A semana de Natal se iniciou com uma notícia bombástica. A Operação Lava-Jato produziu uma série de notícias que surpreendeu o país. O Jornal Nacional, os informes da Globo News, as edições extraordinárias dos informativos de rádio e dos blogs/sites informaram prisões inimagináveis num Brasil onde a impunidade sempre foi marca registrada.
A bomba desta semana foi o boato – talvez já confirmado quando esta crônica chegar ao conhecimento dos amigos leitores – de que o “japonês da Polícia Federal”, codinome do agente Newton Ishii, deverá cumprir um mandado de prisão na longínqua Lapônia para deter o Papai Noel. Parece que Nestor Cerveró, com seu “olhar 43, aquele assim, meio de lado”, como cantava Paulo Ricardo, líder da banda RPM, subornou o bom velhinho e pelo menos quatro renas titulares.
Nesta segunda-feira, quando redijo esta coluna, a possibilidade disso acontecer era bastante grande. Pensem, prezados amigos, na quantidade de presentes que passam pelas mãos do homem de barbas brancas. Imaginem a quantidade de negócios com empresas de logística, fornecedores e indústrias que obriga a rotina do Papai Noel. E certamente surgiram propostas tentadoras que incluem, entre outros detalhes escabrosos, repasse de propinas em contas na Suíça, além de presentinhos suspeitos que exigem explicações legais.
Um renomado advogado, homem das leis da gelada Lapônia, certamente encontrará argumentos para contestar as acusações do até então inatacável bom velhinho. Pior que os estragos junto ao comércio, o fim da credibilidade dos festejos de Natal causará danos emocionais incomensuráveis junto às crianças, os maiores fãs da festa maior de dezembro.
A PF, a Justiça e o MP deram ao Brasil o maior presente das últimas décadas
Outra consequência da Operação Saco Cheio que causará frisson será o recolhimento do Papai Noel ao presídio de Curitiba, cidade que no futuro será conhecida como exemplo do cumprimento das leis. Sérgio Moro talvez saia do casulo e, ao contrário do que ocorre normalmente, comparecerá à entrevista coletiva para detalhar o cronograma que resultou na prisão de um homem até então acima de qualquer suspeita.
O Natal deste ano será marcado por uma mudança radical num conceito até então inquestionável: no Brasil, somente ladrão de galinha é preso, tem o nome publicado e a foto estampada nos jornais e noticiários de tevê. Personagens ilustres da economia, da política e do poder central passaram dos espaços nobres da imprensa para a editoria de polícia, em que brilham agiotas, assassinos, traficantes e todo tipo de marginais.
A Polícia Federal, a Justiça e o Ministério Público deram ao Brasil o maior presente das últimas décadas porque reacenderam em nós, pessoas de bem, a certeza que cumprir a lei vale a pena.

