Desde a semana passada, voluntários ligados ao Movimento dos Pequenos Agricultores, Sindicato de Trabalhadores Rurais, Cáritas e outros movimentos sociais, visitam famílias rurais atingidas pela enchente de maio, na ação intitulada Missão Sementes de Solidariedade. Além de prestar solidariedade, o grupo está fazendo um levantamento das perdas e necessidades e disponibilizando um kit com sementes, mudas e ramas de alimentos e flores, pensando na subsistência e na autoestima familiar. A estimativa é de que sejam visitadas em torno de 600 famílias em Arroio do Meio, Capitão, Travesseiro e Cruzeiro do Sul.
O líder do MPA na região, Lari Hofstetter, calcula que já tenham sido visitadas a metade das propriedades atingidas e o trabalho segue nos próximos dias. Observa que as pessoas têm necessidade de conversar, de expor como estão se sentindo e compartilhar suas angústias em relação ao futuro.
Ele reforça que o próprio nome da ação – Missão Sementes de Solidariedade – tem muito significado. “A missão para nós é um termo muito importante. Nos mostra um caminho a seguir, difícil de abraçar, mas depois de compreender o significado mais amplo a gente percebe o quanto podemos ajudar o outro realizando alguns sacrifícios, por aqueles que verdadeiramente sentem em sua carne, o desastre ambiental, que nos assusta e leva a maioria das pessoas a terem uma nova visão de mundo. Necessitamos dessas reflexões para que tenhamos um ambiente digno para sobreviver. Não são raras as pessoas que têm opiniões divergentes das que nós temos enquanto Movimento dos Pequenos Agricultores”.
Lari observa que o MPA sempre incentivou a agricultura familiar tal como ela se desenvolve, com uma tecnologia que precisa ser adequada ao meio em que em que se dá sua produção. Entende que a maioria das tecnologias atualmente desenvolvidas, não estão adequadas a pequena agricultura. “Só nessa área temos uma imensidão de questões para debater. Sempre defendemos e os pequenos agricultores nunca tiveram dúvidas de que a preservação ambiental era muito importante.”.
Outro ponto para o qual chama atenção é o impacto de alguns sistemas de produção introduzidos no estado a partir de 1960, a exemplo da monocultura da soja. “Hoje produto com resultados importantes para a exportação, cujo retorno se dá para as fábricas de maquinários, e alguns detentores de grandes áreas de terras no país. Com esse processo em andamento, se desenvolveu a ideia de que para aumentar a produção, se deveria ter mais e mais terras, eliminando-se, consequentemente olhos d ‘água, açudes, pequenos córregos e enormes matas. Achamos que a esses fatos se multiplicaram outras questões de valor importante para que chegássemos onde estamos”.
Esperança
Para Lari as visitas neste momento, com a tragédia ainda presente, vão dar uma ideia muito próxima da realidade dos agricultores. “As suas perdas na produção, na destruição das moradias, galpões, chiqueiros, estrebaria, perdas da terra, sementes, pastos, animais e familiares. Estamos levando para cada família o nosso apoio fraternal e a esperança de que nem tudo está perdido. Percebemos em nossas andanças pelo interior dos municípios devastados, que muitos estão carregados de desesperança, pois, viram em poucas horas, que tudo o que construíram durante dezenas de anos, desapareceu. Vimos tantos outros que também nos abraçam e clamam por uma sociedade mais solidária e confiam que conseguirão se restabelecer. Muito se fala sobre a necessidade da presença de Deus”.
A partir das necessidades apontadas nos questionários, o MPA vai elaborar uma pauta de lutas para apresentar aos governos municipal, estadual e federal.
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