O coordenador regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura, Marcos Hinrichsen, presidente do STR do Cruzeiro do Sul, e integrante da Diretoria do Codevat, avalia que apesar da crise da Languiru, a continuidade do cooperativismo é fundamental para o desenvolvimento econômico do Vale. “Tivemos momentos bons e difíceis vividos no Cooperativismo. Acredito que a maioria das cooperativas tenha vivenciado isso. Umas mais outras menos, dependendo do momento na gestão e o que acontece no mercado”, avaliou.
Confira a seguir entrevista sobre o futuro do cooperativismo no Vale do Taquari.
Jornal O Alto Taquari – Como fortalecer o cooperativismo no Vale, independentemente de crises individuais, mesmo que em cooperativas fortes?
Coordenador regional da Fetag, Marcos Hinrichsen – A união de esforços, pensar/planejar mais de forma coletiva, manter proximidade com demais forças vivas do Vale, como por exemplo: CIC Vale do Taquari, Codevat, Associações de Prefeitos, Associação de Vereadores, FETAG-RS, Imprensa, Emater-RS, Universidades, Deputados/Senadores/Governos Estadual/Federal e etc. Campanhas permanentes sobre importância do Cooperativismo em nossas vidas.
AT – O que o cooperativismo representa para o pequeno agricultor e como está o fator psicológico de cada agricultor cooperado?
Hinrichsen – São centenas de milhares de agricultores(as) que construíram dentro do cooperativismo seu modo de vida, a estruturação da propriedade, assim sempre que existe uma crise estamos preocupados com o futuro da nossa atividade, uns pelos compromissos financeiros de investimento na propriedade, outros pela continuidade da atividade.
AT – Outras cooperativas fora do segmento da proteína animal estão sofrendo prejuízos? Corremos risco surpresas em relação a crises mais expressivas ou não existem mais ameaças?
Hinrichsen – Não temos informações de cooperativas de outros segmentos estarem sofrendo prejuízos neste momento. No atual modelo ao qual estamos inseridos, com a chamada globalização, ao meu ver, estamos sempre vulneráveis/ameaçados, algo que acontece em qualquer parte do planeta pode nos afetar. A especulação, bolsa de valores, oferta e procura balizam nosso dia a dia. Vamos considerar por exemplo o atual momento em relação as carnes, a alta do petróleo(óleo diesel), preço dos fertilizantes, sementes, maquinas agrícolas dispararam nos últimos anos. Na questão dos fertilizantes, por exemplo, ouve a venda das nossas fabricas que faziam parte da Petrobras (matéria da revista veja de 12 de março de 2022), passamos com isso a depender ainda mais do mercado internacional, da importação de insumos. Na questão das sementes, são poucas empresas no mundo que controlam o mercado das mesmas. As altas taxas de juros (Taxa Selic) que enfrentamos em todos os setores, inclusive no credito rural. Cabe destacar também, considerando o alto custo de produção nesse período, no nosso salário mínimo ficou muito aquém(desvalorizado) para que o custo fosse repassado ao consumidor, as integradoras precisam vender abaixo do custo de produção para colocar a mercadoria no mercado. Existe ainda um outro fator que precisamos analisar, muitas integradoras, estão voltando o olhar para o centro do país (se instalar lá), pois lá existe a grande produção de grãos, assim como, maior proximidade com o grande mercado consumidor. Existe o cálculo do custo (principalmente o frete) em trazer o grão para o sul, e depois levar a proteína de volta.
AT – Como analisa a transparência na gestão das cooperativas e como esse quesito pode ser melhorado?
Hinrichsen – O sistema Cooperativo tem as regras de funcionamento regulamentadas através de lei, existe um Conselho de administração, Conselho fiscal, delegados, coordenadores de núcleo na grande maioria. Acredito das melhores formas para haver a transparência é a participação efetiva do Associado(a) nas atividades de sua cooperativa, buscando entender os números questionando e sugerindo. Isto vale também para uma associação de agua, sociedade de qualquer natureza, comunidade, sindicato gestores públicos e etc.
Marcos Hinrichsen é agricultor familiar que já atuou no cultivo do tabaco, leite, aipim, milho e subsistência e nesse momento é está focada na produção de soja.