Por Liniker Duarte
Sob o calor ou a chuva, mais de 50 operários fizeram seu trabalho por aqui. Eles vieram de estados como Piauí, Maranhão, Pernambuco, Sergipe, São Paulo, para reerguer um dos caminhos mais simbólicos do Vale do Taquari. A reconstrução da ponte mobilizou dezenas de operários ao longo destes 8 meses de construção. Com a via principal já concluída, a maioria dos trabalhadores já se despediu do canteiro de obras. Apenas uma equipe reduzida de 20 pessoas permanece no local, finalizando os últimos detalhes: a passagem para ciclistas e pedestres, que deve ficar pronta nos próximos 15 dias.
A estrutura, inaugurada no dia 10 de abril, carrega em seus pilares não só concreto e aço, mas também histórias de superação, distância e dedicação. Entre esses trabalhadores estão Francisco Pedro, de 34 anos, e Júlio Santos, de 40. Francisco é natural do Piauí, da pequena cidade de Agricolândia, com cerca 4 mil habitantes e que fica a 80km da capital Teresina. Júlio é natural de Poço Redondo, município do estado de Sergipe, localizado na região do Alto Sertão Sergipano, cerca de 172km da capital Aracaju.
Juntos somam mais de seis meses longe de casa, eles deixaram suas famílias e cada um seus filhos, sua esposa e seus pais, para encarar a construção da ponte da ERS- 130. Agora, com a obra finalizada, eles retornam aos seus lares, levando consigo o orgulho de terem contribuído com algo muito maior do que uma construção: um símbolo de recomeço. Antes de se vincularem à Engedal, empresa responsável pela construção da ponte, Francisco já trabalhou na Perdigão, em São Paulo, e mais recentemente como montador em metalúrgica. Já Santos trabalhou na área da informática na instalação de internet residencial, mercado, fábrica de queijos e agora como armador na construção civil.
Para o operário Francisco Pedro, que atualmente está há mais de três meses auxiliando na estrutura de concreto aqui no Vale, diz sentir muita saudade da família, do filho e dos parentes que deixou no Piauí. “Foi difícil ficar tanto tempo longe do meu filho, mas saber que ajudei a reconstruir algo tão importante ao povo gaúcho dá um orgulho enorme”, conta emocionado. Quando questionado sobre o choque de culturas, Francisco diz estar mais acostumado, mas no início foi mais difícil compreender os irmãos do sul. “O palavreado de vocês aqui é muito diferente, a gente acha que é uma coisa, mas é outra, vocês falam ‘bah’ para tudo, ‘guri’ e ‘guria’, às vezes preciso pedir o que as palavras significam”, relata.
Júlio Santos conta que quando soube de tudo o que estava acontecendo no Rio Grande do Sul, não teve dúvidas, o seu desejo foi de vir para cá ajudar. “Eu ficava o tempo todo pensando, de que forma eu posso ajudar esse povo, um dia destes chegou a proposta através de um vizinho para trabalhar em uma obra no sul, não pensei duas vezes e vim pra cá”, comenta.
Santos fala da impressão que as pessoas tiveram quando a obra estava concluída. “E digo uma coisa, vou lembrar da alegria das pessoas para atravessar a ponte e o carinho com que elas nos receberam aqui, as pessoas param, agradecem pela ponte e nos presenteiam com biscoitos, refrigerantes, etc… é gratificante. Saber que tem dedo nosso nesta obra é um sentimento de gratidão”, comenta. O operário também comenta sobre o que mais sente saudade de sua terra natal. “O que eu mais sinto saudade do Nordeste é a da nossa comida, o alimento gaúcho é muito bom, mas é diferente. Ainda não provamos o churrasco de vocês, mas uma hora queremos provar”, comenta.
Para muitos colegas que estão finalizando a pista de pedestres, como Francisco e Júlio, está chegando a hora de retornar ao lar. Mas a marca deixada por eles no Vale do Taquari ficará para sempre. A ponte, mais do que uma travessia física, tornou-se uma homenagem viva aos trabalhadores brasileiros neste primeiro de maio.