“Meu nome é Fabio Felipe Scheuermann, tenho 45 anos e, desde os 21, trabalho como motorista de ônibus, ambulância e caminhão. Desde 2007, sou concursado na prefeitura de Travesseiro como motorista durante o dia, e à noite faço o transporte escolar em uma empresa terceirizada. De todas as experiências que tive como motorista, a mais impactante ocorreu no ano passado, quando a Administração de Travesseiro solicitou que eu auxiliasse na enchente de setembro em Arroio do Meio. Foi chocante ver a tristeza das pessoas que tinham perdido suas casas, móveis, pertences e memórias. Não tinha como não se emocionar com essas famílias, que paravam desorientadas, olhando para a cena sem acreditar no que viam. Voltava para casa agradecendo por ter um lugar para morar e dormir, enquanto muitos dormiam em ginásios. Cada vez que meu caminhão era carregado com entulhos, sentia a tristeza de ver o suor e a história de muitas famílias sendo descartados.
Mesmo sendo um simples motorista, era impossível não ser solidário e me colocar no lugar do outro. Como se não bastasse todo esse sentimento vivido em setembro, em maio de 2024 foi a vez de Travesseiro. Na madrugada do dia 30 de abril, recebi uma ligação solicitando que eu pegasse o caminhão para ajudar as famílias do município a retirar seus pertences devido a uma nova enchente. Desta vez, era preciso ajudar as pessoas do meu município a salvar seus bens. O mais triste de tudo era ver vizinhos, amigos e conhecidos pedindo por ajuda. Não era apenas dirigir o caminhão, mas também auxiliar no carregamento. Meu sentimento era de querer ajudar o maior número possível de pessoas, e ajudei sem medir esforços. Para piorar, minha casa também foi atingida na madrugada de quinta-feira, 2 de maio. Em meio ao caos, sem acesso, ocorreu um fato marcante e triste: a morte de uma pessoa em sua residência no município. Sem acesso com um carro pequeno até a casa do falecido, precisei transportar o caixão de caminhão até a casa da família. Desse dia em diante, fui incansável na ajuda à reconstrução de estradas. Diante de tudo isso, afirmo que sou uma pessoa que tem muito amor à profissão de motorista, pois é preciso muita responsabilidade e dedicação.”
Foto: Arquivo Pessoal


