Enquanto continuam indefinições sobre o tarifaço de 50% para produtos brasileiros por parte dos EUA, que deverão começar a partir do dia 6, há acenos por parte do Governo Lula e esforços paralelos por parte de estados, comitivas de senadores e outros grupos para que haja uma negociação que seja mais favorável ao Brasil. O presidente americano Donald Trump disse que vai estabelecer uma tarifa-base de 15% a 20% para vários países. O republicano afirmou que a Casa Branca enviará cartas para cerca de 200 países notificando-os sobre as tarifas. A taxa de 50% para produtos brasileiros foi anunciada no dia 9, em uma carta, quando o presidente americano acusou o STF de perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde por tentativa de golpe, após as eleições de 2022 e de censurar empresas de tecnologia americanas.
O jornal AT falou com o economista, professor e consultor empresarial Eloni Salvi que concedeu a seguinte entrevista.
Jornal O Alto Taquari – Quais os principais impactos para a economia do Vale e quais setores serão mais afetados, caso entre em vigor a taxação de 50% para produtos brasileiros ?
Professor Eloni Salvi – Caso venha ser efetivamente implantada a nova tarifa, os setores mais afetados são relacionados a café, suco de laranja, aviação, e em menor escala o aço (que já foi tarifado), e petróleo. No Vale do Taquari, o setor de candies, e certos produtos da proteína animal terão algum impacto relevante.
Todos os setores acabam tendo reflexos, pois são interdependentes, mas a nosssa região, no geral, não tem o mercado americano como destino significativo.
AT – Já é possível perceber reflexos concretos dessa medida na economia brasileira, como queda nas exportações, desvalorização de ações ou insegurança no mercado?
Eloni Salvi – Sempre que há alguma previsão de restrições ou nova medidas, sejam locais ou internacionais, os setores empresariais potencialmente afetados ficam no compasso de espera, e é o que está acontecendo, pois se suspende temporariamente negociações e também projetos de investimentos, aguardando até que se tenha definição da nova realiade de mercado.
O preço da carne, café e laranja, por exemplo, já registrou queda no mercado atacadista brasileiro, acompanhando a tendência de baixa verificada nos EUA.
AT – Quais podem ser os efeitos a médio e longo prazo para a balança comercial e o desempenho de empresas brasileiras que dependem do mercado americano?
Eloni Salvi – Quando do anúncio do tarifaço, que ainda não está detalhado, chegaram a projetar uma queda do PIB brasileiro de 1,2%, e agora, depois de esfriar a cabeça e apurar o cálculos, já dizem que não chegaria a 0,2%.
É necessário levar em conta que há reflexos para os negócios e os consumidores americanos também, pois pagarão mais caro pelos produtos, e certamente estão pressionando o governo deles a negociar tarifas menos duras.
AT – Há alguma estratégia que o Governo Brasileiro, ou as empresas afetadas, possam adotar para mitigar os impactos dessa tarifa?
Eloni Salvi – Eu penso que não devemos simplesmente aceitar a imposição de qualquer país, e sempre manter a negociação em aberto.
Estamos supondo que as empresas americanas deixarão de importar nossos produtos, mas não temos certeza disso. No entanto, caso a nova tarifa venha a ser mesmo implantada, e perdure no tempo, inviabilizando a exportação para os EUA, será necessário buscar outros mercados, ampliando os já existentes ou abrir novos.
AT – A taxação para os exportadores pode ser benéfica para o mercado interno?
Eloni Salvi – Em um primeiro momento poderemos ter aumento da oferta interna, com redução de preços, o que beneficia o consumidor, mas os fabricantes, não tendo a opção de venda para o exterior, tenderão a reduzir a produção e reequilibrar o volume no mercado interno.
AT – Se fala que poderá haver desemprego caso as grandes exportadoras percam mercado. Este temor é real?
Eloni Salvi – Sim, se com o tempo não tivermos para escoar o que eventualmente deixarmos de exportar para os EUA, então haverá redução na produção e, consequentemente, redução do emprego. Mas é cedo para estimar impactos reais, pois não tem como fazer cálculos precisos com dados baseados em suposições.
AT – Esse aumento tarifário pode desencadear uma retaliação ou tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos?
Eloni Salvi – Não creio que possamos chegar a esse ponto, pois há necessidades inadiáveis de manter o comércio internacional, por risco de desabastecimento.
Se o Brasil retaliar na mesma medida, então teremos impactos mais significativos, pois dependemos de uma infinidade de produtos, principalmente de alta tecnologia, e que encareceriam nossa cadeia de produção.
AT – Quanto tempo em média é preciso para se criar um mercado externo novo?
Eloni Salvi – É muito variável, pois cada mercado tem seus processos, pois temos de levar em conta fatores como concorrência, barreiras comerciais, adaptações culturais, e vários outros fatores, mas é comum levar vários meses até que se embarque produtos para novos destinos, e não se pode esperar que seja muito menos do que um ano. E isto vale para os dois lados, pois as empresas americanas teriam de buscar novos fornecedores e, de tarifaço em tarifaço, o governo americano está deixando os empresários locais sem muitas opções.
Na nova determinação (após a entrevista acima), produtos ficaram fora do decreto assinado pelo presidente Donald Trump na quarta-feira