Domingo passado, o Papa Francisco apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem de Páscoa Urbi et Orbi e assim, deixou sua derradeira mensagem aos fiéis. Em casa, as famílias iniciavam a celebração da Páscoa sem imaginar o que seriam as próximas horas do Sumo Pontífice. Ele preparava sua partida. Sabia que a missão fora cumprida em exemplos reais como a urgência na atenção aos desvalidos e um necessário diálogo inter-religioso.
Lembrei, imediatamente, de um passado muito distante, ainda guri. Morávamos em Rio Pardo. Meu melhor amigo era filho de um pastor protestante inglês. Ambos cristãos, mas em correntes diversas. De uma maneira muito firme, mas respeitosa, nossos pais celebraram um acordo de não intervenção religiosa.
A convicção de cada um, os passos, a maneira de conduzir seu culto seria mantida em nome da amizade e de frases que os conduziam às palavras de Cristo sobre seguir no que acreditavam ser “o caminho, a verdade e a vida”. E desta maneira, simples, sem imposições ou mistificações viveram uma amizade que apenas construiu pontes.
Acredito que esse espírito pacifico, que busca entendimento, deve permanecer como exemplo. As mensagens de paz precisam prevalecer contra o ódio que ainda gera tantos conflitos e dor. Enquanto escrevo esse artigo, as emissoras de rádio e televisão nos exibem imagens sobre o velório do Papa e lembro as palavras de um amigo budista afirmando que todos aqueles que trabalham nos caminhos da fé, independente do formato de seus templos, ou dos ritos que os conduzem, precisam ter uma linha em comum – o que, segundo o Papa Francisco, é representada “pela superação do egoísmo que gera conflito e violência”.
Os bons e os maus se revezam nesse planeta mas, por convicção, eu ainda acredito que o lado sereno sempre vence. “Evitar o mal, cultivar o bem e purificar a mente” é a mensagem que vem lá do Oriente, sintonizada perfeitamente com o mandamento cristão de “amai-vos uns aos outros”.
E ainda, para encerrar, no caso do Papa Francisco, se constatou que a idade e hora de sua morte coincidem exatamente com o número da carteirinha dele de sócio do San Lorenzo, clube de futebol argentino que ele torcia: 88 anos, às 2h35, números que coincidem com os dígitos finais – 88235 – de sua credencial como sócio. Isso só poderia ter acontecido com quem fez da humildade uma verdadeira fortuna em defesa do amor ao próximo. E assim permanecerá no coração dos que não vivem às custas de ranços ideológicos.