Moradora do Passo do Corvo, Arroio do Meio, desde os dois anos de idade, a agricultora aposentada Sônia Bückner Nilsson, 87 anos, tem na sua rotina uma atividade que executa todas as noites, há mais de 30 anos: registrar as principais notícias transmitidas no Jornal Nacional.
Em fevereiro de 1990, após o falecimento do marido Guido Nilsson, e com as filhas Rosita e Marisa em empregos formais na cidade, foi preciso desfazer-se de alguns animais para conseguir dar conta do trabalho diário na propriedade, plantio, pastagem, ordenha. Havia muito trabalho. Hoje ela segue na propriedade, na companhia da filha Marisa e sua família.
Sônia tinha na época 52 anos, estava aposentada e, aos poucos, foi diminuindo o ritmo de trabalho. A ideia de registrar em um caderno as notícias transmitidas no Jornal Nacional partiu da filha Rosita que viu neste entretenimento uma forma descontraída da mãe se ocupar, manter a memória ativa e, principalmente, prevenir o Alzheimer, conforme orientação de profissionais de saúde.
A família se reúne na sala, é momento da tomar chimarrão, conversar e assistir o Jornal Nacional. E é aí que entra o “dever de casa” de dona Sônia. No final da exibição do jornal ela anota num caderno os principais fatos e notícias que apareceram no programa. Faz tópicos, pois gosta de prestar atenção no que falam, sem esquecer-se de anotar a temperatura e o nome dos jornalistas e repórteres que participaram da edição. No final da anotação ela escreve, em letras maiores: FIM.
Ela lembra que o primeiro televisor, preto e branco, foi adquirido em 1973 embora a energia elétrica tivesse chegado à localidade ainda em 1969. Os canais disponíveis eram rede Tupi, Bandeirantes e Manchete e logo se descobriu uma apaixonada por novelas, as quais ficaram ainda mais bonitas alguns anos depois quando comprou a tão sonhada TV a cores. Lembra, inclusive, a primeira que assistiu: Mulheres de Areia na Rede Tupi. Anos depois a novela foi refilmada pela rede Globo. Para ela, com a imagem colorida, artistas de novela e mesmo os apresentadores do jornal Nacional ficaram mais bonitos.
Fatos históricos
Já se passaram 34 anos e o passatempo virou um hábito prazeroso. Perguntada sobre alguma notícia que ao longo destes anos tenha marcado, não foi preciso recorrer ao caderno para lembrar. “Foram muitas”, diz ela. Notícias envolvendo artistas famosos e, principalmente, o falecimento de algum deles, não ficaram apenas no papel, mas também na memória, deixando-a triste e, por vezes, inconformada.
Relata que o assassinato da atriz Daniella Perez, em 1992, enquanto a novela De Corpo e Alma era transmitida pela Rede Globo, foi muito triste. “Eu gostava muito dela, boa atriz, tão jovem e linda, assassinada pelo colega de elenco. Fico pensando na dor da sua mãe Glória Perez, autora da novela”, conta.
Depois, em 1º de maio de 1994, a morte de Airton Senna. “Era domingo eu estava num almoço festivo da Sociedade Esportiva Passo do Corvo, as imagens transmitidas ao vivo pela televisão instalada no salão, de certa forma acabaram com a festa, não teve quem não ficou triste. Para mim, a festa acabou naquela hora. Fui embora, chorei muito e até hoje fico triste só de lembrar aquele dia”, diz ela.
Dois meses depois, em 17 de julho, o Brasil conquistou o Tetra. “Foi momento de muita alegria em meio a dor da perda do nosso ídolo, a música que era tema da vitória dele, ecoou mundo afora e, tenho certeza, o título foi para ele”. Torcedora da seleção brasileira faz questão de assistir os jogos usando a camisa da seleção que recebeu de presente dos netos.
Sônia Nilsson é uma mulher simples do interior, ama o lugar onde vive e diz estar muito feliz com a chegada do asfalto que agora passa em frente a sua propriedade. Uma avó orgulhosa dos netos que ajudou a criar, faz caminhadas diárias na companhia do cachorro Max e gosta de fazer exercícios, pois quer viver muitos anos e com qualidade de vida. Participa ativamente do Grupo de Idosos Alegria e Esperança e também do Clube do Lar Boa Esperança.
Leitora assídua do jornal O Alto Taquari desde 1992 faz questão de ir até a sede do jornal a cada seis meses para fazer a renovação da sua assinatura.
Foto: Neusa Alberton Bersch