
Um ilustre leitor deste espaço enviou-me um áudio na última segunda-feira. Depois de se dizer acompanhante assíduo desta coluna e tecer elogios, fez uma observação que me deixou pensativo.
– Gosto muito dos teus textos, te leio sempre, mas sinceramente… não gosto quando tu insiste no termo “velho”.
Respondi ao querido amigo e sempre mestre Silvério Huppes que concordava com ele. De modo geral, não convém brigar com o leitor, em hipótese alguma, certo? Brincadeiras à parte, revelei que o tom das crônicas depende muito do meu estado de espírito. Há dias que a gente acorda de “bem com a vida”. Os astros convergem para nosso bem-estar, sorte e saúde.
Acordo ainda escuro e raramente estou de baixo astral. Já contei aqui que uma vizinha comentou – “discretamente” – não entender como eu levantava tão cedo e tão bem humorado, a ponto de assoviar enquanto tomava chimarrão.
Passar dos 60 anos gera um turbilhão de sensações quase sempre opostas. Existem ocasiões em que ser experiente é muito útil, prazeroso. Sofrimentos são evitados, expectativas são calibradas de acordo com a realidade, energias são dosadas e há grande respeito com o comportamento do organismo. Faço exercício duas vezes por semana, ao ar livre. Mas basta a chuvarada tomar conta do Estado – como na semana passada – para os efeitos da ociosidade se fazerem sentir. Nestas ocasiões é preciso paciência para recomeçar, assim que o sol retornar para focar no bem-estar.
Meu velho pai repetia: “O bom senso nunca
está nos extremos, mas sempre no equilíbrio!”
Noutros dias é preciso controlar o desânimo. A repetição de episódios e de comportamentos “sem noção” faz perder a fé na vida e no ser cada vez menos humano. Admiro o ânimo daqueles que se entregam de corpo e alma a projetos e sonhos. Eles nos fazem seguir adiante, mas muitas vezes o desfecho é óbvio, resultado da experiência.
“Pessimista é um otimista bem informado”, reza um ditado que mistura sarcasmo, bom humor e realismo. Andar no limite entre o abatimento típico dos sexagenários e o otimismo irresponsável dos jovens é um laboratório permanente. Como dizia meu pai, o velho Giba:
O bom senso nunca está nos extremos, mas sempre no equilíbrio!
Neste caso, o conselho se aplica perfeitamente. Achar que as mazelas da idade são apenas estorvos à qualidade de vida ou esbanjar euforia sem responsabilidade é garantia de sofrimento. Bom mesmo é viver um dia de cada vez, fazer planos no curto prazo e contar com a família, amigos e, no meu caso, com leitor.
Parabéns, Silvério Huppes, que
hoje completa 80 anos. Saúde e paz!