Falta de rampas de acesso em comércios e prédios públicos da cidade dificultam dia a dia de deficientes físicos
O pouco investimento e a falta de estruturas adequadas transformam as principais vias de Arroio do Meio em verdadeiros obstáculos para deficientes físicos. Problemas nas calçadas e falta de acesso a prédios públicos e ao comércio são as principais reclamações de cadeirantes.
Na rua João Carlos Machado, principal via do município, a maioria dos prédios não possui acesso adequado para cadeirantes. A reportagem do AT verificou 100 estabelecimentos comerciais localizados entre o trevo de acesso da cidade e a rua Maurício Cardoso. Apenas 23 possuem acesso adequado para cadeirantes. Os demais 77 impossibilitam o acesso de deficientes.
Representando os comerciantes do Centro, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), João Fuhr, lamenta a situação. Ele confirma que inexiste, entre os proprietários de estabelecimentos comerciais, uma discussão mais efetiva sobre o assunto. “Falta sentar e conversar, pois está difícil reunir todos de uma vez. A solução talvez seria trabalhar quadra por quadra.”
Führ comenta que muitos lojistas “ainda não despertaram para este problema”. Diz que é preciso investimento, e que muitos comerciantes enfrentam dificuldades em função do alto preço do aluguel. “Como são muitos os gastos desses comerciantes, seria interessante alguma parceria entre Administração Municipal e proprietários. Quem ganha é o cidadão.”
Segundo o presidente, a própria CDL está falhando na condução desse assunto. Ele diz que é preciso maior envolvimento da entidade na discussão. “Reconheço que falhamos nessa parte, mas vamos nos mobilizar.”
“Cansei de reclamar e não ser atendido”
Há dez anos o ex-bancário Leonel Vicente Lange, hoje com 49 anos, viu sua vida mudar de forma brusca após um acidente doméstico. Ele retirava um arame preso em uma árvore, quando caiu sobre a cerca que divide seu terreno. A queda lhe custou uma lesão grave nas vértebras. Ele nunca mais voltou a andar.
Apesar das dificuldades, Lange mantém a tranquilidade. “Precisei me adequar às novas dificuldades, não adiantaria só ficar reclamando.” No entanto, o bom humor desaparece quando o assunto é a acessibilidade no Centro. “Prefiro nem comentar, já cansei de tanto reclamar e nunca ser atendido.”
Mesmo com a descrença por uma solução, ele cita os principais problemas enfrentados no dia a dia. Segundo ele, o desnível transversal das calçadas não é respeitado. “Isso pode trazer problemas para qualquer um, não somente para os cadeirantes.” Ele critica também as rampas para deficientes instaladas recentemente pela Administração. Diz que a maioria desrespeita a legislação, e não cumpre com as medidas de inclinação dispostas nas normas da NBR. “Não tem mistério, basta cumprir a lei e fiscalizar.”
Para subir as rampas ele precisa fazer força. Para descer, é preciso equilíbrio para evitar as quedas. A cadeira muitas vezes fica presa no concreto mal alinhado das rampas. “Uma hora não terei mais força, e daí, como fica?”, questiona. Ele lembra que o fato de ter comprado uma cadeira motorizada facilita em alguns momentos. Mas demonstra preocupação com outros cadeirantes. “Quem não tem condições de comprar fica a mercê dessa situação degradante. É humilhante não ter direito de ir e vir.”
Problemas em prédios institucionais
A falta de acesso para cadeirantes não ocorre somente no comércio central da cidade. Em prédios públicos e institucionais, a estrutura para deficientes é escassa. No Hospital São José, único do município, inexiste rampa de acesso na porta principal. O único acesso para usuários de cadeira de rodas é a mesma rampa utilizada por veículos e ambulâncias para deixarem pacientes na Emergência.
No prédio do Executivo o acesso principal é adequado para entrada de cadeirantes. Mas só para o primeiro andar. Com isso, nenhum cadeirante tem acesso, por exemplo, ao gabinete do prefeito. Localizada no segundo andar do pavimento, a sede da Câmara de Vereadores – chamada de forma popular como “casa do povo” – também impossibilita o acesso de deficientes.
As duas principais escolas também apresentam problemas. Tanto na Escola Estadual Guararapes, como no Colégio Bom Jesus São Miguel, existe apenas acesso para o primeiro pavimento dos prédios. Inexistem elevadores em ambos os locais. Também há problemas no Forum da cidade. Como inexiste elevador no prédio, o acesso para cadeirantes é restrito ao primeiro piso. Os problemas são amenos nas agências bancárias do município. A maioria se encontra adequada à legislação.
Rampas nas calçadas foram mal projetadas
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), apenas 4,7% das ruas do país possuem rampas de acesso. Em Arroio do Meio a realidade é semelhante. A própria Administração admite falhas nas rampas de acesso construídas recentemente nas principais vias do município, mesmo que tenha havido acompanhamento por parte do engenheiro. Responsável pela construção das rampas, o coordenador de Serviços Urbanos, Lauri Gasparotto afirma que os pedreiros contratados para realizar os serviços erraram nas medidas de inclinação. “Em 15 dias iniciamos as reformas nestes locais. No mínimo, precisaremos ajustar umas 12 rampas.”
Gasparotto informa que, em duas semanas, iniciam também a construção de novas rampas em diferentes pontos da área central. “O objetivo é seguir os padrões exigidos pela norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR.”
Precariedade também na zona rural
Tiago Ismael Leidens, 23 anos, mora na rua Júlio Schnack, Arroio Grande Superior, distante há cerca de 15 quilômetros do Centro de Arroio do Meio. O acidente que o deixou paraplégico aconteceu quando ele tinha 17 anos de idade. Ele voltava de moto de um casamento na comunidade da Cascata, junto com um grupo de amigos, em direção ao Esporte Clube União, de Arroio Grande, onde acontecia um baile. No trajeto, nas proximidades da propriedade de Irineu Müller, perdeu o controle e caiu.
O jovem não recorda maiores detalhes do acidente. Lembra que foi conduzido ao Hospital São José de Arroio do Meio, e logo após foi transferido para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital de Estrela. Leidens sofreu uma lesão na coluna. A vértebra perfurou a medula, provocando perda dos movimentos da região cervical, torácica, lombar e sacral.
Inexiste transporte coletivo adequado na localidade em que mora. Tiago depende somente de um carro adaptado, que adquiriu com 33% de desconto, graças a um incentivo do governo federal para deficientes físicos. Na propriedade onde reside, ele tem acesso a praticamente todos os locais, só depende de uma pequena ajuda para entrar no automóvel. “É na região urbana da cidade que encontro os maiores obstáculos.” Leidens se queixa da qualidade das calçadas, falta de rampas e principalmente do desnível do relevo. “Sozinho é impossível me locomover”, revela. Apesar dos obstáculos urbanos, Tiago Ismael está satisfeito com o atendimento prestado pela secretaria de Saúde do município.

