A Copa do Mundo opera milagres. Pelo menos lá em casa. Minha mulher, Cármen, normalmente detesta ver jogos de futebol pela tevê. No dia que o Inter sagrou-se Campeão do Mundo FIFA, por exemplo, ela ao invés de se juntar aos colorados da casa trancou-se à chave na cozinha.
Munida de ferro elétrico, encarou uma pilha de roupas. Assim que terminava de passar aquela montanha de jeans, camisas, camisetas, pijamas e toalhas, jogava tudo sobre a tábua, misturava e reiniciava o trabalho de passar as peças. Com esforço conseguimos convencê-la a abrir a porta, meia hora depois do histórico jogo onde brilhou o ídolo Adriano Gabiru.
Mas tudo muda na Copa do Mundo. Dez dias antes de o Brasil estrear diante da Croácia nossa sala ostentava balões verde-amarelos. Uma ruidosa corneta, sobrevivente do frustrado Mundial de 2010, reapareceu para o suplício dos vizinhos. Bastou começar o jogo para que toda família se postasse diante da televisão, devorando uma enorme bacia de pipocas.
No final de semana passado, o frio, a chuva e a umidade foram determinantes para que todos os jogos – sábado e domingo – fossem minuciosamente assistidos. Das 13h às 21h zapeamos por vários canais, curtimos os compactos, mesas-redondas e debates. No final da noite, não tive coragem de calcular o total de calorias consumidas na maratona.
Começou ao meio-dia quando preparei linguicinha defumada e pão com alho, o que antecedeu a picanha suína da Dália (a melhor!) e maminha tipo exportação. Depois tivemos bolo de chocolate, pipoca com melado, chimarrão, café, chocolate quente. No jantar preparei polpudas torradas, preparadas com pão cacetinho, muito queijo e rodelas de salamito italiano.
A cada Copa do Mundo nossa família se une diante da tevê. Como sempre acontece, nem tudo são flores. Temos debates acalorados, ásperas trocas de argumentos e não raro alguém sai para assistir o jogo no quarto. Mas todos torcem para o sucesso do Brasil neste Mundial.
Não ignoro os problemas que o país enfrenta. Mas é preciso admitir que muitas obras viárias em Porto Alegre só saíram do papel por causa do torneio. Ok, muitas estão atrasadas, o trânsito está um caos, mas todas as melhorias um dia serão integralmente entregues à população.
Milhares de empregos foram gerados. E milhões de reais foram desviados e estarão nas manchetes em breve. Mas a Copa do Mundo está viva e pulsante. Por isso, o melhor é aproveitar. Já foi o tempo em que o treinador da seleção era cabo eleitoral dos candidatos donos do poder.
O eleitor já amadureceu neste aspecto.

