Líderes empresariais e entidades de classe do Vale do Taquari voltaram a cobrar mais praticidade na acessibilidade das operações financeiras de crédito anunciadas pelo governo federal, para socorrer atividades econômicas locais afetadas pelos desastres climáticos de setembro e novembro de 2023. Além da inclusão das Cooperativas de Crédito e as instituições financeiras oficiais do RS no Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e Programa Emergencial de Acesso a Crédito (Peac), são pleiteados o aumento do fundo garantidor para assegurar a liquidez necessária ao atendimento de um maior número de atingidos pelos fenômenos climáticos, e inclusão de subsídios no Pronaf operado pelas Cooperativas de Crédito. Paralelamente, as empresas de grande porte ainda aguardam as linhas especiais do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) que também foram prometidas no decorrer do ano passado. Foram anunciados: R$ 400 milhões pelo Pronampe a um teto de R$ 150 mil para pequenas empresas; R$ 1 bilhão do BNDES a um teto de R$ 2,5 milhões para empresas de médio porte; e R$ 300 milhões pelo Pronaf a um teto de R$ 250 mil. Entretanto, a liberação tem sido alvo de questionamentos por parte dos empresários.
O economista Oreno Ardêmio Heineck, conselheiro da Federasul, avalia que houve limitação na distribuição de recursos do Pronampe e Peac, a uma minoria de empresários, e concentração na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, que por serem bancos oficiais, restringiram acessos. A falta de criação de um fundo de aval e carência, para capital de giro a longo prazo, e ineficiência do escritório técnico federal em Lajeado, também deixaram a desejar. Por outro lado, observa que a região teve pouca capacidade de constranger o governo federal, e o governo estadual se omitiu não utilizando operações do Banrisul e Badesul, e tomou medidas equivocadas no aumento do ICMS, onerando ainda mais o setor produtivo de alimentos. “Nossa economia está estagnada, com a atividade industrial desacelerada, a taxa de desemprego está subindo e a criminalidade aumentando. Neste cenário, a coragem de investir está diminuindo e a retomada será ainda mais desafiadora”. Heineck destacou a sensibilidade e postura do Sicredi que atendeu a reinvindicação de cooperativas e entidades empresariais insatisfeitas com o engessamento do Pronampe e altas taxas do Peac, disponibilizando aos associados linhas de crédito a juros fixos de 1%.
PRONAMPE OPERA MAIS DE R$ 4 MILHÕES EM ARROIO DO MEIO
O gerente da agência do Banco do Brasil (BB) de Arroio do Meio, Luciano Pastorini, destaca que o Pronampe Calamidade contemplou cerca de 68 empresas em Arroio do Meio, liberando um total de R$ 4 milhões, entre outubro e dezembro, somente no BB. Além da carência de um ano, o subsídio de 30% deduziu praticamente toda a taxa de juros. Ele avalia que a adesão só não foi maior por causa dos critérios do Banco Central e cruzamento de dados com a receita federal. Só foi liberado 30% do faturamento declarado do exercício de 2022 a um teto de R$ 150 mil. Estando em dia com a documentação e critérios, bastava o cliente assinar declaração de que foi afetado. No Pronaf Investimento também foi estendido o subsídio de 30% limitado a R$ 15 mil e um ano de carência, e taxas de juros de 4 a 6% ao ano. “Teve pouca procura. Muitos não se enquadravam e acabou sobrando verba. Não teve a modalidade de custeio-calamidade”. Fora isso, o BB operou linhas do INSS, antecipando até dois salários de aposentados correspondentes aos dois decretos de calamidade pública, parcelados em 36x sem juros. A janela para adesão fecha em maio.
TAXAS ACIMA DE 8% SÃO INVIÁVEIS
A Disim acumulou um prejuízo superior a R$ 5,5 milhões com perda de 90% do estoque de serviços que estava na matriz situada no bairro Navegantes. O sócio-proprietário Diego Simonetti está sem esperança em ser indenizado pela seguradora e não encontrou linhas atrativas nas instituições financeiras. “Taxas acima de 8% ao ano são um suicídio administrativo. Nenhum recurso anunciado veio. Estamos recomeçando do jeito que começamos há 15 anos. Sem acelerar os passos e evitando o endividamento”, destacou. Em setembro, a empresa havia levantado o estoque um metro acima da inundação de 2020, conforme alertado pela Defesa Civil, porém, não estavam preparados para uma catástrofe. “No fim da madrugada do dia 5, em menos de uma hora o rio subiu 1,9m. Quando paramos de tentar zelar pelo estoque e buscamos salvar nossa própria vida. O barqueiro Gustavo Boehren trouxe 52 moradores das imediações para ficarem a salvo no último andar da minha casa. Me criei no rio. Nunca vi tanta correnteza. Saímos com o barco para buscar combustível para o gerador e mantimentos. Temi pela vida”, relatou Simonetti que explicou que a maioria dos componentes eletrônicos somente tem sobrevida caso o conserto ocorrer em até três horas depois de ficarem submersos. Ainda em meio à limpeza dos escombros, a matriz foi atingida pela segunda vez. Fator determinante para mudanças operacionais.
“Mudamos o setor administrativo para loja na ERS-130. Tivemos que alugar um pavilhão no Aimoré para estoque. Estamos concluindo o Centro de Distribuição no Morro Vermelho, e pretendemos construir ao lado para frota. No momento, a logística é péssima e a operação em quatro pontos dificulta a gestão. Os planos de expandir em energia renovável e mobilidade urbana vão ficar para um outro momento. Não sabemos o que vamos fazer com o pavilhão da matriz. Poucas empresas restaram no bairro Navegantes. A atividade econômica e questões habitacionais estão angustiantes”, relatou.
É NECESSÁRIO RESPONSABILIZAR POSTURAS LEVIANAS
O empresário Fernando Fensterseifer, tesoureiro da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC- -VT) e diretor da Federasul, disse que os recursos para habitação são louváveis, mas se disse preocupado com as empresas que asseguram os empregos. “Empresas importantes na economia tiveram prejuízos milionários e impactos expressivos. Todos estavam contando com os recursos anunciados, ao menor valor de juros do mercado para ganhar fôlego e continuar as operações. Os políticos deveriam ser responsabilizados por anúncios não concretizados. Isso mudaria posturas levianas.
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