Poucos sabem, mas muitos jovens, atualmente no mercado de trabalho, quando adolescentes, quebravam recordes em modalidades esportivas pouco conhecidas, que hoje garantem medalhas olímpicas ao Brasil nos jogos de Tóquio, com marcas reconhecidas nacionalmente e reconhecimentos em competições federadas.
Porém, a falta de incentivos financeiros, carência de estruturas adequadas para treinamentos e competições, alto custo de equipamentos e o avanço da idade foram, e ainda são, os principais motivos para o afastamento de jovens atletas no esporte profissional brasileiro. “Muitos depois dos 16, 17 anos necessitam de maiores investimentos para seguirem uma carreira de atleta profissional e patrocinadores fortes. É uma série de fatores. Sem incentivos necessários muitos talentos se perdem”, afirma o educador físico das Escola Municipal Pedro Pretto e Escola Estadual Monsenhor Seger de Travesseiro, Léo Bettio.
Na cidade, Bettio já acompanhou de perto jovens promissores, atletas que rodaram o Brasil em competições de alto nível. Para o professor, muitas escolas da rede pública, principalmente da rede estadual, possuem estruturas limitadas que impedem a diversificação da prática esportiva nas aulas de educação física.
Segundo ele, é comum em muitas das escolas constatar a carência, por exemplo, de materiais esportivos e precariedade em quadras esportivas. Fatores estes, que atrapalham muitos profissionais da área na hora de repassar conteúdo aos alunos e, consequentemente, na formação de novos atletas em diferentes modalidades esportivas.
Bettio tem acompanhando algumas provas olímpicas. De acordo com ele o Brasil ainda está distante de ser uma potência olímpica, pois o país em todas as áreas esportivas precisa de recursos e qualificação profissional, para que os alunos dentro das escolas possam escolher modalidades da sua preferência e se aperfeiçoar. “Desde 2019 não temos o Ministério dos Esportes. A nível estadual, tivemos recentemente mudanças na grade curricular, que reduziu em dois terços as aulas de Educação Física. Todo esporte começa na escola, porém não é essa a prioridade. Enquanto estivermos neste patamar, estaremos distantes das grandes potências e longe de figurar no primeiro escalão do quadro de medalhas”, entende.
MATERIAIS CAROS E CARÊNCIAS DE ESTRUTURAS
O travesseirense Willian Cauê Mocellin, 23 anos, competiu profissionalmente entre 2011 a 2014, período em que conquistou marcas nacionais reconhecidas pela Confederação Brasileira de Atletismo. As primeiras provas amadoras foram disputadas ainda na Escola Estadual Monsenhor Seger e garantiram ao jovem boas conquistas individuais nas etapas regionais e estaduais dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul.
Em uma das etapas, Willian foi observado por treinadores do Colégio Teutônia e, em 2011, iniciava os treinos na instituição referência no atletismo no Vale do Taquari. Com boas marcas, o atleta também foi contemplado com uma bolsa de estudos e a oportunidade de treinar todos os dias na estrutura do colégio. “Morava na própria escola. Lá treinei e participei de inúmeras competições nacionais e estaduais”, recorda.
Willian se destacou na modalidade do Octatlo, pouco conhecida no estado, onde oito provas de atletismo são combinadas, entre elas saltos, arremessos de peso, velocidade e revezamentos. Na categoria sub-16, participou de competições nacionais em São Paulo e Minas Gerais, onde representou o Rio Grande do Sul, atingindo em 2014 a segunda melhor marca do Brasil no salto em altura (1m85cm), reconhecida até hoje pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
Até 2014, Willian representou o Rio Grande do Sul em provas nacionais, com marcas reconhecidas. Atualmente, longe das pistas, o jovem de 23 anos trabalha em empresa de refrigeração em Lajeado. Para ele, seguir competindo e treinando em provas do atletismo exigem locais e estruturas adequadas, além de material esportivo de alta qualidade para realização das provas. “Outro problema, atualmente, é a prisão dos mais jovens em um mundo virtual, o que distancia eles dos esportes. No caso do atletismo, são poucos que têm acesso, pois o esporte tem pouca vitrine comparada com outras modalidades, como o futebol”.
