João Vitor Führ é campeão cearense sub-20 com o Fortaleza. De quebra, o arroio-meense de 19 anos marcou um golaço de bicicleta nos acréscimos do segundo jogo da final que encaminhou o título sobre o maior rival Ceará. Uma grande emoção para João Vitor que enfrentou desafios, superou lesões e deu a volta por cima na carreira.
Aos seis anos, João Vitor começou a treinar na escolinha do Rui Barbosa, incentivado pelo pai Rui Führ. Com 12 anos, treinava também na Associação Lajeado de Futsal (ALAF) e conquistou o terceiro lugar com a equipe no Campeonato Gaúcho sub-13. Com 15 anos, treinou por alguns meses no Lajeadense, até que a pandemia de Covid-19 forçou uma paralisação geral.
Motivado pela mãe Janete Schneider Führ, João fez uma prova para ingressar no Colégio Bom Jesus São Miguel. “Passei na prova e comecei a estudar. Era o sonho da minha mãe. Nessa época, pensei em desistir do futebol profissional porque precisava me dedicar aos estudos”, lembra João Vitor.
Quando as coisas começaram a voltar à normalidade após a pandemia, João recebeu um convite para jogar na Ivo10 Brazil Football Academy, equipe sub-17 de Teutônia. Foi uma indicação do técnico do Lajeadense para o treinador da Ivo10 na época, Serginho Almeida. “Eu disse que não queria mais jogar bola, ainda mais em Teutônia, que era um pouco longe. Eu tinha aula à tarde e não ia conseguir ir em todos os treinos. Eles insistiram e pediram para eu ir, meu pai também insistiu e acabei indo lá treinar duas vezes na semana.”
Com o tempo, João foi se destacando nos treinos e jogos e passou a treinar todos os dias da semana. “Como estava bem nas notas, podia faltar nas aulas à tarde.” João disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior (Copinha) pela Ivo10, jogando de zagueiro, e chamou a atenção de olheiros do Atlético-MG, apesar de ter atuado poucos minutos devido a uma lesão no início da competição. “Nesse momento eu tive que fazer a escolha entre estudar ou jogar bola. Escolhi seguir o meu sonho e jogar futebol.”
Após fazer bons jogos defendendo a equipe teutoniense, João Vitor foi a Minas Gerais fazer o teste no Atlético-MG. “Acabei não passando, mas isso me ajudou na preparação para o próximo desafio.” Um olheiro do Palmeiras observou João Vitor em amistosos contra Grêmio e Internacional e o convidou para fazer um teste no clube paulista. “Fiquei lá duas semanas fazendo testes e fui aprovado.”
Grave lesão no joelho
Há um pouco mais de um mês no sub-17 do Palmeiras, João Vitor rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho em um lance no treino e teve que fazer a sutura do menisco. “Eu já havia jogado um jogo do Paulistão e a semifinal da Copa do Brasil contra o Sport. Tive que ficar um mês e meio de muleta, sem poder pisar no chão.”
Nesse período, João perdeu muito peso e condicionamento físico. Aos poucos foi recuperando os movimentos, mas ainda não conseguia dobrar e nem estender a perna completamente. Isso acabou atrasando a recuperação. Depois de estar recuperado, voltou a treinar e ganhou força e peso.
Porém, o zagueiro ainda sentia dores no joelho. “Falaram que era normal, às vezes inchava e doía bastante que chegava ao ponto de ter dificuldade para caminhar. Voltei para o DM, fizeram uma ressonância e constataram que havia a lesão ciclope no joelho.” A lesão ciclope é uma complicação cirúrgica que surge após o procedimento de reconstrução da ruptura do ligamento cruzado anterior. Ocorre um desgaste do novo ligamento, formando algo como um nó.
Os médicos do Palmeiras, no primeiro momento, indicaram que não seria necessária uma nova cirurgia, somente a fisioterapia. João retornou sem dores, mas sem ritmo de jogo e abaixo tecnicamente. “Depois de dois meses, fui dispensado. Voltei para casa e logo fui fazer um teste no Internacional. Fui aprovado na questão técnica, mas os médicos me avaliaram e viram que havia o cisto no joelho e falaram que eu deveria operar, porque o risco de lesão era alto.” O atleta voltou para realizar a cirurgia no Palmeiras, teve boa recuperação e foi emprestado ao Jacobina da Bahia.
Jogos no profissional
João Vitor atuou em duas partidas pelo Jacobina no Campeonato Baiano deste ano. A estreia foi contra o Bahia na Fonte Nova, com um público de 35 mil pessoas. “Foi uma experiência incrível. Nunca tinha jogado para um público tão grande.” João atuou também na partida contra o Juazeirense. O objetivo do clube de não ser rebaixado no estadual foi alcançado.
Após a competição, João Vitor retornou para o sub-20 do time baiano para a disputa do estadual. Jogou oito partidas de dez e voltou a atuar em alto nível. Com a desclassificação do Jacobina, o atleta retornaria ao Palmeiras, mas o clube paulista liberou o jogador para cumprir o restante do contrato em casa.
“Eu acabo não conseguindo voltar para casa por causa da enchente e vou com o grupo de jogadores do meu empresário para o Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul. Fiquei lá até conseguir retornar.” De volta a Arroio do Meio, João Vitor manteve a rotina de treinamentos e academia até receber uma ligação.
Gol de bicicleta na final
O Fortaleza ligou para o empresário de João Vitor interessado no zagueiro arroio-meense. Em julho, o atleta desembarcou em Fortaleza. “Comecei a pegar ritmo e entender o estilo de jogo, mas eu ficava no banco. Até que o zagueiro titular sofreu uma lesão e eu era a opção. Fui titular na semifinal e nessa final emocionante do Cearense.”
Fortaleza e Ceará duelaram pelo título do Campeonato Cearense 2024 sub-20. Na partida de ida, vitória do Fortaleza por 1×0. No confronto decisivo, no dia 30 de setembro, o Leão do Pici precisava apenas do empate para erguer a taça e saiu ganhando por 1×0. Com a vantagem de dois gols, o título parecia encaminhado, mas o Ceará empatou ainda no primeiro tempo e virou a partida no segundo.
“Eu já estava com a ideia de que iria para os pênaltis e com medo de precisar bater, porque não sou um especialista em pênaltis. Então, aos 47 do segundo tempo, depois de uma falta, a bola bate e rebate dentro da área e sobra no alto para mim. Não sei o que passou na minha mente, só agi no impulso e mandei de bicicleta e a bola morreu no fundo do gol. Fiquei sem reação, só gritava e corria para todo lado. A galera vinha me abraçava, me puxava. Foi um momento muito feliz.”
O Fortaleza ainda marcou mais um gol no fim e virou para 3×2, decretando a vitória e o título cearense invicto. “Foi muito especial para mim, poder ser campeão e conseguir ajudar a equipe, ainda mais fazendo um gol daquele jeito. Depois do jogo liguei para minha família, minha mãe e meu pai estavam muito emocionados, meu irmão Pedro Henrique estava muito feliz. Foi emocionante.”
João Vitor tem contrato com o Fortaleza até o meio do ano que vem, com opção de renovação por mais um ano. “Meu objetivo é ingressar no profissional e construir meu futuro aqui no Fortaleza.”
Foto: Arquivo Pessoal