“O episódio que ocorreu fim de abril e começo de maio foi inédito. Um fenômeno nunca visto antes e não encontrarão algo assim na história. Não se pode comparar nem com o ano de 1941, pois naquela época foram 24 dias de chuva e agora aconteceu em uma semana. Quanto menor o período e mais chuvas, menor a vazão da água e assim ocorrem as grandes enchentes.” As palavras são do observador meteorológico de Soledade, Paulo Henrique Pinheiro, que atua na área há mais de 30 anos. Toda a semana realiza lives em sua página do Facebook sobre previsão do tempo para diversas regiões como a Serra do Botucaraí e Vale do Taquari.
“Eu sempre busquei alertar as autoridades com o que houve em setembro e em maio para retirar o quanto antes as pessoas próximas dos rios e dos morros. No ano passado foram só as enchentes, mas agora, além da força das águas os deslizamentos. O acumulado de chuva do mês passado foi muito alto aqui para Soledade, Fontoura Xavier, Serra e os municípios próximos das nascentes do Fão e Rio Forqueta.”
PH, como é conhecido, cita que o fenômeno El Niño é um sistema que colaborou para as chuvas histórias, no entanto, há outros fatores que precisam ser levados em conta como as mudanças climáticas. Neste momento, há um período de neutralidade na atmosfera, porque há a transição da saída do El Niño para a chega da La Niña marcada por inversos frios, pouca chuva e estiagem. “O tempo em que o fenômeno permanece é variável. O último que tivemos durou três anos e muda de acordo com a região.”
Como será o inverno e os próximos meses no Rio Grande do Sul?
O meteorologista Piter Scheurer, em um vídeo em sua página no YouTube, trouxe um panorama geral do que será o inverno gaúcho e os próximos meses quando o assunto é a previsão do tempo. De acordo com as informações, o mês de junho na segunda quinzena terá precipitações de chuvas em função de frente fria que chega. Também há períodos em que as manhãs e noites são mais amenas, mas com a tardes próximas dos 28 graus.
Para julho e agosto, a expectativa é de que ocorra volumes de chuvas abaixo da média, com duas ou três frentes frias, mas a segunda quinzena de agosto poderá ser mais úmida. Temporais isolados com a chegada das frentes não estão descartados com curta duração. Haverá períodos de geada e possibilidade de neve em locais da Serra, mas sem intensidade.
“A La Niña está começando no oceano, o frio vai aumentar aos poucos e ficar mais forte, vem de forma tardia o inverno. Em julho entra a primeira massa de ar polar. Pode ter temperaturas negativas de até três graus e se é acima disso é uma super La Niña.”
Scheurer também explica que em setembro e outubro aumentam as precipitações de chuvas mais regulares e que em novembro começa um período de estiagem. O pico deve ser em novembro, dezembro e janeiro com a falta de chuva e temperaturas amenas. A La Niña ficará vigente por todo o ano de 2025. “Esse inverno não será tão rígido em relação ao ano que vem pelo fato de o fenômeno estar iniciando. Em março e abril, já teremos um tempo de frio rigoroso e com geada.”
Alguns números de chuvas em maio
Conforme Pinheiro, em Soledade e região, houve o maior volume de chuva em 24h, fato que foi manchete no mundo como a segunda cidade com este registro no planeta em 2 de maio, com 245mm. Recorde de maior acumulado de chuvas num período de oito dias no Estado, com 825mm em Soledade e 998mm em Fontoura Xavier. Na estação Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) em Nova Araçá, limite com Serafina Correa, choveu 1025mm no período. Já a estação pluviométrica da ANA localizada nas proximidades da PCH Salto Forqueta no município de Putinga, registrou 930,2mm de chuva. Os números são considerados recordes mensais, para qualquer mês do ano, em todos os tempos no estado do RS, desde que se tem registros.