Temperaturas extremamente elevadas, superando os 40°C, com sensação térmica de 50°C, marcaram o início da semana no Rio Grande do Sul. A onda de calor que prevaleceu sobre o Estado até quarta-feira (12) afetou diretamente a população, que precisou buscar alternativas para minimizar o calorão.
É o caso dos trabalhadores da construção civil, Algemiro Alves Batista e Arnaldo da Silva Rosa, 66 e 67 anos, respectivamente, que aproveitavam o horário do almoço fugir do sol. De boné, calça e botina, a dupla levam o turno de serviço à base de muita água, protetor solar e pausas. “É calor, mas precisamos trabalhar”, comentam.
Há três décadas na atividade como pedreiro, Rosa diz que com o tempo acostuma, mas o período do expediente, entre 11h e 15h, é o mais difícil de encarar a exposição. “As pausas também são importantes, nem sempre é necessário, mas quando aperta temos a alternativa de buscar uma sombra”, afirma. O descanso durante a jornada pode ocorrer a cada 1h, pelo período de 15min, quando a temperatura ultrapassa os 36 graus.
Conforme Batista, servente de pedreiro há cinco meses, assim como a pausa outras estratégias ajudam. “Usar protetor solar e boné, mas o principal é tomar água”, afirma.
O servidor público do Departamento de Trânsito de Arroio do Meio, Leonel Henrique da Silva, 54 anos, atua entre 8h30min e 11h45min e das 13h às 16h45min, orientando motoristas e fiscalizando veículos estacionados pelas ruas do município.
Há sete anos na função, ele afirma que em anos anteriores o calor foi ainda maior. “Cheguei a fotografar 48⁰C no termômetro, por enquanto chegou nos 41⁰C, 42⁰C”, afirma. Para Silva, o horário mais desafiador é entre 13h30min e 15h.
Mesmo assim, ele busca medidas para minimizar os riscos, bebendo bastante água, utilizando protetor solar e buscando áreas de sombra. “Como utilizamos a máquina dá para registrar o veículo a distância, então me abrigo próximos as árvores, mas nem sempre dá para escapar. Além disso, os próprios lojistas nos fornecem água fresca, tem esse olhar para nós”, reconhece.
Assim como Silva, as amigas Márcia Ely, 64 anos, e Ivoni Rheinheimer, 67 anos, mudaram a rotina para manter a atividade física diária. Além de protetor solar e água para se hidratar, elas utilizam óculos de sol, roupas mais leves e apropriadas. “Antecipamos o horário das caminhadas, pelas 7h já estamos fazendo nosso trajeto”, detalham.
“Evitamos sair à tarde, mesmo se for para um banho de piscina, porque é muito quente. Preferimos o fim do dia”, acrescentam.
Mas não é só com a própria saúde que as moradoras de Arroio do Meio se preocupam. Enquanto conversavam com a nossa reportagem, elas enchiam as garrafas d’água e regavam as flores da Praça Flores da Cunha. “Elas também precisam de cuidado e este espaço é de todos”, comentam.
Como se proteger
O clínico geral do Hospital Estrela, Doutor João Berner, explica que a termorregulação no corpo humano é um processo complexo que envolve a interação de diversos sistemas fisiológicos para manter a temperatura corporal central dentro de limites adequados, apesar das variações nas condições ambientais e na produção metabólica de calor. “Este processo é mediado principalmente pelo sistema nervoso central, com o hipotálamo desempenhando um papel central na integração das informações térmicas e na coordenação das respostas termorregulatórias. Os termorreceptores localizados na pele e no interior do corpo detectam mudanças de temperatura e transmitem essas informações ao hipotálamo, que integra esses sinais e gera respostas apropriadas para manter a homeostase térmica. Durante o estresse térmico, como a exposição ao calor, o corpo humano utiliza mecanismos como a sudorese e a vasodilatação cutânea para dissipar o calor e evitar a hipertermia. A sudorese é um mecanismo eficaz de perda de calor por evaporação, enquanto a vasodilatação aumenta o fluxo sanguíneo para a pele, facilitando a perda de calor por condução e convecção”, descreve.
Além disso, fatores individuais, como a morfologia, o sexo biológico e a idade, bem como condições patológicas, como doenças neurológicas e cardiovasculares, podem alterar a capacidade do corpo de regular a temperatura. “Em resumo, a termorregulação é um processo dinâmico e adaptativo que envolve a integração de sinais térmicos periféricos e centrais, coordenados pelo sistema nervoso central, para manter a temperatura corporal dentro de limites fisiológicos seguros”, explica.
Segundo o especialista, a falta de cuidados pode gerar dor de cabeça, tontura, náuseas, confusão mental, pele vermelha, suor excessivo, respiração rápida, aumento da frequência cardíaca, fadiga e alteração no sono.
Para prevenir complicações, ele cita que é essencial adotar estratégias baseadas em evidências que visam reduzir o estresse fisiológico e o risco de doenças relacionadas ao calor.
“>> Uso de Centros de Resfriamento: ambientes com ar-condicionado podem reduzir temporariamente a temperatura corporal central e o estresse cardiovascular em adultos mais velhos durante exposições prolongadas ao calor. Embora os efeitos sejam transitórios, esses centros são uma recomendação importante de agências de saúde para proteger populações vulneráveis durante ondas de calor.
>> Hidratação Adequada: Manter uma hidratação adequada é crucial para prevenir a desidratação e a falência renal, especialmente em populações idosas que são mais suscetíveis a essas condições durante ondas de calor. A ingestão regular de líquidos deve ser incentivada, e barreiras à ingestão oral devem ser abordadas.
>> Planos de Ação contra o Calor: sistemas de alerta precoce e iniciativas comunitárias podem ajudar a mitigar os efeitos adversos do calor extremo. Esses planos devem ser integrados com estratégias de comunicação eficazes para promover medidas preventivas de saúde.
>> Estratégias de Resfriamento Pessoal e Urbanas: Além do uso de ar-condicionado, estratégias de resfriamento pessoal, como o uso de roupas leves e a permanência em áreas sombreadas, são recomendadas. Em nível urbano, o planejamento de cidades verdes e o design de edifícios energeticamente eficientes podem ajudar a reduzir a exposição ao calor. Evitar a prática de atividades ao ar livre durante os horários de maior incidência solar, entre 10h e 16h, também é uma medida a ser tomada em dias de calor intenso.
>> Revisão de Medicamentos: Revisar regularmente os medicamentos de pacientes, especialmente aqueles que podem afetar a termorregulação ou a função renal, é uma prática importante para prevenir complicações durante ondas de calor”, recomenda.
E acrescenta: “Cabe ressaltar que tais práticas, embora mais importantes nestes dias de calor mais intenso, são recomendadas durante toda estação, principalmente nas populações mais vulneráveis a temperaturas extremas, ou seja, idosos, crianças e portadores de condições de saúde.
Foto: Arquivo Pessoal