Quando um filho nasce, nasce também uma mãe, que se recebeu amor e carinho, sabe dar, e se não, terá uma nova oportunidade, de aprender. Criar esse laço é uma forma de preencher vazios que ficaram, suavizar cicatrizes ou, fazer com que as feridas doam menos.
Se o universo conspirou para que um filho viesse até você, saudável ou não, de forma natural ou por adoção, ele foi planejado para você, merece amor e respeito.
Anelise (40) e Luciano Gabriel (44), são pais de Leonardo (12) o “Léo”, e Leandro (14), o “Lê”, dois meninos queridos, felizes e de uma energia inesgotável, porém em diferentes condições físicas. A família reside na Forqueta Baixa, Arroio do Meio.
Enquanto Léo joga futebol, corre, estuda, faz as lições escolares, anda de bicicleta pela rua e frequenta a casa dos amigos, Lê também tem uma agenda, mas bem diferente. Frequenta a APAE, vai na fisioterapia, fonoaudióloga… sempre acompanhado da mãe que demonstra um amor sobrenatural ao seu bebê que já é um adolescente, e que ainda toma mamadeira e usa fraldas.
Anelise conta que o filho nasceu saudável e aos 8 meses de idade, repentinamente após uma febre/convulsão, manifestou uma deficiência que exigiria cuidados especiais. Anelise, 26 anos na época, descobriu uma coragem que jamais imaginou possuir. Entre consultas, terapias, ajustes na rotina e dias difíceis, ela se tornou o abraço constante, o olhar atento e a voz que nunca desiste.
Ele é parte essencial da nossa família. Mas é importante dizer, ela nunca esteve sozinha. A família inteira aprendeu a incluí-lo em cada momento do dia a dia. Nas brincadeiras na sala, na cama ou no pátio, no almoço diário, nas viagens improvisadas, no litoral, em qualquer evento da comunidade ou fora dela, ele está sempre presente, não como alguém que precisa ser “carregado”, mas como parte essencial, com seu sorriso único e seu jeito próprio de estar no mundo. Num encontro festivo, quando os pais decidem dançar, nem é preciso pedir, logo alguém se prontifica e faz questão de ficar com o menino, que adora ambientes festivos, música e pessoas circulando.
Vi Anelise pela primeira vez quando Léo tinha uns 2 anos, percebi que era diferente. O que chamou atenção não foi ele, e sim ela, que o tinha no colo numa tarde muito quente de verão quando as crianças brincavam na piscina da casa onde estávamos. Anelise tinha Lê no colo e o distraia levando seguidas vezes até a água para molhar os pezinhos, sem descuidar do Léo, que usava boia e se divertia muito. Ela cuidava dos dois ao mesmo tempo que interagia com todos que estavam no local.
Ela continua assim, naquele dia nos tornamos amigas e desde então nos visitamos assiduamente. Na festa de primeira Comunhão de minhas filhas, lá estava a família Gabriel presente, e o Lê feliz com a música e tantas pessoas. Da mesma forma, participei da Comunhão do Léo, em função da enchente, não houve festa para o Lê, mas seus pais e irmão prepararam algo para a família.
Essa mãe, incansável, segue buscando caminhos para oferecer ao filho a melhor qualidade de vida possível. Acompanhamento médico com especialistas, participa de grupos de apoio, troca experiências e se mantém aberta ao aprendizado contínuo. Nesta caminhada, Leandro teve grandes avanços, consegue ficar sentado, seu vocabulário é limitado, mas costuma repetir gírias e expressões que ouve, até frases, com isso, provoca risos e deixa a mãe espantada com tanta esperteza.
Anelise nunca perdeu a fé. Junto a medicina, oração e espiritualidade, a fazem buscar um acompanhamento com um Médium. “Busco o que faz bem para ele, percebo que a cada visita, mesmo tendo que enfrentar uma longa viagem, geralmente de ônibus com um grupo, ou, de carro com a família, ele fica mais tranquilo e a gente também”, disse. Ela acredita que sempre há um passo a mais que possa ser dado, uma possibilidade de evolução, uma nova forma de conforto e cada conquista do filho é celebrada com entusiasmo, cada dificuldade, enfrentada juntos.
O amor desta mãe não é feito apenas de cuidado, é feito de esperança de quem luta, acolhe, protege e acredita profundamente no potencial do filho. Não há cura para ele, a família toda sabe disso, porém milagres podem acontecer.
Inclusão não é um gesto pontual, mas uma escolha diária: a de viver lado a lado, com respeito, alegria e pertencimento.



