A conquista de uma casa por meio do programa Minha Casa Minha Vida Rural – Reconstrução RS, dá ânimo para o agricultor Darlei André Schmitt, da localidade de Passo do Corvo, Arroio do Meio. A casa em que reside com a mãe, Maria Helena Schmitt, 65 anos, e a namorada Taísa Parolin, 24 anos, foi atingida por três enchentes em um intervalo de oito meses – setembro e novembro de 2023 e maio de 2024.
Além das perdas na moradia, a água causou inúmeros estragos na propriedade e frustrou ao menos duas safras de milho que já estavam plantadas, tanto em setembro como em novembro. No evento climático de maio, houve danos consideráveis nas estruturas, a exemplo de um galpão que ficou destruído, e nas terras que ficaram cobertas pela lama e troncos de árvore. O estoque de silagem, que duraria até um ano e meio, foi todo levado pela correnteza. Os insumos também foram perdidos.
O jovem, que quer seguir na atividade rural, afirma que a perspectiva da casa nova dá um alento para encarar os desafios presentes e futuros. “É um sonho realizado. Sempre se tem prejuízo com a enchente e não sobra dinheiro para fazer uma casa nova. O bom é que pelo programa podemos construir a casa na nossa terra, diferente se fosse um financiamento, que teria de comprar um terreno na área urbana. Assim vamos ficar na propriedade que é da família e continuar na agricultura”.
Ele lamenta que o local onde os pais construíram a casa em que ele e os irmãos cresceram tenha sido atingido pela água. “É um lugar bonito, trabalharam muito tempo para fazer tudo do jeito que queriam. O sonho do pai, falecido há três anos, era ter um quiosque de madeira, com móveis sob medida. Agora a enchente estragou tudo”, afirma, destacando que irá construir em um local mais alto, distante de onde a enchente chegou.
Darlei ainda não sabe ao certo os rumos que serão dados à propriedade, pois não há como dimensionar o tempo necessário para adentrar nas áreas cobertas pela lama. Conta que até o início do ano a principal atividade da família era a suinocultura. Em função da necessidade de novos investimentos, decidiram parar. De certo modo, a decisão impediu um cenário ainda pior, já que em maio a enchente invadiu um dos galpões de alojamento e, muito possivelmente, haveria mortandade de animais.
Por enquanto, concilia a agricultura com o trabalho de motorista de transporte escolar. “No futuro próximo quero voltar a me dedicar totalmente para a nossa propriedade. Ainda não sei exatamente o que vamos produzir, mas eu gosto de trabalhar na agricultura e quero dar continuidade”.
Muitas mãos
Para Darlei, muitas pessoas colaboraram até ele e a namorada realizarem o sonho da casa própria. “Quero agradecer a mãe que sempre incentivou. Tenho certeza que o pai ficaria feliz em saber que vamos continuar em casa, na nossa terra. Também quero agradecer à Janice e a Alessandra do sindicato (STR) que auxiliaram e deram todo o suporte e as informações necessárias. E agradecer a todos os vizinhos que ajudaram muito nas enchentes. Tanto para tirar as coisas de dentro de casa quando a água estava subindo, como depois, dando abrigo e cuidando dos nossos animais. Toda a ajuda que recebemos foi muito importante”.
A construção da nova casa deve iniciar em setembro ou outubro. A expectativa é para tentar a conclusão até dezembro. “Seria um grande presente de Natal”, comenta. Assim como Darlei, muitas famílias rurais têm na nova casa um recomeço depois de momentos de medo e incertezas.
OBJETIVO É CONCLUIR AS CASAS ATÉ O FIM DO ANO
Famílias rurais beneficiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida Rural – Reconstrução RS podem encerrar o ano de casa nova. Pelo menos esta é a expectativa da Cooperativa de Habitação Camponesa (CooperHab), a entidade que faz a intermediação de 179 das 307 unidades habitacionais, cujos contratos foram assinados em Marques de Souza na primeira quinzena de agosto. São 10 para Arroio do Meio, seis em Travesseiro e cinco em Marques de Souza. Em todo o Vale do Taquari são 58.
Conforme o presidente da CooperHab, Caio Santana, a equipe está concluindo o levantamento de preço dos materiais e, no início de setembro, devem ocorrer as reuniões com os grupos de beneficiários, fornecedores, construtores e equipe técnica da cooperativa para as definições da próxima etapa. A ideia é que as obras de cada grupo iniciem simultaneamente e mantenham a mesma velocidade para que a conclusão esteja alinhada. “Como assinamos em grupo, não queremos que uma casa esteja pronta agora e outra só daqui seis meses. Trabalhamos para que todas estejam concluídas no mesmo período”, explica.
Dentre as atribuições da CooperHab está todo o suporte técnico, a exemplo do projeto arquitetônico e acompanhamento da evolução da obra, bem como a parte social, que engloba desde conscientização ambiental até orientações para manutenção da casa e seu entorno. A cooperativa, explica Caio, é a entidade que opera e faz a intermediação da política habitacional, ficando responsável por todo o serviço burocrático, a exemplo do encaminhamento da documentação da família e os trâmites necessários para a obra. A contratação da mão de obra fica a cargo das famílias.
Nesta etapa do programa Minha Casa Minha Vida Rural – Reconstrução do RS, cada beneficiário recebe uma subvenção econômica de R$ 86 mil, sendo R$ 80.410,00 para a obra e o restante para os custos operacionais, a exemplo da parte documental e técnica, acompanhamento social e a liberação financeira. Conforme Caio, no Vale do Taquari, a tendência é de que o valor comporte a compra de todo o material e ainda sobre um percentual, que vai variar de acordo com o tamanho do imóvel, para o custeio da mão de obra. A compra conjunta com um único fornecedor para todas as casas do mesmo grupo, ajuda a garantir um preço melhor e também a paridade, com o mesmo material para todos.
Santana explica que o material utilizado segue um padrão de segurança e habitabilidade e que a família pode optar por algo diferente, especialmente nos acabamentos, desde que cubra a diferença. A única coisa que não pode ser alterada é na estrutura base do imóvel. “Temos quatro modelos de planta baixa, partindo de 49,5 m², com dois dormitórios, até 64,5 m² com três dormitórios, a fim de atender a diferentes composições familiares”.
Vários envolvidos
Para que o sonho da casa nova se torne realidade no meio rural, Caio ressalta que é necessário o envolvimento de muitas mãos. “Desde o poder público, que auxilia com terraplanagem e abertura de fossas, até a comunidade que apoia a iniciativa. Nós como entidade, estamos fazendo nossa parte. Queremos assumir o compromisso, junto com fornecedores e construtores, para tentar concluir as casas até o fim do ano para dar um Natal mais digno para essas famílias”.
SÍMBOLO DE RECONSTRUÇÃO
Entre as famílias beneficiadas está Auri Venter, 82 anos e Iracema Venter, 75 anos, que residem em Barra do Fão, Travesseiro. Eles tiveram a sua casa destruída pela enchente do rio Forqueta no mês de maio. Auri, que viveu toda sua vida em Barra do Fão, disse que o prédio destruído foi construído em 1958, servindo por um período também como casa comercial que tinha com seu irmão Hélio.
Auri, aposentado, que também foi motorista de ônibus por alguns anos, afirma que a enchente destruiu sua casa e todos os móveis. “Perdemos tudo. Fico muito grato com a ajuda que vem do governo federal para poder reconstruir uma casa na mesma propriedade em local mais alto”. Além de Auri Venter, outras cinco famílias devem ser beneficiadas pelo programa em Travesseiro.
Foto: Arquivo Pessoal