Aqui, diante do brilho de um ano novinho, avalio as lonjuras do tempo. Recordo o tempo já ido… imagino o tempo que vem.
É bem natural a inquietação com os ciclos que rolam. A data oficialmente marcada anuncia que um deles fechou e que atingimos o limiar de um outro período. As reações são variadas. Muitos vão se escorar em milagres, como forma de peitar a incerteza. Para garantir alegria e saúde, vão pular sete ondas, comer lentilhas na ceia, vestir amarelo ou achar novas cores mais promissoras. Outros confiam-se no valor das promessas. Quanto mais difíceis de serem cumpridas, mais sorte elas puxam. Hão de fazer exercícios, malhar todos os dias. Talvez, mudar de trabalho, dar jeito de conciliar melhor as pontas da vida… Ou, finalmente, estudar uma língua estrangeira.
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Se for para combinar com o estilo que rege esta quadra do ano, eu me vejo em apuros. Não acredito muito em milagres, detesto lentilhas, já faço exercícios, já falo outras línguas e, em termo de cores, eu fico no azul e não abro. Até a pé eu vou engatada no azul...
Mas gosto deste clima festivo, sim, gosto. Principalmente, por sentir condições de escolher o roteiro a cumprir, ano por ano. Cada vez pode ser diferente. Adoro a opção de moldar a festança ao jeito em que eu posso caber. Não me assustam barulhos dos outros. Conquistei alvará de alargar o silêncio no tamanho que for. Este silêncio que desnuda as perguntas difíceis.
A mais difícil de todas:
- Como usufruir do tempo que nos cabe viver?
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Na busca da almejada resposta, uma frase antiga me acode. Ela seria de Sócrates. O sábio reconhecia ignorância, apesar do quanto sabia. Ele disse: “Só sei que nada sei”.
Fosse qual fosse o sentido que quis dar para a frase, me atrevo a entender como incentivo a querer aprender ao longo da vida, sem tréguas.
E vou tateando na direção do caminho que me serve melhor. Chego em dois verbos que, em parte, sossegam a busca. Os verbos são: SER e ESTAR. Sim, isto mesmo, quero caprichar na empreitada de “ser” e de “estar”.
O desafio é maior que parece.
“Ser”! Ser plenamente um humano tornou-se difícil, considerando os milênios, que tornam quase impossível separar nosso cerne daquilo que as tradições nos impõem. Ampliar a capacidade de existir sem errebiques, não é pouca coisa. Será que daria para ser como a flor, por exemplo, que é completamente ela mesma, no tempo em que dura?
“Estar”! Abandonar-se ao momento, deixando suspensas conjeturas e medos. Soltar-se completamente no agora.
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Ser e estar - eis aí um desafio instigante.
Feliz 2025, minha gente!