Ser pai se assemelha a ser patrão.
Quando jovens somos iguais a um empregado de uma empresa. Ambos – jovens e trabalhadores – reivindicam sem cessar. A eles tudo é possível, depende apenas da vontade dos pais e patrões. Como tudo na vida, o tempo se encarrega de mudar conceitos.
Passado o período do colégio, a gurizada entra na faculdade. Ali gradualmente trava contato com o mundo real com as agruras do mercado de trabalho, crises e mudanças de rotina.
O trabalhador, cansado do dia a dia de subordinado, resolve empreender, abrir o próprio negócio, ser dono do seu nariz. É a largada para deparar com burocracia, tributação injusta, falta de apoio concreto, desafios para pagar as contas.
A velocidade das mudanças modernas aumenta as dificuldades para equalizar os princípios que nós – cinquentões – herdamos de nossos pais com as diretrizes desta geração que vive à velocidade da luz. A imposição dos valores que pavimentaram a nossa formação gera inevitáveis conflitos que afastam duas gerações que precisam conviver com um mínimo de fraternidade.
Encontrar o ponto de equilíbrio é motivo da insônia crônica dos pais. A “teoria dos pesos e contrapesos” precisa ser exercitada à exaustão. É preciso dar liberdade aos filhos, mas qual a medida exata? Ligar para saber onde e com quem estão, a que horas retornam soa como coleira que asfixia o caminho natural do crescimento.
A cada despertar novas surpresas aguardam pais e mães, cujo único objetivo é acertar
Já a ausência de limites – ou liberdade plena – produz adultos irresponsáveis, descomprometidos com os deveres inerentes ao amadurecimento etário e emocional. Esta postura também serve de desculpa para pais que rechaçam a rotina de conflitos frequentes, motivados por cobranças, fixação de compromissos e cumprimento de pactos mínimos de compromissos.
Além dos pais, os professores enfrentam todos os dias um contingente formado por jovens com uma imposição extra: educar. O equilíbrio é ainda mais ameaçador porque os educadores não dispõem dos mecanismos comuns dentro da família, como punições, ameaças ou possibilidade de aumentar o tom de voz.
Na sala de aula, o extrato social se compõe de pessoas ávidas por conquistas, turbinadas pelas incertezas típicas da idade. E de uma época em que a ostentação, o consumismo e a cultura do descartável criaram um estilo de vida difícil de compatibilizar com os valores que tínhamos há 20, 30 ou 40 anos.
A cada despertar, novas surpresas aguardam pais e mães que, independentemente do comportamento adotado, querem apenas acertar na formação de seus filhos. O que não é tarefa pequena…

