Casa que foi referência na formação sacerdotal a partir da década de 1950
disponibiliza espaço para uso da comunidade com foco em educação e cultura
Localizado na entrada de Arroio do Meio, o Seminário Sagrado Coração de Jesus celebra neste ano 75 anos de fundação, consolidando-se como um dos mais importantes marcos religiosos e históricos do município. A instituição, voltada à formação de jovens vocacionados à vida sacerdotal, tem sua origem no final da década de 1940, período em que a comunidade local uniu esforços para erguer o prédio que se tornaria referência na região, atendendo ao espírito empreendedor do Monsenhor Jacob Seger, na época pároco de Arroio do Meio.
A construção do Seminário ocorreu em 1949. As pedras para os alicerces foram retiradas de uma pedreira no distrito de Forqueta, cerca de 10 km da obra. O restante do material foi trazido, em sua maioria, de Porto Alegre, através de navegação até o porto de Estrela. De acordo com relatos do falecido Ignácio Petry, nos sábados havia mutirão de voluntários. Muitos colonos com carroças, trazendo tijolos de diversas olarias, ajudavam a descarregar cimento e outros materiais. O valor da obra na época estava orçada em 340 mil cruzeiros, segundo relatos da revista “Seminário Sagrado Coração de Jesus – 50 ANOS”.
Foi inaugurado oficialmente em 5 de março de 1950, em cerimônia que contou com a presença do Arcebispo Dom Vicente Scherer (in memoriam), vigários paroquiais de diversas localidades e um grande público da comunidade arroio-meense. O momento foi marcado por confraternização e alegria, com destaque para o churrasco preparado pelo padre Lauro Oppermann para os participantes. Nesta data, o papa era PIO XII, o presidente da república, o General Eurico Gaspar Dutra, e o governador foi Walter Jobin.
A primeira diretoria administrativa do seminário contou com os seguintes nomes: Vigário Monsenhor Seger, Emílio Kaufmann (presidente), Frederico Waldemar Moesch, Jacob Alfredo Spohr, Pedro Edmundo Brentano, Beno Träsel, Theobaldo Bruxel, João Beda Körbes e o construtor Theodoro Beckmann.
PRIMEIRAS AULAS
As aulas iniciaram no dia 7 de março de 1950 com 92 seminaristas, sob a direção dos padres Guido Both e Hugo Wolkmer. Até 1959, o Seminário recebia alunos provenientes de municípios como Estrela, Muçum, Roca Sales, Guaporé, Casca e Porto Alegre, entre outros. Com a criação da Diocese de Santa Cruz do Sul, naquele mesmo ano, o espaço passou a acolher somente estudantes pertencentes ao território diocesano. E o número se manteve por muitos anos nesta média, de 80 a 90 rapazes a cada ano.
Nos primeiros anos de funcionamento, a manutenção do Seminário dependia amplamente do apoio da população arroio-meense, que contribuía por meio de festas comunitárias e doações de mantimentos, fortalecendo o vínculo entre a instituição e a comunidade local. A casa espiritual conduzia a rotina de todos os rapazes sob cinco dimensões importantes: disciplina, trabalho, oração, esporte e cultura.
Na dimensão da disciplina, desde cedo os jovens eram instruídos sob a importância do rigor do silêncio, do estudo e da seriedade. Na dimensão do trabalho o contato com a terra e com a natureza era inevitável naquela época. Os garotos auxiliavam no plantio de verduras, legumes, cuidavam de animais e tomavam banho de cachoeira. Na dimensão da oração os momentos eram rígidos, com missa todos os dias, período de oração e meditação à noite e reza do terço. Na dimensão esportiva o futebol de campo era o esporte mais praticado pelos seminaristas, goleirinha, jogos de vôlei, bilhar, ping pong e até carteado. Por fim, na dimensão cultural pode-se destacar o coral do seminário, declamação de poemas, peças teatrais, visitas às comunidades e projeções de filmes.
