Invejo as pessoas que conseguem mudar a rotina facilmente. É um sentimento pouco nobre, condenável. Mas sou humano, padeço deste mal. Nestas ocasiões costumo empregar uma expressão manjada: sinto “inveja branca”. Trata-se da “invejinha” daqueles que conseguem fazer alguma coisa que eu, apesar do esforço, não consigo atingir.
Há cerca de 15 dias dei uma guinada na minha vida profissional. Acostumado a levantar às 6h e sem gozar férias há anos, não é fácil dormir até mais tarde. O cachorro da casa, o maltês Fiuk é o único satisfeito com as mudanças. Ele esperava pela minha chegada, por volta das 20h, para o único passeio do dia, mas hoje desfila quatro vezes pelo bairro.
A felicidade de Fiuk foi um consolo até um amigo avisar: “Em breve ele vai encher o saco contigo em casa, cobrando organização, limpeza e outras chatices. E vai começar a rosnar pra ti!”.
Minha vida era organizada. Havia facilidade para encaixar compromissos inesperados graças às folgas previstas na agenda. Alterações bruscas me enchem de ansiedade, mal que me persegue vida afora. Costumo dizer que “morro de véspera” porque fico estressado bem antes dos compromissos, tenho suor e taquicardia diante de novidades.
Mesmo aos 55 anos, a vida sempre reserva novidades e mudanças de rotina
Entre as novidades fui obrigado a mudar de celular. Graças aos meus filhos e à minha mulher, porém, sempre tenho um socorro ao alcance rápido. A maior dificuldade foi transferir minha agenda – com cerca de 3 mil contatos – para o novo aparelho. A destreza do Henrique e da Laura, meus herdeiros, no entanto, soou como bálsamo para o emaranhado digital que teima em me torturar. Só com o tempo conseguirei pilotar o novo celular. Vou reclamar, espernear e blasfemar, mas depois darei razão à gurizada sobre as vantagens da troca.
Apesar do avanço, ainda não me animei a caminhar, fazer exercícios e dormir pelo menos oito horas por dia, jornada restrita à metade. Varo as madrugadas revendo filmes que já assisti umas 12 vezes. Me emociono outra vez com a cena do coronel Slade, o cego vivido por Al Paccino, que dança com maestria o tango Por Uma Cabeza, em “Perfume de Mulher” que revi dias destes.
Mesmo aos 55 anos sempre há novidades pela frente. Quase sempre despreparado, mas com o apoio da família, dos amigos e com a paciência do leitor – com quem partilho minhas agruras – cada obstáculo é superado. O final de semana esta aí. Que tal introduzir algumas novidades no seu dia a dia, hein?

