No feriadão de Finados minha filha de 21 anos foi ao Rio de Janeiro na companhia de uma amiga. A desculpa oficial era um show da banda Los Hermanos, que há poucos dias se apresentou em Porto Alegre. Segunda-feira à noite, sentado numa poltrona do Aeroporto Salgado Filho, refleti sobre as mudanças de comportamento das últimas décadas.
Laura adora a vida carioca. Curte intensamente as praias, bares e sempre que pode encontra o casal de amigos Carlos Vicente Petry – velho amigo de Arroio do Meio, a esposa Carolina Wist, e a filha Bibiana, que teve um bebê há poucos meses.
Este amor pelo Rio de Janeiro é agravado pelo compartilhamento da minha mulher, Cármen. Ela não perde a chance de aproveitar as oportunidades para decolar rumo a Copacabana, Ipanema, Leblon e aos arcos da Lapa.
As facilidades de viajar são uma realidade bastante diferente daquela enfrentada por nós, nascidos na década de 60. As comunicações eram precárias. As cartas – redigidas à mão ou com máquina de escrever -, nem sempre chegam ao destino.
As ligações telefônicas, precárias e demoradas, eram caras. Poucos possuíam um aparelho em casa. Recorriam aos postos da antiga estatal gaúcha CRT – Companhia Riograndense de Telecomunicações para ouvir a voz de amigos e familiares distantes.
Para nós, pais, os filhos sempre serão alvo de grandes cuidados
O advento da internet sepultou distâncias, aproximou amigos, permitiu o acesso a conteúdos inimagináveis. Pelo teclado – do computador e do celular – é possível descobrir novos destinos, reencontrar velhos conhecidos, reservar hotéis, comprar passagens aéreas e até ingressos para shows ou monitorar os voos. O mistério inexiste. Tudo está na rede mundial, personagem onipresente na vida moderna.
Neste universo interligado é difícil encontrar o equilíbrio entre o controle da vida dos filhos e a liberdade para crescer, fazer descobertas, aprender com as frustrações e amadurecer com os sofrimentos. A velocidade das mudanças é implacável conosco, pais cinquentões, premidos por novas tecnologias, modismos e costumes que se transmutam numa rapidez assustadora.
Viajar para o outro lado do mundo é coisa normal. A gurizada nem saiu do Ensino Médio e já tem planos de intercâmbio, experiência preciosa para o amadurecimento. Ao comparar a organização em países desenvolvidos, eles relutam em voltar. E quando isso acontece, iniciam o plano para fixar raízes “lá fora”. Lá proliferam as chances de começar uma vida nova e a injustiça social é menor.
É uma nova realidade. Promissora para quem começa a vida. A nós, pais, resta observar e palpitar de vez em quando, além de torcer para que as escolham sejam acertadas. As alternativas proliferam à medida que os filhos crescem. Algumas coisas não mudam, mesmo com a fora da avalanche tecnológica que arrasta tudo pela frente, tornando obsoleto – em poucos dias – as novidades.
Para nós, a gurizada será – sempre – um bando de crianças que precisam de cuidados, independentemente da idade. Eles fingem que ficam aborrecidos. E nós fingimos que ainda temos controle sobre eles. Na verdade, a autonomia de nossos filhos é motivo de alegria. E de certeza de que, afinal de contas, alguma coisa certa a gente ensinou para eles…

