Na propriedade da família Gabriel, na Barra do Forqueta, as perdas imediatas – uma área de milheiro e capim sudão para silagem, três mil litros de leite que não foram recolhidos e a queda na produtividade pela falta de ração – ainda são menos significativas do que as que estão por vir. Mesmo com os galpões, maquinário e animais a salvo, Karine, que atua com os pais Nestor e Márcia e a irmã Caroline, já sabe que haverá impactos consideráveis na propriedade logo ali na frente. “Agora é época de semear azevém e aveia, mas por causa do lodo a gente não consegue entrar na lavoura nem de trator e muito menos a pé. Ficamos atolados de tanto lodo. Com isso vamos ficar sem pastagem para as vacas e sem condições de fazer pré-secado, o que acaba gerando muito prejuízo, porque será necessário comprar o feno pré-secado de outros”, avalia, observando que dos 50 hectares que a família planta, 30 ficaram com lodo.
A agricultora ainda reforça que há pontos com 80 centímetros de lodo sobre o solo que seria plantado. “Não sabemos quando vamos poder entrar nesses lugares e até secar tudo isso vai levar meses. E além de tudo, as drenagens que fizemos, com tubos de concreto, ficaram entupidas, assim como as valetas, e agora a água não tem como drenar e nas áreas mais encharcadas, mesmo não tendo mais o lodo, não vamos conseguir plantar”. Para mitigar os prejuízos, a família já tomou algumas decisões. Cinco animais que estavam na lista de descarte e que seriam comercializados futuramente, já foram vendidos.
“Queríamos ter esperado para vender, mas agora que aconteceu isso acabamos vendendo e também carneamos dois para consumo próprio para diminuir o trato. Já perdemos muito com os temporais que teve antes da enchente. O vento e o granizo acabaram com as lavouras de milho, colhemos nem a metade da safrinha e futuramente também vamos ter de comprar silagem”, pontua Karine, ressaltando que tudo será atrasado por conta dos eventos climáticos. Perdas de quase R$ 50 milhões O laudo circunstanciado com estimativas de perdas por conta dos recentes eventos climáticos foi concluído em 15 de maio.
O levantamento dimensiona prejuízos de R$ 48.910.302,44 diretos e indiretos nas culturas, na criação de animais, nas infraestruturas domiciliares e produtivas, dentre outros. O impacto pode ser ainda maior, já que haverá restrições futuras na produção agrícola e agropecuária, seja por conta das perdas de fertilidade do solo – são 1934 hectares prejudicados – ou pelas dificuldades na criação de animais e bovinocultura de leite, entre outras atividades. Também há situações difíceis de serem mensuradas em moeda, a exemplo da infraestrutura domiciliar e emergências socioassistenciais das famílias.
Na agricultura, as perdas estão estimadas em R$ 7.051.869,44 e na pecuária são mais R$ 7.232.433,00 (veja quadro). Somam-se a estes valores R$ 34.626.000,00 que é a estimativa dos prejuízos ocasionados pela falta de estrutura viária – pontes e estradas sem condições de trafegabilidade – o que dificultou a chegada de alimentação aos animais, os danos nas agroindústrias na cultura de hortaliças, na apicultura, em açudes, em silos, galpões, pocilgas, aviários, máquinas e equipamentos agrícolas, no solo, que vai demorar de quatro a cinco safras para que a produção atinja os níveis normais, além de 13 habitações rurais que foram destruídas e outras várias que ficaram alagadas.
O laudo é assinado pelo engenheiro agrônomo da Emater-RS/Ascar Cezar Burille, coordenador da Defesa Civil de Arroio do Meio Valdecir Crecencio, presidente do Conselho Municipal da Agropecuária (Conar) e secretário municipal de Agricultura Élcio Roni Lutz. A Regional Lajeado da Emater/RS-Ascar ainda não tem dados oficiais das perdas e prejuízos no meio rural em toda a área de abrangência. As equipes seguem trabalhando no levantamento detalhado a campo. Conforme o gerente-adjunto, Carlos Lagemann, todos os 55 municípios da Regional – 36 no Vale do Taquari e 19 no Vale do Caí – foram afetados. Alguns com mais ou menos severidade.
Foto: Karine Gabriel