Há uma semana completei 53 anos. Eventos desagradáveis, paralelos à passagem da data comprometeram o que poderia ser “o brilho” da comemoração. Repito frequentemente a meus filhos que a idade nos tira muitas coisas boas, mas outras – estruturantes para atravessar a existência, se consolidam justamente nesta quadra da vida.
A repetição de circunstâncias muitas vezes tira a graça de algumas situações. Às vezes as surpresas são escassas, mas sempre há novidades. Afinal, é oceânica a diferença do mundo “da minha juventude” com os valores, conceitos, hábitos e preceitos morais que norteiam a atualidade.
Os filhos – sempre eles – desempenham o papel de link que impede que nós, jovens há mais tempo, fiquemos totalmente alienados em relação ao mundo onde a tecnologia reina absoluta, a exposição pública cria celebridades meteóricas e a privacidade é coisa de reacionário.
Como todo maduro que corre célere para a terceira idade, também tenho saudades de algumas coisas “da minha época”. Outras, no entanto, eram bastante sacrificadas para todos nós. Recordo dos gelados invernos quando pisávamos sobre geada para chegar à Escola Luterana São Paulo.
Nesta época, o fogão à lenha cumpria uma importante função até a hora de dormir. Deitar na cama, que parecia molhada, tão baixa era a temperatura, constituía um desafio desanimador. Aparelhos de ar condicionado eram ilustrações da Europa ou de revistas importadas.
A parceria de minha mulher alivia os fardos, e bálsamos para as feridas e me dá energia
Preocupados em proteger os filhos e poupar sacrifícios, muitas vezes criamos dificuldades para o enfrentamento das vicissitudes da vida adulta. Este equilíbrio talvez seja o maior desafio para nós, pais e mães. É preciso grande sensibilidade na aplicação da “teoria dos pesos e contrapesos”, onde é preciso ceder, mas às vezes é fundamental “esticar a corda”, cobrar, ser enérgico e intransigente na cobrança de certos valores.
Neste rito de passagem da juventude para a vida adulta, os professores desempenham um papel fundamental e desafiador. Muitas vezes sobra vontade para chamar alguns alunos às falas. Infelizmente poucos pais têm humildade em reconhecer que os filhos estão errados, faltando com o respeito, ignorando regras de convivência ou agindo de forma madura.
Me considero um homem realizado em termos familiares. Percalços são comuns, impedem a mesmice, criam armadilhas diárias e exigem esforço e preparo físico invejáveis. Já escrevi neste espaço minhas agruras nas madrugadas gélidas para buscar os filhos na balada. Seria mais cômodo contratar um motorista de táxi de confiança – hábito bastante comum aqui em Porto Alegre -, mas certas circunstâncias são visíveis somente quando estamos presentes. Isso é fundamental para avaliar formas, circunstâncias e intensidade dos fatos que presenciamos.
Todos os esforços têm valido a pena. A parceria de 25 anos com minha mulher, Cármen, é alívio de muitos fardos, bálsamo para cicatrizar feridas e uma espécie de gerador para levar a vida adiante.

