A arroio-meense Patrícia Schmitz, 29 anos, dedica-se, desde 2023, à segurança dos veranistas na praia de Capão Novo, no litoral norte gaúcho. Ela é guarda- -vidas civil e fala sobre a preparação para ingressar na profissão, os desafios e o sentimento gratificante de zelar pela vida das pessoas. Por 14 anos, Patrícia administrava uma loja de colchões e enxovais com os pais Roque José Schmitz e Isolde Gräf Schmitz, em Arroio do Meio. Em 2022, quando os pais se aposentaram, ela tomou a decisão de vender a loja. O motivo: ficar mais próxima do noivo Guilherme Schuck Winguert, bombeiro militar arroio-meense, que atua em Lajeado e há mais de uma década, no verão, é guarda- -vidas em Capão Novo. “O comércio me deixava mais longe dele nessa época de verão, então decidi vender a loja e pensei em alguma coisa que eu pudesse fazer no litoral. Surgiu a ideia de fazer o concurso de guarda-vidas civil. Conversei com meu noivo, ele também achou uma boa ideia e então começaram os treinamentos”, conta Patrícia.
CONCURSO DO CBMRS
Para ser guarda-vidas civil é necessário fazer o concurso administrado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS). A primeira etapa consiste em realizar exames médicos, testes físicos e apresentar a documentação. Depois de aprovada nessa fase, a pessoa está apta para fazer o curso de 21 dias, o mesmo realizado pelos militares. Se passar nas provas, está habilitada para exercer a função. Todo ano o CBMRS divulga em suas redes sociais (@cbmrsoficial – Instagram) a abertura do processo seletivo. Também é possível acompanhar pelo site www.bombeiros.rs.gov. br. Qualquer pessoa pode se tornar um guarda-vidas civil, desde que passe por todas as fases do concurso.
TREINO POR DOIS
Patrícia relata a dedicação necessária nos treinamentos para estar preparada para realizar eventuais salvamentos no mar. “Eu tenho que nadar por dois, eu tenho que correr por dois. Porque no momento em que eu estou saindo para um salvamento, eu não estou indo para me salvar. Eu estou indo para salvar alguém. Então eu tenho que estar apta a me salvar, para me tirar da água e conseguir ainda tirar outra pessoa. Então o treinamento tem que ser forte por isso. Eu treino sempre para mais alguém, eu treino para outro.” Os treinamentos consistem em corrida e muita natação. “Neste inverno, treinei bastante no rio próximo a Ponte de Ferro, em lagoas, em vários lugares. A gente mantém o treinamento mesmo no auge do inverno, no frio, quando a água está um gelo. É preciso estar ambientado, porque a água do mar também está gelada muitas vezes.” Como Patrícia já fez o curso de 21 dias na primeira vez que se inscreveu, nos anos seguintes, não precisou fazê-lo novamente, somente as provas, além de fazer os exames médicos, realizar os testes físicos e entregar a documentação. “Os guarda- -vidas civis ficam classifica[1]dos conforme as notas das provas. Cada praia tem um determinado número de vagas e a escolha da praia é feita conforme a classificação. Por isso, mantenho os treinos o ano inteiro. Não é fácil, porque eu preciso treinar para ficar bem classificada e poder escolher a praia onde vou trabalhar.”
TUDO É TREINÁVEL
Por ser uma mulher guarda-vidas muitos veranistas se admiram quando veem Patrícia na guarita. “Realmente, são poucas mulheres que têm no efetivo, tanto militar, quanto civil. Acaba que as mulheres têm uma dificuldade maior para suportar esse processo do concurso, mas é possível. Como dizia meu noivo: ‘tudo é treinável, inclusive os medos’. Eu treinei muito e consegui estar aqui.” Em seu terceiro ano trabalhando em Capão Novo, Patrícia já realizou alguns salvamentos, mas ela destaca que a principal função do guarda-vidas é a prevenção. “A gente evita que o salvamento aconteça. Por isso, o principal instrumento do guarda-vidas é o apito. Quando percebemos uma corrente de retorno, um buraco, ou alguma outra situação de risco, apitamos e sinalizamos para que saiam do local. Também sinalizamos a faixa de areia com bandeiras, sempre procurando orientar os banhistas para que permaneçam em locais seguros. Porém, se precisar, estamos capacitados para o salvamento no pior cenário.”
TRABALHO GRATIFICANTE
Apesar dos desafios e da grande responsabilidade, Patrícia é grata pela profissão. “Vale muito a pena. Já é o meu terceiro ano, então vou encontrando os mesmos veranistas de anos anteriores, com os filhos crescendo, e você vai acompanhando e fazendo parte da vida das pessoas. Eles vêm até a guarita e agradecem pelo serviço e se sentem seguros. É muito gratificante e compensa todos os desafios.” Em Arroio do Meio, ela trabalha com design gráfico e gerencia redes sociais para lojas e empresas. “Esse trabalho eu consigo manter quando estou aqui na praia também e no inverno eu vivo disso em Arroio do Meio.” Patrícia foi em dezembro para Capão Novo e fica até o dia 31 de março, quando encerra a operação de guarda-vidas civil dessa temporada.
Foto: Arquivo Pessoal