Os avanços da Inteligência Artificial (IA) nas últimas décadas são notáveis. Sistemas de reconhecimento facial, assistentes virtuais como Siri e Alexa, carros autônomos, tradutores automáticos e algoritmos de recomendação em plataformas de streaming são exemplos do uso cotidiano de IA. Por outro lado, surgem desafios como o desemprego em áreas automatizadas, viés algorítmico, uso indevido em vigilância e guerras, além de preocupações éticas sobre privacidade e controle de decisões críticas por máquinas. O termo “inteligência artificial” foi cunhado na década de 50. Os cientistas acreditavam que, em poucas décadas, as máquinas seriam capazes de imitar a inteligência humana.
A redação do O Alto Taquari conversou com o professor especialista em Tecnologia da Informação pela Universidade do Vale do Taquari – Univates, Edson Moacir Ahlert. De acordo com Ahlert, a Inteligência Artificial veio para ficar e é um caminho sem volta, já impactando diversos setores da sociedade. Confira a entrevista com o professor e a sua percepção sobre esta nova ferramenta da tecnologia:
AT – Professor, é possível explicar quem foram os principais precursores e, no decorrer dos anos, como e para que propósito foi desenvolvida a Inteligência Artificial?
Edson Ahlert – A inteligência artificial começou muito antes da Siri responder suas perguntas existenciais ou do ChatGPT corrigir redações. Os primeiros passos vieram da curiosidade humana em entender se seria possível “ensinar” uma máquina a pensar. Lá nos anos 1950, nomes como Alan Turing (aquele mesmo do ‘Teste de Turing’, que propôs um método para verificar se uma máquina pode imitar o pensamento humano) e John McCarthy (quem cunhou o termo ‘inteligência artificial’) deram os pontapés iniciais.
A ideia não era criar robôs para dominar o mundo, mas sim desenvolver sistemas capazes de automatizar tarefas cognitivas – como resolver problemas, tomar decisões e aprender com dados. No início, isso envolvia jogos de xadrez e cálculos matemáticos.
Hoje, a IA evoluiu para algo muito mais sofisticado — especialmente com o avanço da IA generativa, que já é capaz de produzir textos, imagens, músicas e códigos, muitas vezes com um nível de criatividade que surpreende até especialistas. Se antes a inteligência artificial seguia regras pré-estabelecidas, agora ela aprende padrões e gera conteúdo original, atuando como assistente, coautor ou até mesmo como criadora de soluções em tempo real.
AT – De que forma ela impacta a sociedade. Quais pontos positivos e negativos?
Ahlert – A IA é como aquele colega de trabalho super prestativo, mas que também pode fazer besteira se ninguém supervisionar.
Pontos positivos:
- Automação de tarefas repetitivas (de atendimento ao cliente a diagnósticos médicos);
- Aumento da produtividade e da eficiência (como quando a IA ajuda a responder clientes automaticamente pelas redes sociais, liberando tempo da equipe);
- Personalização de serviços (como quando a loja virtual sugere produtos com base no que o cliente já viu);
- Avanços na medicina, agricultura, indústria e transporte.
Pontos negativos
- Substituição de empregos em certas áreas (sim, aquela IA pode realmente fazer planilhas melhor que o estagiário);
- Risco de viés algorítmico (se os dados forem tendenciosos, a IA será também);
- Problemas de privacidade (quando o Instagram parece saber demais sobre você… e sabe mesmo);
- Uso mal-intencionado (deepfakes, manipulação de opinião pública, etc.).
Como qualquer ferramenta poderosa, a IA pode tanto resolver crises quanto criar outras novas – depende de quem está no controle e com quais intenções.
AT – Quais as principais áreas onde ela já está sendo aplicada?
Ahlert – A inteligência artificial hoje está em todo lugar – tão presente no dia a dia que a gente nem percebe. Hoje, praticamente tudo o que a gente faz na internet tem inteligência artificial por trás. Desde a notícia que aparece primeiro, até o produto que sobe no topo da busca, o próximo vídeo que o YouTube recomenda ou a transcrição automática da reunião – tudo isso passa por algoritmos que aprendem com nossos cliques e preferências.
