Com estas três perguntas costumo infernizar a vida das mulheres da minha casa – minha esposa e minha filha, açoitadas pelo consumismo. Elas conhecem a minha relutância em adquirir, seja um par de meias ou uma camisa ou jeans. Deixo para ir às lojas quando não existem condições de utilizar as peças que estão no meu guarda-roupas.
Não se trata de pão-durismo, por favor, não me crucifiquem (ainda).
Trata-se de um misto de falta de vaidade com preguiça. Ir ao shopping, bater por diversas lojas, escolher várias peças, ir ao provador, tirar toda a roupa e ouvir o blá-blá-blá do vendedor (a) do tipo “ah… como ficou bem no senhor!”, marcar a bainha ou reduzir a manga das camisas torra minha paciência. No ano passado, ocorreu um episódio em que saí só de cuecas do provador, voltei para me vestir e fui embora. Tudo por causa da ânsia da balconista em empurrar uma pilha de roupas.
Esta falta de ânimo para ir às compras tem o lado ruim. A compra resulta no desembolso de uma quantia significativa porque é preciso comprar das cuecas – passando pelas meias, camisas, camisetas básicas (para uso no inverno) – até as calças. Em casos extremos compro jaquetas e/ou casacos e blusões, mas isso só acontece em ano bissexto. Puxa vida… lembrei que 2016 é bissexto!
Depois da incitação irresponsável ao consumo, as finanças dos brasileiros estão em frangalhos
Por mais de 20 anos usei terno e gravata. Ruim no verão, ótimo no resto do ano. Além de andar bem vestido, sempre, esta indumentária poupa o usuário de escolhas diárias, à exceção da camisa e, talvez, da gravata. De resto, pode-se usar a calça e paletó por mais de um dia, sem muito estresse para as combinações.
Há seis meses voltei a usar jeans e camisa no dia a dia, além de sapato, social ou esportivo. Esta mudança obrigou a um significativo investimento em roupas. Foi um enxoval completo, o que rendeu sonoras gozações das mulheres lá de casa.
– Ah… finalmente tu te rendeu, heim? Que rancho que fizestes! – debochou minha esposa quando entrei em casa sobraçando oito sacos carregadas de roupas.
A crise que assola o país obrigou cortes drásticos no orçamento de todos os brasileiros. Li que na recém-passada Páscoa, a queda na venda de ovos de chocolate chegou a 14%, dobrando a expectativa projetada pelo mercado. Ganhei um ovo, tamanho médio, e não comprei nada, o que me deixou envergonhado, mas é a vida.
Considerado um desestímulo às compras, as três perguntas que cunhei dentro da minha casa se transformaram, hoje, num mantra para milhões de brasileiros. Depois da incitação irresponsável ao consumo, as finanças familiares estão em frangalhos. Quando aquela coceirinha consumista chegar, vá para a frente do espelho e indague: É barato? Preciso? Vou usar?

