Os brasileiros torcem pelas suas conquistas nas mais diferentes áreas. No esporte, de Pelé a Senna, na política, na cultura e nas artes como no cinema. Foi o que aconteceu com o filme do cineasta Walter Salles, ‘Ainda Estou Aqui’, que se passa na década de 1970 quando o Brasil vivia a Ditadura Militar. Protagonista deste filme é a Família Paiva que morava na época no Leblon no Rio de Janeiro. Uma família que vivia como muitas, conciliando trabalho, participando de atividades políticas, familiares, quando em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi levado pelo regime da época e nunca mais retornou. Rubens Paiva foi líder estudantil, engenheiro, jornalista e eleito deputado federal pelo PTB, em 1962. Após o Golpe de 1964 foi cassado pelo AI e se autoexilou. Quando retornou manteve contatos com exilados e foi preso por agentes do Regime Militar e morto em 1971.Sua morte só foi reconhecida em 1996. Filho de família rica (o pai era empresário que ganhou dinheiro com exportações de produtos agrícolas) Rubens Paiva, nascido em Santos, era casado com Eunice, com quem teve cinco filhos. Na vida pessoal, Eunice depois do desaparecimento do marido se reinventou. Fez Direito e se tornou especialista em Direito Indígena e foi consultora do governo federal, Banco Mundial e ONU. Procurou como mulher ter uma trajetória digna em tempos difíceis. Faleceu em 2018, aos 89 anos, depois de ter convivido com Alzheimer por 15 anos.
No último domingo, ‘Ainda Estou Aqui’ conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional, uma premiação inédita, comemorada com mérito pelo elenco e muitos brasileiros. Mas o destaque dado ao filme também recebeu contrapontos por conservadores e liberais que criticam os que desejam usar o filme como “símbolo de avanço silencioso de máquina ideológica que sufoca a diversidade de pensamentos e opiniões.” Há quem alega que a história sempre é contada apenas por um lado. Felizmente, sob este aspecto, qualquer pessoa pode pesquisar, se aprofundar e se informar diante das inúmeras opções disponíveis de como foi o período da chamada ditadura, época em que havia muitas mudanças culturais, sociais e políticas em jogo, na América Latina e em outros países do mundo.
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- Nova Ditadura – Enquanto ainda pairam dúvidas sobre o período nebuloso e sangrento que marcou a Ditadura Militar, não faltam analistas e testemunhas que fazem correlações com a atualidade quando paradoxalmente, estamos vivendo fatos também dramáticos e trágicos. Não só no Brasil. A lógica da vida deveria ser evoluir em busca de maior liberdade, menos censura, menos opressão, menos prisões arbitrárias, garantindo o devido processo legal. Mas infelizmente não é o que vivemos e assistimos. Na história recente já teve quem morreu na prisão (caso conhecido como Clesão). O comerciante Clesão estava preso preventivamente, investigado, mas não julgado por atos políticos do Dia 8 de Janeiro de 2023. Preso, ele teve infarto fulminante e morreu na Papuda, em novembro de 2023, sem ter recebido o devido atendimento. Um laudo médico anterior havia atestado risco de morte pelo seu grave estado clínico se permanecesse preso, mas o pedido da família e advogado foi negado pelo poderoso STF.
Em relação aos atos do dia 8 de Janeiro, ainda pouco se questiona se teve omissão/negligência de quem deveria ter feito a segurança nos prédios dos Três Poderes em Brasília. E assim o tempo passa. Muitos envolvidos receberam penas que vão de três a 17anos e seis meses de prisão. Pelos números divulgados, foram investigadas mais de duas mil pessoas. Entre os tantos, 527, seria para se ver livre? – pode ser – acabaram fazendo acordos, mediante pagamento de multa (o valor arrecadado já soma mais de R$ 1,7 milhão), prestação de serviços comunitários, concordância e compromisso em fazer curso sobre o funcionamento “da democracia”, oferecido pelo MPF e restrição do uso de redes sociais. E por aí vai… Como os acontecidos são recentes, complexos e muitos, fica difícil relatar em uma pequena coluna de jornal todo o panorama. Por isso, o leitor que quer obter mais informações pode pesquisar em diferentes fontes políticas, jornalísticas, que oferecem o contraponto ou interpretam de forma independente, além de ficar limitado a narrativas que foram e são criadas e repetidas por alguns veículos da imprensa e/ou instituições conforme interesses de ocasião.
Estamos fazendo este contraponto só para lembrar que têm jornalistas brasileiros censurados, deputados com direitos políticos cassados, empresários e pessoas comuns bloqueados em suas redes sociais ou desmonetizadas, por terem feito manifestações contrárias ao sistema. O que admira é que muitos dos que lutaram por liberdade de expressão e se manifestaram contra a ditadura agora ignoram as mais variadas injustiças e fazem apologia à censura. É preciso lembrar que durante a Ditadura Militar, diversos manifestantes entre eles, a ex-presidente Dilma Rousseff, que inclusive fez uso de armamentos, foram anistiados durante o período da redemocratização por comissões de anistias. Dilma também ganhou indenizações em dinheiro em diferentes estados.