Mas a IA está entrando em praticamente todas as áreas – por exemplo, em empresas, já é usada para auxiliar com problemas, na tomada de decisões estratégicas, na melhora de processos, entre vários outros. Na saúde, auxilia em diagnósticos por imagem; no agro, orienta irrigação e previsão de safras; na indústria, antecipa falhas de máquinas; no varejo, sugere produtos; na educação, personaliza o aprendizado e na mobilidade, já está por trás de rotas e testes com carros autônomos.
AT – No Vale do Taquari temos avanços concretos da IA em várias áreas e setores. O senhor poderia citar alguns exemplos (cases) de sucesso da IA?
Ahlert – Sim! Embora ainda estejamos longe de termos robôs colhendo bergamotas, já temos aplicações bastante concretas. Aqui na região, o uso tem sido cada vez mais estratégico, ajudando as empresas a gerarem ideias, inovar, ganhar tempo e apoiar decisões.
Ela já contribui em tarefas como automatizar atendimentos, definir estratégias de marketing, prever vendas e impulsionar a inovação, atuando como uma parceira que reduz tarefas operacionais e estimula a criatividade nas equipes. Ou seja, em vez de substituir pessoas, a IA tem atuado como uma parceira que libera tempo para o que realmente exige pensamento humano.
A IA também pode ser uma aliada valiosa para especialistas, pequenos negócios e profissionais autônomos, ajudando na criação de conteúdo, organização de rotinas, atendimento ao cliente, planejamento de serviços e até no desenvolvimento de aplicações, tudo com eficiência, baixo custo e grande ganho de tempo.
AT – Em 2004, o astro norte-americano Will Smith protagonizou o filme “EU, ROBÔ”, que representou a interação humana com robôs humanoides. O senhor acredita numa possível extinção do homem a partir do domínio das máquinas?
Ahlert – Olha, se as máquinas nos substituírem, não será por revolta, mas por eficiência. E o mais irônico: seremos nós mesmos que teremos treinado os algoritmos para isso. Mas falando sério: a IA de hoje não tem consciência, nem vontade própria. Mesmo os robôs mais avançados, como os humanoides que atendem clientes, seguem comandos programados. Ainda estamos longe de uma “Skynet” (inteligência artificial altamente avançada) real.
O que preocupa mais, neste momento, não são robôs se revoltando, mas decisões automatizadas sem supervisão humana, ou uso indevido da IA por humanos com más intenções. Ou seja, o verdadeiro risco não é uma rebelião de robôs, mas a nossa acomodação diante de decisões automatizadas que paramos de questionar.
AT – A Inteligência Artificial abre espaço para golpes nas mais diferentes formas. Até onde caminha a ética com o uso desta ferramenta?
Ahlert – A IA é como uma faca de cozinha: pode fazer um ótimo almoço ou ser usada num golpe — depende de quem está segurando. Casos recentes de deepfakes, clonagem de voz e manipulação de imagens mostram que os riscos são reais. Tem criminoso usando IA para fingir ser o filho ou o neto pedindo dinheiro – e o mais assustador é que a voz convence até quem conhece o “guri” desde o berço.
A ética na IA precisa caminhar junto com a tecnologia. Isso significa:
• Transparência: saber quando estamos interagindo com uma IA;
• Responsabilidade: quem responde quando a IA erra?
• Privacidade: proteger dados pessoais;
• Justiça algorítmica: evitar que a IA reproduza preconceitos e desigualdades.
A inteligência artificial não é mais um assunto do futuro – é uma ferramenta do presente. Cabe a nós decidir se vamos usá-la apenas para facilitar a rotina ou também para ampliar o que temos de mais humano: a capacidade de pensar criticamente, criar com propósito e agir com responsabilidade.
CURRÍCULO DO PROFESSOR
Edson Ahlert é graduado em Tecnologia da Informação, com especialização em Tecnologias Digitais Aplicadas à Educação e mestrado em Ambiente e Desenvolvimento. É professor dos cursos de graduação nas áreas das Engenharias e Tecnologia da Informação, da Universidade do Vale do Taquari – Univates. Trabalha no Centro de Suporte Autorizado da Furukawa Electric LatAm (CSAFEL), em serviços de Configuração de Equipamentos e Provisionamento de Gigabit Passive Optical Network (GPON) e Implantação Assistida em Tecnologias de Redes Ópticas Passivas. Atua ainda em treinamentos e consultoria em Análise de Dados e IA para negócios, além de projetos de inovação educacional e na formação de professores no uso das TDICs e IA.