, como comprar máquinas, com juros de 2,5% ao ano. Quantos tiveram um arranque, um começo, e foram para frente a partir do Pronaf a juros baixos. Hoje está mais difícil. Os insumos são dolarizados. Somos escravos do sistema, com o lucro para o exterior, já que os donos da maioria das integradoras são de fora.
Precisamos políticas públicas. O custo é muito alto. Se não bastasse o imposto e a taxa do sistema fio e poste, vai vir a taxa sobre a luz que você produz. A privatização nos faz refém do lucro. Se liga a luz, está pagando, se vira a chave do carro, está gastando combustível. A energia e o combustível subiram muito. A luz subiu praticamente 50% em meio ano. Hoje o agricultor consome muita energia e combustível e estes insumos se tornaram um custo elevado na produção.
Aos poucos o agricultor foi conquistando uma vida melhor. Apesar dos desafios, temos tudo na propriedade, produzimos nosso próprio alimento e temos nossos horários.