
Atento aos noticiários esqueço coisas que, igualmente, são importantes nesses dias de tanta chuva e alagamentos. “O que você está fazendo além de esperar por uma melhora nas estações?” Foi exatamente essa pergunta que uma vizinha me fez, ao sugerir que escrevesse sobre a desatenção das pessoas aos eventos climáticos e suas tristes consequências. Ela reclama da escolha feita bem lá atrás, nos anos 60, quando comprou uma casa próxima a um rio. E ano após ano, foi reconstruindo, buscando alternativas para que as cheias não viessem a provocar tantos prejuízos. Mas todos têm essa condição?
Na minha infância, vivi alguns sustos com enchentes no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. As cheias inundaram algumas vezes as casas próximas ao Guaíba e meu pai reclamava que não tinha como trocar de endereço. Morar nos bairros mais altos exigia um aluguel muito alto para ele que iniciava sua carreira profissional. “Como viver longe das águas?” me questionou “seu” Jairo, um amigo pescador de São Jerônimo. Ele se orgulha da profissão, “não nasci para ser milionário, mas trabalho no que gosto”, garantiu ao exibir uma horta muito bem cuidada na parte mais alta de seu terreno. “Lá as águas só foram uma vez”, consolou-se.
E aí seguem as reclamações contra as administrações municipais, estaduais e federais, sempre amarradas a longos processos burocráticos para liberar recursos para obras urgentes. O mundo das soluções mágicas e instantâneas não existe. E todos têm lá suas razões. Abrir cofres públicos exige cuidados extras para evitar danos ao erário público. E projetos precisam ser calculados e recalculados até chegar a hora da execução. Mas poderiam andar mais depressa?
Na Holanda, o plano de defesa contra enchentes levou 43 anos para ser concluído, incluindo a construção de barragens, comportas, diques e eclusas. Para conter a forte movimentação do Mar do Norte e as seguidas enchentes, os holandeses edificaram uma barreira de 32 quilômetros para cortar as águas.
Acho que aqui não precisamos de tanto tempo e sim, de uma disposição verdadeira e consagradora no caminho do bem comum. Teremos mais elogios e votos para os que deles dependem. Então, sem mágica, mas com engenharia, disposição e criatividade, acredito que poderemos encarar os futuros desarranjos da Mãe Natureza. Que virão, essa é nossa única certeza, por enquanto.