Esta é uma alegoria que vem da antiga Grécia.
Diz a lenda que havia um pastor de ovelhas chamado Giges. Ele era habitante de certa região da Lídia – atualmente, parte da Turquia. Um dia um terremoto abriu uma cratera nas proximidades do local onde pastoreava seu rebanho. Assombrado, Giges foi explorar o espaço novo e ali encontrou um guerreiro morto. O guerreiro tinha um anel no dedo. Giges pegou o anel e passou a usá-lo. Não demorou para perceber que o anel tinha poderes. Quando virava o engaste do anel para dentro, sucedia uma coisa extraordinária: Giges ficava invisível.
O pastor foi testando o anel em diferentes situações. Cada vez ficava mais confiante. Aquilo funcionava mesmo. Acabou por se introduzir na corte do rei. Descobriu segredos. Foi ganhando posições mais altas. O prodigioso anel facilitava tudo. Chegou ao ponto de seduzir a rainha. Passo seguinte, assassinou o rei. A história culmina com Giges se tornando o rei da Lídia.
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A história do anel de Giges foi recontada múltiplas vezes ao longo dos séculos. Ganhou novas versões. Filmes e livros trouxeram exemplos dos poderes de amuletos mágicos. Harry Potter, por exemplo, usa e abusa da capa da invisibilidade, em parte, imitando o anel de Giges.
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O que nos interessa na história de Giges é, principalmente, a oportunidade de fazer uma pergunta. É meio incômoda, por isso ninguém precisa dar a resposta em voz alta. A pergunta é:
– O que eu faria, se tivesse no dedo o anel de Giges?
Dizer que não faria nada diferente do que faz à vista de todo mundo, não vale. É bastante duvidoso que isso seja verdade…
Não por acaso, a humanidade desde sempre inventou mecanismos para fiscalizar aquilo que é feito a sós ou em grupos fechados. As câmaras de vigilância são um bom exemplo disso. Os Poderes constitucionais das organizações democráticas, idem. A ideia de Poderes diferentes com capacidade de uns limitar a atuação de outros se baseia na comprovada necessidade de restringir a autoridade e conhecer o que se faz quando ninguém está olhando. Também a imprensa desempenha esse papel de olheiro.
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O dia 7 de junho comemora o dia da imprensa livre e independente. Não dá para pensar que seja só mais uma data. É fato que a imprensa desempenha papel importante, para garantir a lisura das ações de pessoas e de organizações.
Repórteres têm capacidade de trazer à luz fatos que, não fosse isso, se manteriam ignorados.
Recentemente, uma matéria em jornal de Porto Alegre mostrou estoques de livros e de equipamentos eletrônicos esquecidos em depósito precário. O brutal desperdício de verbas públicas veio à luz por obra de uma reportagem jornalística. O alvoroço causado pela notícia mostra que sempre é necessário ficar de olho.
A imprensa livre e independente não deixa ninguém pensar que é dono de um anel de Giges.

