Você já deixou de apresentar alguma ideia ou projeto pois acreditava que essa exposição poderia gerar algum julgamento ou ainda que o material não estava perfeito para ser compartilhado? Pois bem. Acredite! Você não é o único a pensar ou sentir-se assim!
Este pensamento está relacionado com a situação de vulnerabilidade ou também conhecido como fenômeno do(a) impostor(a). Já ouviu falar sobre algum destes termos?
Até findar a leitura do livro “A Coragem de Ser Imperfeito” de Brené Brown esses significados eram desconhecidos, pelo menos para mim. Muitas pessoas convivem diariamente com situações de vulnerabilidade e perfeccionismo, umas mais outras menos, mas por vezes, por medo, insegurança, vergonha, deixam de realizar o que gostam e/ou acreditam.
No livro, a autora utiliza uma linguagem simples e fluida, justificando os motivos pelos quais buscamos o perfeccionismo: tememos a crítica, o julgamento e a culpa. Ela utiliza de vários exemplos do cotidiano para exemplificar como podemos trocar o conforto pela coragem em uma cultura definida pela escassez, pelo medo e pela incerteza. É incrível como, em diversos trechos, o texto atravessa as nossas vivências diárias! Quantas vezes não nos arriscamos por medo de falhar? Refletimos que o projeto não está 100%. Ou ainda que o texto não está bom o suficiente.
E esta do texto não estar bom, tem visitado, reconheço que frequentemente, a minha escrita. Explicarei o motivo.
As primeiras crônicas que escrevi ganharam espaço no papel em 2019, desde então, elas apareceram somente quando considerei que estava inspirada o bastante para escrever um texto publicável, que chamaria a atenção dos leitores. Um texto leve, de conteúdo relevante. Do contrário, seria exposição desnecessária. Eu desistia (e às vezes, ainda desisto) da escrita, ou deixava o texto guardado em uma pasta na nuvem. Somente eu teria acesso aquelas palavras.
O problema durante esse intervalo de tempo, é que foram poucas as vezes que essa inspiração aconteceu de fato, e por isso, as escritas não ocorreram da forma frequente como eu realmente gostaria. Diante deste incômodo criativo e aproveitando (felizmente) os encontros que a vida nos proporciona, dias atrás perguntei a um amigo escritor onde ele buscava inspiração para a escrita dos seus textos, a resposta considerava que “isso de inspiração era meio que bobagem” e finalizou afirmando: “que a escrita é um trabalho duro, é sentar e escrever. Se eu não penso o que escrever, eu me sento e escrevo mesmo assim, procuro escrever aquilo que eu gosto, independente do que seja”.
Refleti sobre as palavras ditas por ele. Geralmente quando me sento para escrever, tento fazer isso com algum propósito. Logo, essa frase na prática não parecia tão simples, pelo menos não para mim.
E então hoje, domingo, novamente o mesmo tema da escrita, vulnerabilidade e fenômeno do(a) impostor(a) apareceram durante a escuta do episódio “Fenômeno da impostora a ídola com Fly Alves” do podcast “Bom dia, Obvius” (anota aí esta indicação!) Quem comandou o bate papo foi a escritora e diretora criativa da Obvius Marcela Ceribelli junto a convidada, a jornalista Fly Alves. No episódio elas comentaram que a escrita é um lugar de autoria, de intelectualidade. Logo, cada escritor(a) é único(a) na sua representatividade. E que por isso ela possui um valor intangível. Ocorre que ao escrever o pensamento, algumas vezes, migra para: “e se alguém não gostar” e aí novamente o fenômeno da impostora se faz presente.
E ouvindo essa parte do episódio a reflexão inicial do texto fez ainda mais sentido. Não que as ideias não existam, elas estão ali, porém, o medo de não corresponder a expectativa do leitor (uma expectativa que possivelmente eu tenha criado) siga contribuindo para os bloqueios, para a autocrítica e tão logo, a dificuldade de sentar e transpor as ideias no papel.
Talvez você esteja se questionando neste momento, qual a razão deste texto? Pois bem, a razão ocorre pela necessidade de reflexão e aceitação da própria vulnerabilidade, isso inclui a minha exposição neste exato momento, mas acima de tudo, de incentivar as pessoas nas suas mais variadas expressões de criatividade, sejam elas de narrativas, artísticas, instrumentais, de projetos, fotografias a acreditarem e permitirem que a coragem e a ousadia ganhem mais espaço no seu dia a dia.
É sobre, acima de tudo, acreditarmos mais em nós mesmos!
Juliana Thomas
Enfermeira e professora