Morando há três anos no Brasil, o senegalês Bamba Samb conta que a vida em um país estrangeiro não é fácil, principalmente quando se é vítima de preconceito e discriminação. Ele vende capas para celulares, relógios, cintos, carteiras e alguns aparelhos eletroeletrônicos. Não por opção, mas por falta de uma oportunidade de trabalho que ofereça condições dignas de sobrevivência.
O senegalês conta que a indiferença e o preconceito racial não são a única barreira que enfrenta todos os dias na luta pelo sustento. Ele diz que o trabalho informal é visto por comerciantes legalizados como uma atividade criminosa que acarreta prejuízos não só ao comércio, mas a toda a sociedade, pois não retorna para a população em forma de serviços, e por isso deveria ser extinto.
Essa mentalidade dificulta ainda mais a vida do jovem de 24 anos que deixou seu país de origem em busca de oportunidade e de uma vida com melhores condições de sobrevivência. “Falaram-me que no Brasil havia trabalho e que aqui as pessoas eram alegres e tinham bom coração. Mas não é bem assim. Existe muito preconceito. Fico muito triste com a atitude de algumas pessoas”, afirma.
Morando em Lajeado com mais dois amigos, ele tenta viver um dia de cada vez, sem projeções futuras, pois a luta pela subsistência é diária. Por duas vezes teve seus produtos recolhidos por fiscais tributários de Lajeado, que não foram devolvidos. Lembra da terceira abordagem, na qual suas mercadorias não foram confiscadas, mas teve de pagar uma multa de R$ 620 na secretaria da Fazenda para a liberação dos produtos.
Cansado das abordagens dos fiscais tributários, ele tenta driblar a fiscalização, trabalhando em horários e dias fora do expediente dos servidores públicos a exemplo de sábados à tarde. Nos demais dias da semana trabalha em cidades próximas, especialmente naquelas que não há fiscalização. Assim não corre o risco de perder tudo. Porém, o gasto nesses locais é maior, pois há o custo com passagem, alimentação e hospedagem, fazendo com que o lucro seja menor. Há ainda o custo com moradia, que não é barato. O aluguel de R$ 600 é dividido com os dois amigos, também senegaleses, que moram em uma casa humilde da cidade vizinha.
A desconfiança do jovem, que pede para não ser fotografado chama a atenção. Num primeiro momento, não quer dar muitas informações sobre sua atividade. Talvez em função das situações enfrentadas no dia a dia e ao longo dos três anos vividos no Brasil. Porém, após 50 minutos de conversa, o jovem resolve confidenciar o quão difícil é a vida de um comerciante senegalês em um país estrangeiro. Já passava das 14 horas e Bamba havia vendido somente duas capinhas para celulares, o que corresponde a R$ 44. Sob o sol forte de um dia atípico de inverno, ele ainda não havia almoçado, em função da baixa procura por suas mercadorias. “O lucro foi ainda menor. Pois paguei por esse material. E ainda preciso descontar o dinheiro da passagem que custa R$ 6,20”, e complementa, “precisei pagar por uma garrafa de água que tomei há pouco. O lucro foi pequeno hoje”, finaliza.
Apesar das dificuldades Bamba continua insistindo, um dia após o outro. Nesta semana novamente estava em Arroio do Meio com suas capinhas de celular, na tentativa de ganhar seu sustento.


