O que estamos vivendo hoje no Brasil, com crise jurídica, política, diplomática, cultural, econômica, fiscal não é uma realidade recente. Ela foi sendo alimentada há mais de três décadas e está cada vez mais escancarada e denuncia a fragilidade e gravidade do momento. Ninguém sabe ao certo para onde vamos. Enquanto grande parte do povo brasileiro vai para as ruas num espírito de defesa e reação pela soberania, poucas vezes visto, há também um movimento de enfrentamento de manutenção do sistema, que tem muito mais a ver com garantia de poder do que com democracia, justiça, responsabilidade e desenvolvimento social.
A quem atribuir a culpa ou responsabilidade pela situação que passa o país que está desmoralizado, em situação econômica grave e que tem números mascarados pelos dados governamentais? A situação só não é pior porque o Brasil é muito grande. Tem muitas riquezas. E tem um povo trabalhador. Mas é preciso dizer que a responsabilidade é de quem é francamente favorável ao sistema : deputados, senadores ( ao ponto de não permitirem a atuação da oposição de colegas), grande parte da imprensa, STF, empresas que vivem de contratos governamentais milionários.
Quando se fala em imprensa, é preciso destacar a atuação de profissionais que ao longo dos anos tem tido uma atuação coerente, corajosa, no sentido de expor opiniões e ideias baseadas nos fatos com análise mais aprofundadas e não aplaudindo até arbitrariedades. Um destes grandes jornalistas foi JR Guzzo, que faleceu no último sábado. Ele trabalhou em vários veículos de comunicação desde a década de 1960, e foi por muito tempo diretor de Redação da Revista Veja, quando comandou seu crescimento, tornando-a com uma das maiores tiragens do mundo. Ele acabou demitido da Veja porque já em 2019, escreveu um artigo que criticou o STF. Como jornalista, cobriu a guerra do Vietnã e contribuiu para debates em torno de liberdades individuais e democracia.
Em uma das colunas publicadas na Revista Oeste, que ajudou a fundar em 2020, o jornalista JR Guzzo, que faleceu na semana passada aos 82 anos, vítima de um infarto, escreve em seu artigo, intitulado ‘O tirano que sorri’, que transcrevemos parcialmente.
“…o brasileiro que trabalha vê seu salário ser corroído pela inflação, pela carga tributária, pelos juros descontrolados. Os que empreendem vivem cercados de regulações que favorecem apenas aos grandes conglomerados amigos do poder. A máquina estatal cresce, devora, impõe – e o povo sem saber para onde correr, afoga-se em parcelas, dívidas e narrativas.
Tudo isso com a bênção de um Supremo Tribunal Federal transformado em quartel ideológico. Nove ministros nomeados por Lula ou seu partido. Um Senado cúmplice, que não fiscaliza, pois muitos dos seus membros têm medo de serem julgados. Uma Câmara de deputados domesticada a golpes de emendas parlamentares.
E assim, a democracia se converte em fachada. As instituições continuam em pé. – mas, são casca oca. As leis existem – mas não se aplicam a todos. As eleições acontecem – mas com uma imprensa subjugada e uma Justiça Eleitoral que julga, executa conforme o cheiro do vento.
O resultado é uma sociedade entorpecida. Uma população explorada sem perceber. Um país saqueado, com assinatura, carimbo e cobertura jornalística favorável.
Não há paredões, mas há fome. Não há campos de concentração, mas há milhões de presos econômicos. Não há guerra civil, mas há destruição moral diária.
É o mesmo resultado dos velhos tiranos – mas com um método novo: a anestesia democrática.
…Lula convenceu o povo de que ele é o libertador, quando é o carcereiro. Se fez mártir com o dinheiro roubado. E governa em nome do pobre, que ele mantém escravo.
A história não é cega. Apenas paciente. E chegará o dia em que os livros a registrarão com clareza: não é preciso matar para destruir uma nação. Basta desmoralizá-la.
E nisso Lula é mestre.”
O artigo completo pode ser acessado pela Revista Oeste, que liberou de forma permanente e gratuita, todo o acervo de textos assinados pelo jornalista, desde a fundação em 2020. O conteúdo reúne reflexões políticas, análises econômicas e ensaios sobre cultura e jornalismo. O último artigo escrito pelo jornalista é “Monumento à Cegueira”. O artigo traz críticas e as classes intelectuais estão cada vez mais submissas a arbitrariedades do Governo Lula e Supremo Tribunal Federal.
Segundo a revista Oeste, a abertura do acervo tem como objetivo preservar o legado intelectual de Guzzo e ampliar o acesso ao pensamento de um dos principais jornalistas (articulistas) do País.
