Toda vez que estoura um escândalo que envolve determinado segmento fico duplamente triste. Primeiro ao constatar que esta verdadeira doença endêmica, chamada corrupção, não respeita idade, classe social ou ramo de atividade. Trata-se de um vírus que se proliferou de maneira tão profunda no tecido social brasileiro que parece difícil um antídoto capaz de conter o seu avanço.
No caso das adulterações do leite e de seus derivados, as barbaridades perpetradas contra o consumidor machucam de maneira mais profunda. Afinal, trata-se de uma atividade econômica de grande importância em nossa região que viabiliza a subsistência de milhares de pessoas em inúmeros municípios e pequenas comunidades.
Desde a primeira notícia da Operação Leite Compen$ado, deflagrada pelo Ministério Público estadual, as vendas dos produtos tiveram queda vertiginosa. As pessoas – receptoras da informação – nem sempre têm capacidade de discernimento para separar o joio do trigo. O resultado é uma generalização injusta e inverídica.
A confusão provoca perdas irrecuperáveis em uma atividade onde há anos os preços são insuficientes para cobrir os custos de produção. O agricultor se vê compelido a investir grandes quantias para obter competitividade para enfrentar a concorrência. Isso, por vezes, compromete a própria manutenção da propriedade e a aplicação em avanços tecnológicos.
As adulterações ameaçam o consumidor e toda a cadeia produtiva do leite, que permanece sob suspeita
As oscilações do mercado interno e externo, as loucuras do clima, os cenários econômicos criados artificialmente de olho nos êxitos eleitorais e a fuga de consumidores são armadilhas que o produtor rural enfrenta em seu dia a dia.
A adoção de artifícios ilegais para aumentar a produtividade que colocam em risco inclusive a vida dos apreciadores de produtos laticínios não é apenas um crime contra a saúde. É, também, uma ameaça a todo o segmento, cuja importância econômica e social jamais foi devidamente mensurada pelas autoridades nem tão competentes.
O único resultado positivo deste aparente desastre que atinge a produção leiteira do Rio Grande do Sul é a realização indireta de uma espécie de depuração. Os traumas, quem sabe, sirvam para mostrar que é preciso seriedade, investimento em qualidade e seriedade para rechaçar todo tipo de tentação a adulterar o produto.
Só assim teremos um leite acima de qualquer suspeita. Livre dos marginais que insistem na tese do lucro fácil, sem qualquer comprometimento com qualidade.

