Com 75 mil famílias associadas, a mais antiga cooperativa de energia do Brasil, a Certel, com sede em Teutônia, se prepara para crescer. Com 68 anos completados em 20 de fevereiro, está presente em 48 municípios e está direcionada para o futuro, projetando uma expansão considerável do serviço com a abertura da comercialização no mercado livre de energia.
Com quatro hidrelétricas e três usinas solares, a Certel quer ir além, com projetos de geração no Vale do Taquari. A Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Vale do Leite, que será construída entre Pouso Novo e Coqueiro Baixo, aguarda liberação de cunho ambiental da Aneel e tem o início das obras previsto para este ano. O investimento de R$ 78 milhões vai promover a geração de energia para 20 mil pessoas. O empreendimento reforça o potencial do cooperativismo, já que, por meio da integração intercooperativas, o financiamento será do Sicredi, com a participação de quatro regionais – Teutônia, Lajeado, Encantado e Soledade.
Outra obra que vai impulsionar a geração de energia e beneficiar diretamente o Vale do Taquari é a Hidrelétrica Bom Retiro, junto à barragem eclusa. A cooperativa ainda aguarda licenças ambientais para dar início à estrutura física. A usina terá capacidade para fornecer energia elétrica para 100 mil pessoas, num investimento superior a R$ 250 milhões.
Os investimentos, avalia o presidente da Certel, Erineo José Hennemann, fazem parte do plano estratégico e visam capacitar a cooperativa para atender a uma demanda cada vez maior por energia de qualidade. Além disso, a abertura do mercado livre de energia para todos os consumidores, previsto para ocorrer entre 2026 e 2027, colocará a Certel em outro patamar. Hoje já atende a este mercado, que ainda é restrito a empresas de médio e grande porte e tem consumidores de vários estados. “Vai ser uma explosão. Estamos nos preparando para a atender a população do Vale do Taquari, porque aqui temos um prestígio, uma credibilidade muito boa. Mas tenho certeza que não será só o Vale que vai nos dar preferência”.
O principal diferencial da Certel, avalia Hennemann é o preço menor, a qualidade no atendimento, na comunicação e no relacionamento com o cliente. Justamente para manter essa qualidade, que rendeu à cooperativa, em 2023, o prêmio de Melhor Distribuidora Permissionária acima de 10 mil Unidades Consumidoras, conferido pela Aneel, que há investimentos em todo os setores. O crescimento precisa ser ordenado e já vem sendo projetado há anos, defende o presidente.
Só em tecnologia envolvida na geração de energia os investimentos em melhorias são de aproximadamente R$ 30 milhões. Hennemmann garante que hoje a cooperativa atua com tecnologia de ponta, como monitoramento das usinas, subestações e redes feito em Teutônia, o que permite uma intervenção remota. O circuito em anel, onde há mais de uma rede de operação, também é uma realidade. Com isso, se for necessário desativar uma das redes, o fornecimento de energia elétrica é mantido, sem perdas ao consumidor. “Temos essa visão de que energia que falta é prejuízo para todo mundo”, afirma.
Para tornar ainda mais rápido o restabelecimento da energia elétrica em casos de temporais ou outros imprevistos, a cooperativa vai implantar uma sede operacional em Lajeado, no bairro Montanha, facilitando a logística das equipes. “Será que teria outra empresa que faria isso? Acho difícil alguém investir para melhorar o atendimento, mesmo sabendo que vai ter um custo mais elevado. Mas vai ter um associado cada vez mais satisfeito com nosso trabalho e isso é condição para fazer as melhorias”.
*Capacitação constante*
Para que tudo funcione da melhor maneira, a capacitação do quadro de pessoal é fundamental. Com cerca de 800 funcionários, o treinamento é constante, tanto para funções administrativas, como dos técnicos responsáveis pelas redes, cuja equipe está treinada para atuar com segurança em rede energizada de até 69 mil volts.
O presidente ressalta que há programas internos voltados para o cuidado com o funcionário e um plano de cargos, salários e benefícios. A direção entende que investir nas pessoas faz diferença nos resultados. Observa que a Certel recebe inúmeros elogios e, se isso ocorre, é porque a equipe entende o propósito da cooperativa e sabe que ela pertence aos associados, que devem ser bem-atendidos em todos os setores.
*Cooperativismo*
Erineo, que também preside a Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, a Fecoergs, ressalta o cooperativismo como o melhor modelo de negócios. Defende que, para isso, é fundamental que haja a prática dos princípios cooperativistas, que o associado os compreenda e participe, seja atuante. Avalia que o trabalho que a Certel tem feito, por meio dos seis núcleos que são canais abertos para ouvir e informar o associado, aumenta a credibilidade.
Ele, que está na Certel há 50 anos – começou como estagiário e foi galgando posições até se tornar presidente há 10 anos – diz que o cooperativismo é um sistema exigente para com seus líderes. Inúmeras vezes precisam abdicar de prioridades que outras pessoas teriam em prol dos interesses da cooperativa. Não à toa, manter-se estudando é fundamental.
As cooperativas que integram a Fecoergs têm um plano de padronização e conhecimento, no qual buscam profissionais com expertise em cada segmento para repassar conhecimento, visão de cenários, desafios e oportunidades. “A ideia é errar o mínimo possível e para isso buscamos pessoas mais experientes e capacitadas para nos orientar. Não sabemos tudo, é preciso aprender sempre”, reforça.
Hannemann ainda salienta o caráter social e comunitário do cooperativismo, a exemplo do programa de Mãos Dadas com a Saúde, que envolve sete hospitais, e o Programa de Incentivo a Entidades, que beneficia vários segmentos, como a educação, cultura e esportes.
*Negócios*
Além da geração e distribuição de energia a Certel atua no varejo, com as Lojas Certel, e possui a indústria de artefatos de cimento, que produz postes de concreto e pré-moldados para a construção de pavilhões e galpões. Se num primeiro momento a indústria foi criada para atender a uma demanda própria, criada pela substituição dos postes de madeira pelos de concreto, hoje se destaca no mercado. Produz postes de concreto para 25 cooperativas de energia, além da RGE e CEEE Equatorial.
Uma das novidades que chega ao mercado neste mês de março é tijolo de concreto leve estrutural. O produto inovador tem 28% de poliestireno expandido, o EPS, na sua composição. O resultado é uma peça mais leve, com isolamento termoacústico, maior resistência à umidade e que reduz as perdas no canteiro de obra pela resistência do concreto. Além disso, contribui para com o meio ambiente, uma vez que utiliza EPS reciclado. O tijolo é resultado de um amplo trabalho de pesquisas dos profissionais da Certel visando oferecer um produto diferenciado ao mercado.
Foto: Isoldi Bruxel