A agricultura, em especial a bovinocultura leiteira, ainda pode ser uma atividade rentável na opinião do agricultor Eliseu Alves, de Arroio Grande, Arroio do Meio. Principalmente se o produtor não depender de mão de obra terceirizada ou do arrendamento de terras para o plantio de pastagens e de milho para a silagem. “Se tiver muito financiamento a receita também fica mais comprometida”, avalia. Ele, que planta 25 hectares e maneja um plantel de 70 animais, sendo 40 vacas em lactação, percebe que nos dias atuais, com o auxílio de máquinas e da tecnologia, o trabalho no meio rural ficou menos braçal. Por isso, não vê grandes desafios em atuar sozinho na maior parte das atividades, já que terceiriza apenas a máquina que faz a silagem, e gosta do que faz.
“Claro que tem serviços que são manuais, mas muito menos do que era no passado. As experiências que a nossa geração tem, por ter vivido uma realidade muito diferente, sem energia elétrica e água encanada em casa, com o trabalho muito mais pesado, e ter passado por essa transição e hoje ter tanta tecnologia que facilita a vida, nenhuma outra geração vai ter. O conhecimento adquirido no interior é muito maior”, afirma, observando que é mais fácil alguém que passou por esta transição se adaptar sem as tecnologias atuais, do que um jovem, que não tem a experiência anterior, ficar sem elas.
Impactos do clima
Embora a propriedade da família Alves não tenha sido diretamente atingida pela enchente de maio, também contabilizou perdas. Foram cinco mil litros de leite não recolhidos em função da logística dificultada. O volume representou em torno de 25% da produção do mês. Fora isso, a instabilidade climática segue impactando, já que as pastagens não se desenvolvem como deveriam em função do excesso de umidade e falta de luz solar. Segundo Eliseu, o normal desta época do ano seria uma produção maior, com um custo menor, já que as pastagens, que custam menos, supririam o maior volume de trato. No entanto, a realidade é bem outra. Sem o pasto, o rebanho consome mais silagem, que é mais cara e ainda impacta na saúde reprodutiva das vacas, necessitando de assistência de médico veterinário e medicação. O resultado é queda no volume de leite produzido e uma margem de lucro menor. Ele espera uma reação positiva para os dois próximos meses.
Venda do leite
O valor recebido por litro entregue à cooperativa Languiru segue estável. Alves avalia que tem sido superior, em alguns centavos, ao praticado por outras empresas.
Isso graças a um programa de incentivo federal que a cooperativa recebe por não importar leite. Ele, que há anos é associado da cooperativa que está em liquidação extrajudicial por causa das dificuldades financeiras, percebe que o segmento leite ainda é o que tem sofrido menos impactos em função do acordo feito com a Lactalis. No entanto, não acredita que a cooperativa possa se reerguer totalmente. Para isso julga que seria necessário um grupo diferente do atual na condução dos trabalhos. Da mesma forma, considera que a venda de patrimônio nas atuais circunstâncias também não é benéfica para a empresa, já que está sendo feita em um momento de necessidade, o que acaba diminuindo o valor. A questão das dívidas, que é uma preocupação de muitos agricultores que são ou foram vinculados a Languiru, não assusta Eliseu. Afirma que não tem participado das assembleias e que em determinada oportunidade, há mais tempo, foi barrado e ameaçado por apontar falhas e situações descabidas que ocorriam. “Hoje não vale mais a pena eu sair. Devia ter saído há uns cinco anos. Recentemente até fui me informar para sair, mas aí eu teria de pagar R$ 240 mil, que seria a minha proporção da dívida de acordo com a minha cota capital.” Apesar de o cenário que se apresenta desfavorável, Eliseu se diz tranquilo, pois lembra que houve situações parecidas no passado e quem acabou arcando com o prejuízo foram os credores, não os associados.
Foto: Salete Sebastiany Alves