INCENTIVO MOVE O ESPORTE
Assim como Mocellin, outros jovens de Travesseiro fizeram sucesso nas pistas de atletismo pelo estado e o país. É o caso de Juliane Backendorf, de 19 anos, que iniciou os primeiros treinos na pista de atletismo no Colégio Teutônia em 2016. “Na época nunca havia praticado alguma modalidade, fui experimentando um pouco de cada prova”, lembra.
O lançamento do disco foi a modalidade que mais conquistou Juliane e fez com que a jovem atleta iniciasse os treinos e a participação em competições. Assim se iniciava uma carreira no atletismo e os primeiros títulos e medalhas. “As provas continham muita técnica, a fim de lançar o mais distante possível um peso em forma de disco”, explica.
Na modalidade de lançamento de disco, Juliane foi, por três vezes, campeã estadual, representou o estado e o Colégio Teutônia em competições nacionais. Por duas vezes conquistou a medalha de bronze e bateu o recorde no lançamento na Olímpiada Nacional da Rede Sinodal de Educação (Onase) além de receber em três oportunidades o prêmio de atleta destaque da Federação de Atletismo do Estado do Rio Grande do Sul (FAFRGS).
A carreira de Juliane teve fim em 2019, ao concluir o Ensino Médio e o curso técnico em administração no Colégio Teutônia. Segundo ela, além dos títulos e premiações que fizeram parte de uma trajetória incrível no atletismo, o maior objetivo foi trazer orgulho para a família que sempre a apoiou. “Foram muitas medalhas e títulos. O atletismo me proporcionou coisas muito mais importantes, como novas amizades, viagens e conhecer novos lugares. Tive um crescimento pessoal muito grande, além de respeitar o máximo dentro do esporte. Essa trajetória foi extraordinária”.
Mesmo longe das pistas há mais de dois anos, Juliane não deixa de acompanhar os Jogos Olímpicos de Tóquio, afirmando ter muito orgulho do time brasileiro. Por ter uma ligação com o atletismo, Juliane diz ter ficado feliz quando soube que, pela primeira vez na história, uma atleta levou o Brasil à final na prova do lançamento do disco feminino. “Os jogos servem para nós observarmos o quanto o esporte é amplo. Estamos observando várias medalhas em várias modalidades e vendo o quanto cada atleta se orgulha e dedica para chegar em alto nível”.
Na opinião de Juliane o que mais move o esporte é o incentivo, seja ele das pessoas, ou de instituições que possam oferecer boa estrutura de treino, para colocar em ação a prática saudável de um novo esporte.
OLIMPÍADAS ENCERRAM NO DOMINGO
A cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Tóquio está programada para o domingo. As últimas modalidades se encerraram nesta semana, como foi o caso do atletismo, tênis, boxe e natação, onde os atletas brasileiros superaram o recorde de medalhas em uma só edição.
Nesta sexta-feira e no sábado ainda ocorrem as provas finais no pentatlo, hipismo, vôlei e ginástica rítmica, onde o Brasil disputa medalhas. No sábado a principal atração será a final masculina do futebol e a maratona. Na TV aberta os jogos serão transmitidos pela Rede Globo. Clientes das operadoras de TV a cabo podem acompanhar as provas e o encerramento pelo Band Sports e Sportv.
Em Tóquio, a Olimpíada recebeu cerca de 11 mil atletas, de pelo menos 204 países divididos em 33 esportes. Sem as restrições e o adiamento dos jogos, a estimativa do comitê era de receber até cinco milhões de pessoas do mundo em 43 locais de disputa de provas.