Quando muito pequena, com apenas 10 anos, Franciele Cristina Martini ficava deslumbrada quando o irmão mais velho, que na época era caminhoneiro, desenhava veículos de carga. Eram caminhões, carretas e bitrens desenhados em rascunhos e em folhas de papel que faziam a pequena travesseirense, literalmente viajar, sem sair do lugar.
Era ele que alimentava o sonho, talvez inconsciente, da criança que nem imaginava um dia cortar o horizonte na boleia de um veículo de carga, tendo às suas costas 37 toneladas de grãos. Ela lembra que quando pegavam a rodovia para se deslocar a Lajeado e municípios próximos, ficavam juntos, admirando os veículos pesados que cruzavam sua janela. “Para mim aquilo era o máximo”, conta.
Entretanto o destino conspirou a favor e a admiração por motores e caminhões se intensificou quando na escola conheceu Diego Groders, com quem namorou e mais tarde casou. Diego queria ser caminhoneiro e, ao alterar a Carteira Nacional de Habilitação para carreta (categoria E), foi contratado por uma empresa para trabalhar como motorista, época em que convidou Franciele para pegarem a estrada juntos.
Ela não pensou duas vezes. Largou o emprego com renda garantida e se aventurou nessa viagem. “Fomos para o mundo. No começo não foi fácil, mas aos poucos fomos nos adaptando a uma rotina totalmente diferente daquela vivida anteriormente. Nas viagens ele começou a me ensinar a dirigir, foi quando decidi que era isso que queria para minha vida”, conta.
Diego e Franciele viajam para Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e toda a região Sul transportando soja, arroz, adubo e milho. A única exigência do casal é que as viagens sejam para os mesmos destinos, assim podem pegar o trecho juntos. Ela conduz um veículo de sete eixos que possui capacidade para 37 toneladas e Diego trabalha com um veículo com capacidade para 35 mil quilos.
Na atividade há apenas seis meses, Franciele revela que ainda está pegando a prática na direção. Lembra da primeira viagem como motorista profissional quando se sentiu realizada e muito feliz. Porém, não escondia a tensão que é normal para as primeiras viagens. “Sempre tive o Diego ao meu lado para ajudar e aconselhar nas manobras, entretanto nessa primeira viagem, estava sozinha na boleia. Essa tensão ocorreu nas primeiras horas da viagem, depois tudo passou e hoje superei todos os medos”, finaliza.
Franciele sabe que a estrada é cheia de surpresas e o perigo é constante. Por isso a atenção na condução do veículo é mais do que necessária. Para fazer uma boa viagem procura pensar positivamente e pede proteção a Deus para ela, o marido e também aos veículos. “Nunca penso em coisas ruins. Procuro pensar em coisas boas”, finaliza.