PADRES REITORES
Ao longo das décadas, o Seminário viveu períodos de transformações. Entre 1985 e 1986, as atividades foram temporariamente interrompidas. Em 1987, com a chegada do bispo Dom Sinésio Bohn (in memoriam), o Seminário foi reaberto sob a reitoria de Dom Gentil Delazeri (in memoriam), iniciando uma nova fase de atuação. Ao grupo de sacerdotes que contribuíram com o trabalho de formação somaram-se nomes como Pe. Edgar Heck (in memoriam), Pe. Avelino Dalla Vecchia (in memoriam), Pe. Beno Deimling (in memoriam), Pe. Reinaldo Reinehr (in memoriam), Pe. Alberto Hickmann (in memoriam), Pe. Erno Birck (in memoriam), Pe. Ignácio Pilz, Pe. Marino Bohn (in memoriam), Pe. Antônio Zeno Graeff, Pe. Vitório Scopel (in memoriam), Pe. Wunibaldo Wagner (in memoriam), Pe. João Valter Ghiel (in memoriam), Pe. Ilfio Theisen (in memoriam) , Pe. Marcelino Silvinski (in memoriam), Pe. Roque Hammes, Pe. Lúcio Hammes, Pe. Nelson Beuren, Pe. Seno Wickert, Pe. Aldo da Silveira, Dom Canísio Klaus, Pe. Luciano Schneiders, Pe. Francisco Haltenhoffen, Pe. Miguel Wagner (in memoriam), Pe. Beto Konzen, Pe. Joaquim Daniel Wendland, Pe. Leandro José Lopes, Pe. Rafael Stein, Pe. Renato Back, Pe. Laudenor Telöken, Pe. Rafael Toiller, Pe. Roni Osvaldo Fengler, e por fim, Pe. Fabrício Niederle.
BISPOS QUE FORAM ALUNOS DO SEMINÁRIO
Dom José Clemente Webber – Turma de 1950 – Foi ordenado bispo no dia 5 de junho de 1994, atualmente atua na Diocese de Santo Ângelo.
Dom Gílio Felício – Turma de 1965 – Foi ordenado bispo pelo Papa São João Paulo II no dia 3 de maio de 1998, em 6 de junho de 2018, seu pedido de renúncia foi aceito pelo Papa Francisco tornando-se bispo emérito de Bagé.
Dom Paulo Antônio de Conto – Turma de 1954 – Foi ordenado bispo no dia 15 de setembro de 1991, em 12 de fevereiro de 2024, foi nomeado pelo Papa Francisco como Administrador Apostólico de Cascavel, no Paraná.
Dom Canísio Klaus – Filho de Arroio do Meio. Turma de 1966 – Foi ordenado bispo no dia 21 de junho de 1998. Atualmente é bispo de Sinop no Mato Grosso.
Dom Gentil Delazari – Turma de 1954 – Foi ordenado bispo em 9 de fevereiro de 1994. Foi bispo Emérito de Sinop/MT e faleceu em 31 de outubro de 2022.
UM PAPA NO SEMINÁRIO
Esta é uma curiosidade relatada pelo saudoso professor Roque Bersch (in memoriam) em sua obra intitulada “Cultura, Sociedade e Igrejas”, lançada em 2016 pela Editora Univates. Bersch descreve como sendo, na época a única testemunha ocular do fato. O professor cita o momento como raro na história do Seminário Sagrado Coração de Jesus.
“O ano era 1975. Uma certa manhã em meio ao período de aulas, toca a campainha da portaria. A sala em que estávamos se situava ao lado da entrada do prédio. Não havia porteiro ou recepcionista. Sabendo que os padres presentes na casa estavam em aula, interrompemos por um instante os trabalhos para ir até a porta. Para a nossa surpresa, estava aí o Cardeal Dom Vicente Scherer acompanhado de outro cardeal que Scherer apresentou como sendo um colega cardeal em passagem pela Diocese de Santa Cruz. Resolveu incluir Arroio do Meio na rota. Scherer demonstrou muita pressa e dispensando os préstimos adentrou os corredores para mostrar o espaço ao colega. Voltamos ao nosso trabalho, que acabou distraindo a lembrança do episódio. O fato perdeu sua importância. Não havia recado a transmitir e sequer ocorreu de perguntar, no dia seguinte, se o arcebispo tinha encontrado algum dos padres. Entretanto, em nossa retina sobrou a lembrança da simpatia cativante no rosto do cardeal acompanhante, que fizera questão de nos estender a mão, “olho no olho”, bem diferente do estilo do arcebispo de Porto Alegre. Três anos depois, porém, a surpresa! O episódio voltou à mente, com cores vivas, quando o recém eleito Papa João Paulo I, assomou à janela do Vaticano em sua primeira aparição e bênção papal. Estavam ali, naquele rosto quase tímido, os traços afáveis e atenciosos do cardeal que acompanhava Dom Vicente Scherer naquela ocasião: ninguém mais, ninguém menos do que Albino Luciani”, descreve.
Sobre este papa, cabe lembrar que ele ficou apenas 33 dias no Vaticano. Com a morte de Paulo VI, foi eleito Albino Luciani, que logo deixaria a vaga para o polonês Karol Wojtyła, nomeado de João Paulo II. Reconhecido como Santo.





