Em Capitão, na localidade de Linha São Domingos, uma propriedade rural de 19 hectares, chama atenção não apenas pela geografia da área, organização ou pelos resultados que tem atingido, mas principalmente pela forma que vem sendo conduzida por seu administrador, o pecuarista Jonas Blautt, 36 anos.
Para permanecer no agronegócio, ele afirma que antes de qualquer coisa, é preciso gostar do que se faz. Ali o dia começa cedo, por volta das 4h da manhã.
Após o café, há um cronograma a ser seguido, “só assim o serviço rende”, garantiu. As vacas indo cedo para o pasto, se alimentam melhor, não estão confinadas, são colocadas em piquetes diferentes por meio do pastoreio rotativo, uma espécie de rodízio. E em todos piquetes, água e sombra permanente.
A preocupação com o bem estar dos bovinos da propriedade é percebida também na hora da ordenha, dona Jesualda, mãe de Jonas, auxilia nos trabalhos. As trinta e quatro vacas do plantel (sendo 25 em ordenha), são dispostas de forma escalonada, onde, em dias de muito calor, ventiladores e chuveirinhos deixam a sala de espera e sala de alimentação (galpão), com uma temperatura agradável, pois estresse e desconforto diminuem a produtividade do animal. O pai, João Pedro, ajuda na limpeza das instalações e cuida das rocinhas, onde planta um pouco de tudo.
Há mais de vinte anos, a propriedade é referência na produção de leite. Antes disso eram poucas vacas e todo leite era utilizado na produção de queijos. O primeiro resfriador adquirido era de 220 litros. Depois, substituído por um de 620 litros e hoje, de 1.550 litros. A produção que atualmente gira em torno de 670 litros, é destinada à empresa LATSUL de Anta Gorda.
Na propriedade, 15 hectares são utilizados com pastagem permanente, de diferentes variedades de grama. São sempre dois lotes de animais. O lote de alta produção sempre na pastagem melhor e mais próxima, as novilhas e vacas de menor produção acabam indo para piquetes distantes. Os piquetes são mantidos limpos e adubados com fertilizante químico ou com esterco dos próprios animais, que vai para uma fossa. São semeados apenas dois sacos de milho por ano (40 kg), todo ele destinado à silagem, que junto ao resíduo de cervejaria, ração, feno e sal mineral, complementam a dieta das vacas. A aplicação do herbicida é feita com drone, otimizando o trabalho de aplicação sem amassamento da planta.
Conforme o pecuarista, a maioria dos animais que fazem parte do plantel, nasceu na propriedade. Vaca gosta de rotina e, acompanhando o desenvolvimento do animal, supervisionando a criação, manejo, alimentação, reprodução e sanidade, é fácil perceber qualquer alteração de comportamento do animal, garantiu o jovem pecuarista.
É importante investir em prevenção
O foco é lucratividade, mas sem abrir mão da sanidade e bem-estar dos animais.
Jonas é inseminador e há 10 anos mantém um botijão de sêmen, assim, tem acesso aos melhores touros do mercado, aperfeiçoando a genética da raça Jersey. É responsável pela aplicação das principais vacinas reprodutivas e contra mastite.
Uma propriedade é diferente da outra. Rebanho, manejo e dieta variam bastante por isso a importância de se ter o acompanhamento de um bom profissional.
Há 7 anos o médico veterinário Augusto Beneduzi é responsável pelo manejo reprodutivo do rebanho, e há pouco mais de um ano, também pela dieta nutricional das vacas. Antes disso, a média de leite por vaca era de 18 litros, atualmente a média está em 27l vaca/dia, tendo chegado a 30 litros no fim de outubro. As visitas à propriedade são mensais e custeadas pelo produtor, da mesma forma as doses de sêmen e a manutenção do botijão. “É um investimento que compensa”, disse o pecuarista que faz questão de cuidar da parte administrativa, e contabilidade mensal, feita na ponta do lápis, ou melhor, no computador, afinal, a tecnologia anda junto com os bons resultados encontrados ali.
Visitando a propriedade, chama atenção o fato de não possuir trator… uma junta de vacas faz a tração da carroça. Nada impede de futuramente adquirir este implemento, disse o pecuarista, que não vê necessidade, neste sistema de produção, sendo mais vantajoso terceirizar o serviço de espalhar o dejeto líquido, plantio e colheita do milho.
Sobre os desafios, as intempéries, o clima, tem sido cruel com o setor, mas o que o deixa triste “é a pouca valorização do produtor rural por parte do governo do estado e principalmente a alta importação de leite pelo governo federal, de forma desleal, fazendo o preço final despencar para o produtor.
De acordo com Blautt, o período é um dos mais críticos dos últimos anos. O preço pago ao produtor vem caindo bastante nos últimos meses e o período de férias se aproximando, a tendência é continuar em declínio. A taxa de juros é alta para quem deseja investir na atividade e busca por financiamentos, e a cada ano, mais produtores deixam a atividade, e quando param não volta atrás, afirmou.
“É preciso achar maneiras de diminuir as perdas, por isso, a importância de se ter um controle financeiro da atividade. Só vai permanecer na atividade quem for mais eficiente e souber usar a tecnologia a seu favor. É preciso fazer o básico bem feito, lembrando que cada propriedade é diferente e nem todas precisam ou suportariam altos investimentos”, finalizou o pecuarista Jonas Blautt.



